: Melissa, como foi sua infância?
Melissa Bradley: Quando eu tinha dois meses, meu pai faleceu de repente. Minha mãe já tinha 40 anos, possuía um diploma mas, por ser negra, nunca conseguia empregos à altura de sua capacidade. Sem dúvida, vivíamos abaixo da linha de pobreza. Nos fins de semana, minha mãe fazia a limpeza em casas de famílias e eu a acompanhava. Era quando eu conseguia estar com ela e conversar. Não demorei a perceber a disparidade entre as casas que minha mãe limpava, onde todos eram brancos e o lugar onde nós e nossos vizinhos morávamos, onde todos eram negros. Lembro-me que uma vez eu perguntei à minha mãe: “Por que os negros são pobres e os brancos são ricos?” Ela respondeu: “Não é uma questão de cor, não. O problema é mais complicado.” “Quando eu crescer”, retruquei, “quero fazer alguma coisa para que os negros não sejam pobres.”
LL: Então, o que você pensava fazer?
MCB: Tinha projetos muito ambiciosos. Todas as vezes em que eu falava com mamãe sobre minhas ambições, ela nunca me desencorajava, sempre me dava apoio. Certa vez eu disse que queria ser Presidente dos Estados Unidos. Ela então me explicou como era o trabalho do Presidente, como funcionava o Congresso, o que era necessário fazer para chegar a ser Presidente dos Estados Unidos. Quando ela terminou sua explicação, eu decidi que não queria mais ser Presidente.
LL: Como foi sua experiência na escola e na faculdade?
MCB: Mudei muitas vezes de escola e sempre pertenci à minoria, porque a maioria dos colegas eram brancos e de famílias abastadas. Mas foram experiências que me prepararam para a vida. Aprendi a ver as coisas sob perspectivas diferentes. Na faculdade havia também os estudantes internacionais, de muitos países diferentes. E isso ampliou ainda mais meu horizonte.
LL: A espiritualidade teve algum efeito, na vida de sua família?
As experiências me prepararam para a vida. Aprendi a ver as coisas sob perspectivas diferentes.
MCB: Sempre houve um senso muito forte de espiritualidade, em nossa casa. Minha mãe sempre reconheceu que só conseguiu superar tudo com a ajuda de um poder maior. Freqüentei uma escola católica, por um tempo, mas ia à Escola Dominical de uma igreja presbiteriana. Minha mãe me obrigava a ir, mas isso foi bom, pois me deu uma base para desenvolver meus próprios valores.
LL: Como foi que você conseguiu chegar a uma faculdade renomada e pagar seus estudos?
MCB: Eu queria estudar Administração e Finanças e por isso entrei numa universidade que tinha renome nessas áreas. Tive de gastar uma boa parte do meu tempo no Setor de Ajuda Financeira, explicando minha situação econômica, até chegar a um plano que combinava descontos, financiamento, bolsa de estudo, e contra-partida em trabalho. Assim consegui me formar.
LL: Você orou para superar esses problemas?
Orei para superar os problemas, mas tive principalmente aquela fé inquebrantável de que algo muito maior do que eu estava me levando adiante.
MCB: Sem dúvida houve muita oração, mas tive principalmente aquela fé inquebrantável de que algo muito maior do que eu estava me levando adiante. Eu pensava que, se tinha conseguido entrar naquela universidade, era porque ali era meu lugar.
LL: Qual é o trabalho desenvolvido por sua empresa, New Capitalist?
MCB: O objetivo da empresa é ajudar pessoas que tradicionalmente são marginalizadas no mundo dos negócios, como os negros e as mulheres, a conseguir financiamentos, montar uma estrutura, constituir uma base sobre a qual desenvolver-se e firmar-se economicamente.
LL: Como foi que você chegou a isso?
MCB: Foi o fruto da minha própria experiência. Quando quis abrir minha primeira firma, fui a um órgão estatal pedir assessoria e financiamento. Disseram-me que eu não teria êxito porque tinha três fatores contra mim: eu era mulher, era negra e era jovem. Isso porém não me desanimou, porque minha mãe dizia: “Você sempre vai encontrar gente que lhe diz ‘não’, mas você deve seguir suas convicções”. Vi, porém, como é necessário ter algum apoio.
Nosso objetivo é assessorar em tudo no ramo de finanças, administração, como começar um negócio, etc. e depois deixar que as pessoas se desenvolvam por si. A meta da New Capitalist é catalisar recursos humanos, financeiros e sociais para que pequenas empresas e comunidades sejam economicamente sustentáveis e lucrativas.
LL: Como você chegou à idéia do TEDI — Instituto para o Desenvolvimento Empresarial, e como ele funciona, hoje?
MCB: Na minha universidade, promovia-se muito o trabalho voluntário e desde o segundo ano da faculdade eu participava de um grupo de voluntariado. Nesse grupo havia jovens negros e hispanos e conversávamos muito sobre abrir uma firma. Quatro amigos e eu, quando já tínhamos nossos próprios negócios, nos juntamos e montamos um programa de ensino para transmitir nossa experiência a jovens carentes. O programa era de oito meses e, na entrega dos certificados, os pais vinham perguntar quando começaria o próximo curso, porque queriam que os filhos participassem. Nessa altura eu vi que trabalhar com esses jovens estava me dando mais satisfação do que qualquer outra coisa. Assim decidi fundar o Instituto com meu próprio dinheiro e, mais tarde, conseguimos doações.
Assim começou o TEDI, em 1991. Agora somos chamados de muitas partes do país a dar esse curso. São escolas ou organizações que trabalham com jovens, que nos chamam e nós fornecemos o currículo e o material e treinamos os instrutores, gratuitamente. Só atendemos grupos, não jovens individualmente.
LL: Nesses onze anos, quais foram os resultados práticos?
MCB: Atendemos já mais de 15.000 alunos e aproximadamente 200 pequenos negócios foram abertos graças ao Instituto. A maioria dos negócios continua em operação depois de dois anos. Temos levado o curso a algumas casas de detenção de menores, para que os menores saiam de lá com alguma perspectiva diferente. Quando eu deixei a diretoria do Instituto, quem ficou no meu lugar foi um dos jovens que haviam feito nosso curso.
LL: Um adolescente que vende balas na rua também é, de certa forma, um pequeno empresário. Como ele poderia ampliar sua perspectiva?
MCB: Eu diria que ser empresário é uma maneira de pensar. O jovem que tem de ajudar a família precisa ser alerta e criativo. Há muitas coisas que ele pode fazer. Um dos desafios que temos no TEDI é que muitos adolescentes que vêm a nós já estão ganhando bastante dinheiro com o tráfico de drogas e outras atividades ilegais. Nós lhes mostramos que, tendo um pequeno negócio próprio, eles podem gozar de uma melhor qualidade de vida e, mais importante ainda, ter o controle da própria vida, em vez de serem controlados pelos chefes do tráfico. Isso traz muito mais satisfação do que meramente o dinheiro.
LL: Como reagem esses adolescentes quando vocês explicam a diferença entre vender drogas e ser um verdadeiro empresário?
MCB: Às vezes leva meses até eles entenderem. Normalmente a transição acontece quando ocorre um fato traumático, como perder um amigo num tiroteio. Aí eles dizem: “Não quero morrer assim. Vou começar a fazer outra coisa.” Muitos desses jovens que estão na ilegalidade não sentem orgulho por isso. