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Matéria de capa

Lágrimas para a humanidade

Sua experiência pessoal a preparou para a grande obra de sua vida.

Da edição de junho de 2002 dO Arauto da Ciência Cristã


Em agosto de 1907, o Dr. Allan McLane Hamilton dirigiu-se à entrevista com Mary Baker Eddy, entretendo “idéias claramente preconcebidas”, com o objetivo de declará-la mentalmente incapaz. O renomado especialista em doenças mentais havia passado um mês examinando o processo contra a Sra. Eddy, inclusive as alegações constantes da açāo judicial conhecida como “processo dos curadores”. A líder do movimento mundial denominado Christian Science, então com 86 anos, era acusada de ser incapaz de administrar tanto seus negócios pessoais quanto os de sua Igreja.

Contudo, a meia hora que o Dr. Hamilton passou com a Sra. Eddy em sua residência foi suficiente para mudar completamente sua opinião. Mais tarde, ele declarou ao jornal The New York Times que ela era inquestionavelmente lúcida, capaz e tinha perfeito controle sobre sua vida. Outra característica de Mary Baker Eddy impressionou o Dr. Hamilton: seu extraordinário altruísmo. Ele disse ao jornal que ela era “sincera em tudo [o que fazia], gastando seu dinheiro de forma desprendida, visando à perpetuação de uma igreja que, segundo ela entendia, [estava] destinada a desempenhar um papel importante no progresso da humanidade” (The New York Times, 25 de agosto de 1907, “Dr. Alan McLane Hamilton Tells About His Visit to Mrs. Eddy”).

Alguns dias depois, a Sra. Eddy teve uma estrondosa vitória no tribunal. Naquela ocasião, W. T. MacIntyre, do jornal New York American, a entrevistou novamente. Ele declarou que ela estava “no perfeito domínio de suas faculdades mentais e era um fenômeno, tanto física quanto mentalmente”. Tal como o Dr. Hamilton, ele ficara impressionado com o firme compromisso de Mary Baker Eddy para com a humanidade. Ele citou estas palavras da Sra. Eddy:

“Eu sei que minha missão é para toda a terra e não somente para meus queridos e devotos seguidores da Christian Science. Todos os meus esforços, todas as minhas orações e lágrimas são para a humanidade e para disseminar a paz e o amor entre os seres humanos” (New York American, 26 de agosto de 1907).

Essa compaixão pelo mundo todo não foi só um fenômeno dos últimos anos de Mary Baker Eddy. Quando criança, ela já demonstrava uma profunda empatia com as outras pessoas, e era muito sensível ao sofrimento delas. Sua solicitude ganhou força com o passar dos anos. Todo o sofrimento pelo qual ela passou quando jovem, em vez de fazer com que ela se tornasse uma pessoa amarga e sentisse pena de si mesma, só fez aumentar sua disposição de ajudar outras pessoas, de aliviar suas angústias e seus males. As provações que ela enfrentou em sua vida transformaram as lágrimas que poderiam ter sido derramadas em favor de suas próprias desventuras, em lágrimas pela humanidade.

Solicitude demonstrada por toda a vida

Com o passar do tempo, Mary demonstrou ter uma saúde bastante debilitada. Embora os problemas de saúde a tivessem obrigado a ficar durante meses sem sair de casa em certa ocasião, ela conseguia demonstrar afeição a todos que faziam parte de seu mundo na cidadezinha de New Hampshire: seus pais, irmãs e irmãos, colegas de escola e até mesmo aos animais que viviam na fazenda da família. Em casa, ela era a pacificadora, apaziguando as brigas entre os irmãos. Na escola, dava suas luvas, chapéu e casaco para as crianças que não tinham agasalho (ver Irving C. Tomlinson, Twelve Years with Mary Baker Eddy, Boston: A Sociedade Editora da Christian Science, 1994, pp. 3 - 4).

Sem dúvida, a maior das tragédias que Mary, ainda jovem, teve de enfrentar, foi o falecimento do marido, apenas seis meses após seu casamento. Ela e o saudável George Washington Glover estavam organizando sua vida em Wilmington, na Carolina do Norte, quando problemas financeiros abalaram os negócios que ele possuía no ramo de construção civil. Em seguida, George contraiu febre amarela e, dias depois, veio a falecer. Desolada, praticamente sem nenhum dinheiro e grávida, a jovem viúva fez a dura viagem de volta à casa de seus pais, acompanhada por um dos amigos maçons de seu marido.

Anos mais tarde, Mary Baker Eddy se lembraria da morte de George pensando se acaso aquela terrível perda não teria feito com que ela desenvolvesse a grande compaixão que sentia pelos outros, e que finalmente a levou à descoberta da Christian Science. Ela se perguntava: “A escuridão daquela meia-noite, que caiu sobre a grinalda de noiva, terá ela trazido a recompensa pela aflição humana, de acordo com o desígnio misericordioso do Amor divino, e terá ela ajudado assim a desenvolver aquela compaixão maior pela humanidade sofredora que está sendo por ela libertada, por meio dos raios matutinos e da glória resplendente da Christian Science?” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 190).

Mary Baker Eddy passou a ter um novo propósito de vida, que lhe consumia cada pensamento e cada açāo. Ela estava absolutamente convencida de que Deus a havia incumbido de ajudar as pessoas a compreender que a vida está em Deus.

Buscando a luz

Os anos que se seguiram foram árduos para Mary. Depois do nascimento do filho George, ela sentia tantas dores e tanta fraqueza que não conseguia tomar conta dele. Por essa razão, a família o confiou aos cuidados de um casal que morava perto. Na esperança de recuperar a custódia do filho, Mary casou-se com o Dr. Daniel Patterson, que era dentista. Seguiram-se anos de situação financeira difícil, agravamento dos problemas de saúde e finalmente traição por parte do marido. Sem seu conhecimento, alguns parentes mandaram o pequeno George para Minnesota. Ela não o veria novamente por mais de vinte anos.

Em meio a todas essas experiências difíceis Mary persistiu, com a esperança inabalável de que iria se recuperar. O objetivo de sua busca, contudo, não se restringia apenas a procurar melhorar as condições de sua própria vida. Cada vez mais consistia em ajudar outras pessoas. Ela estudava a Bíblia. Examinou o extenso volume intitulado Novo Manual da Prática Homeopática (New Manual of Homeopathic Practice) de Jahr. E quando as pessoas começaram a procurá-la queixando-se de suas doenças, ela as ajudava atenuando a composição dos remédios que elas estavam tomando. Posteriormente Phineas Quimby, que morava em Portland, e que fazia curas por meio da aplicação do mesmerismo, ajudou Mary a sentir-se melhor, pelo menos temporariamente. Então, ela aprendeu o que pôde com ele e apresentou seus conhecimentos em várias conferências públicas, algo que o próprio Quimby provavelmente jamais fizera.

Finalmente, em fevereiro de 1866, a busca e a pesquisa de Mary culminaram num momento radiante de elevação espiritual. Ela estava deitada na cama, sem saber o que fazer, após ter sofrido uma grave queda. De repente, ao ler a Bíblia, teve uma idéia revolucionária: de que sua vida estava em Deus. De que sua Vida, na realidade, era Deus. Com isso, ela se levantou da cama, vestiu-se e foi até a sala de visitas cumprimentar seus amigos, que ficaram muito surpresos ao vê-la.

A partir daquele momento, Mary passou a ter um novo propósito de vida, que virtualmente lhe consumia cada pensamento e açāo. Ela estava absolutamente convencida de que Deus a havia incumbido de ajudar todas as pessoas a compreender que a verdadeira vida delas está em Deus, é de Deus e para Deus. Ela escreveu posteriormente: “Essa breve experiência incluiu um vislumbre do grande fato que, desde então, tenho procurado esclarecer aos outros, ou seja, a Vida no Espírito e do Espírito, sendo essa Vida a única realidade da existência” (Miscellaneous Writings, p. 24).

Contando a história

Näo é mera coincidência o fato de que um dos hinos favoritos de Mary era “Eu amo a história” (Esse popular e tradicional hino cristão pode ser encontrado no Hinário da Ciência Cristã, Nº 414). Nos meses que se seguiram à sua recuperação, ela relatou a história dessa cura a vários amigos e conhecidos. Ela sentia no íntimo que o “princípio” que a havia curado não era válido apenas para ela. Ele estava ao alcance de todos. Ela sabia que precisaria de palavras para expressá-lo. Com o objetivo de entregar essa verdade ao mundo, sentiu-se impelida a encontrar essas palavras.

Assim, em pleno verão, mesmo tendo sido abandonada pelo marido em Lynn, cidade conhecida por suas fábricas de calçados, no estado de Massachusetts, ela estava escrevendo a história de sua descoberta, nas páginas e mais páginas que posteriormente ela descreveu como “balbucios infantis acerca da Verdade” (Ciência e Saúde, p. ix). Ela lia suas explicações para os amigos em voz alta, e comprovava suas descobertas curando. Entre inúmeras outras pessoas, ela curou um menino de uma deformidade no pé, ao vê-lo na praia de Lynn, e também sua sobrinha Ellen, de enterite.

As primeiras notícias sobre a descoberta de Mary espalharam-se como centelhas de luz partindo de uma pequena vela. Mas os raios dessa luz brilhavam com maior intensidade a cada dia. Aos poucos Mary atraía alunos de Lynn e de cidades das redondezas. Um deles foi Hiram Crafts, funcionário de uma fábrica de calçados, e outra foi Mary Gale, que havia sido curada de pneumonia. Cada uma dessas pessoas, por sua vez, curava outras, à medida que o raio da luz espiritual se espalhava.

Mas Mary percebeu que necessitava de algo que servisse de farol para fazer brilhar a luz que Deus havia lhe dado, de forma que essa luz fosse além do que poderiam alcançar sua prática pessoal e os ensinamentos que ela transmitia às pessoas. Esse farol, acreditava ela, precisava ser um livro. Mary começou a escrever um manuscrito que faria com que sua descoberta ultrapassasse as fronteiras de Lynn, da Nova Inglaterra, até mesmo dos Estados Unidos, e alcançasse o mundo. Ela trabalhou durante mais de três anos para registrar em palavras a revelação que tivera. Sem recursos, ela mudou de casa umas vinte e sete vezes enquanto escrevia. Ela foi ridicularizada devido às suas idéias radicais, mas seu grande amor pela humanidade fez com que ela seguisse em frente. Quando finalmente terminou o manuscrito, ela escreveu a uma amiga: “Eu apenas queria ser capaz de ... envolver o mundo todo no meu amor” (Robert Peel, Mary Baker Eddy: The Years of Discovery, Boston: A Sociedade Editora da Christian Science 1966, p. 230).

Ciência e Saúde, o livro que ela publicou em 1875, está permeado de amor. Em realidade, o Amor divino é a força motriz da Christian Science, nome que Mary Baker Eddy deu à sua revelação. O Amor é o que faz com que a cura aconteça. O livro explica: “Se o Cientista alcançar seu paciente pelo Amor divino, a obra da cura se realizará numa só visita, e a moléstia se desvanecerá, voltando ao seu nada inicial, como o orvalho sob o sol da manhã” (Ciência e Saúde, p. 365).

Esse Amor que cura não é um sentimento que algumas pessoas têm e outras não. É o Amor que todos podemos reivindicar. É o Amor que é Deus e que Jesus utilizava para curar. E é o Amor, conforme explicado em Ciência e Saúde, com o qual todos os filhos de Deus podem curar.

É o puro Amor que impulsionava a extraordinária série de atos que preencheram o restante da vida de Mary Baker Eddy, atos que viriam a assegurar que a mensagem infinitamente consoladora de Ciência e Saúde finalmente alcançasse todas as pessoas em todo o mundo.

Tudo para a humanidade e para toda a humanidade

A mais grandiosa de todas as realizações de Mary Baker Eddy, depois da publicação de Ciência e Saúde, foi a profunda revisão do livro, que ela levou avante nos 35 anos seguintes. O objetivo de cada uma das mais de 400 revisões que ela publicou sempre foi o mesmo, ou seja, fazer com que o significado do texto ficasse mais claro e mais acessível para o enorme número de leitores que haveria no futuro, no mundo inteiro.

Mary também foi a primeira editora de Ciência e Saúde, administrando a parte financeira, a impressão, a promoção e a distribuição de cada nova edição. No início, ela elaborava folhetos de propaganda sobre o livro, convencia os livreiros a manter um estoque dele, e enviava exemplares a bibliotecas em todo o mundo.

A princípio, os recursos de que dispunha eram escassos. Quem mais a ajudava era Asa G. Eddy, um exvendedor de máquinas de costura que tinha sido seu aluno em 1876 e com quem ela se casara no início de 1877. Juntos, lançaram uma série de iniciativas destinadas a alcançar o grande público. A Sra. Eddy proferia sermões regularmente em salões alugados. Ela e “um pequeno grupo de sinceros pesquisadores da Verdade” fundaram a Igreja de Cristo, Cientista em 1879 (Manual de A Igreja Mãe, p. 17). Seu esposo deu início às atividades de uma Escola Dominical para crianças. O ministério de Mary Baker Eddy foi transferido para o centro da cidade de Boston, onde ela estabeleceu a Faculdade de Metafísica de Massachusetts, com o objetivo de ensinar a cura espiritual.

Então, em 1882, o querido esposo da Sra. Eddy faleceu repentinamente. Ela ficou arrasada. Naquele momento, tudo o que pôde fazer foi refugiar-se em Vermont, na casa de alguns amigos chegados. Foi um momento de lágrimas, reflexão e oração. Mas, por fim, foi um momento de triunfo, o de se dedicar novamente à missão voltada para todas as pessoas do mundo. As lágrimas para a humanidade permitiriam que ela seguisse um único caminho: em frente. Ela retornou a Boston como aquela a quem uma biógrafa chamou de “A nova Sra. Eddy”, e continuou a liderar seu movimento rumo a um novo dia a serviço da humanidade (Gillian Gill, Mary Baker Eddy, Cambridge: Perseus, 1998, p. 293).

Naquele ano a Sra. Eddy se envolveu na publicaçāo de uma revista, lançando o primeiro exemplar do The Christian Science Journal. Ela não era apenas a editora, mas também a escritora principal. Essa revista foi um poderoso veículo para alcançar todas as pessoas com a mensagem da Christian Science, atraindo e aumentando o público de Ciência e Saúde. No final da década iniciada em 1880, Mary Baker Eddy havia publicado outra grande revisão de seu livro, tinha-se tornado uma pregadora popular em Boston e havia expandido sua Igreja para muitas cidades dos Estados Unidos.

Em 1889 ela dissolveu a Igreja e a Faculdade, com o objetivo de revisar Ciência e Saúde, reescrevendo-o para o público em geral. Quando a Sra. Eddy reorganizou a Igreja em 1892, esta refletia uma visão internacional nova, na condição de “A Igreja Mãe”, com um sistema de igrejas filiais em todo o mundo. E, durante a década seguinte, ela instituiu canais novos e ousados para atender às necessidades da humanidade, inclusive um conselho internacional de palestrantes, conhecido como Conselho de Conferências, e uma revista semanal intitulada Christian Science Sentinel.

As últimas lágrimas ... e o triunfo

A última década da vida de Mary Baker Eddy ofereceu a ela mais do que razão suficiente para chorar por seus próprios problemas, caso ela o quisesse. Alguns alunos desleais a afrontaram. O conhecido humorista e escritor Mark Twain travou uma contínua guerra de palavras contra a Sra. Eddy, embora mais tarde ele tenha admitido que, no íntimo, a admirava. A revista McClure e o jornal New York World dirigiram-lhe ataques em matérias sensacionalistas. O mais traiçoeiro de todos, representado por um consórcio de litigantes que incluía seu próprio filho, moveu uma açāo judicial contra ela chamada de “processo dos curadores”, questionando sua capacidade.

Mais do que nunca, porém, suas orações e lágrimas voltaram-se para todas as pessoas do mundo, em vez de serem derramadas por seus infortúnios. E suas açōes refletiram esse compromisso. Em 1903, ela publicou a primeira revista que não era voltada para pessoas que falavam inglês: Der Christian Science Herold, o Arauto em alemão. Em 1905, ela abriu o caminho para que alunos e professores universitários formassem as Organizações da Christian Science. Em 1908 ela fundou um jornal diário, o The Christian Science Monitor, com sua missão voltada para o mundo, a de “não prejudicar ninguém, mas abençoar a toda a humanidade” (Miscellany, p. 353). Em 1910 ela autorizou a tradução de Ciência e Saúde para o alemão.

Sim, o Dr. Hamilton tinha razão! O compromisso de vida de Mary Baker Eddy era o progresso da humanidade. Essa foi a norma que ela estabeleceu para si mesma e a norma que ela estabeleceu para os Cientistas Cristãos. Ter solicitude para com a humanidade. Viver pela humanidade. E deixar que Deus eleve as lágrimas desses Cientistas Cristãos, à condição de lágrimas para a humanidade.

Concord, 5 de maio de 1891

Sra. Clark
Minha querida Filha

Sua carta me trouxe refrigério. Mostra um progresso que realmente anima meu coração. Sim, eu li “nas entrelinhas” e então meu pensamento saltou o obstáculo e eu agradeci a Deus com uma alegria indescritível por uma aluna assim, e talvez por centenas. Ah, que recompensa pelo “cálice” é saber que Deus fez de mim, ou seja, de alguém tão humilde, tão insignificante aos meus próprios olhos — um instrumento para falar sobre Seu poder, Sua graça e Sua glória! Sim, minha querida, meu livro revisado está desenvolvendo a história do fermento. Eu sabia o que ele faria quando o estava escrevendo.

Com imenso amor,

Da sempre sua
MBG Eddy

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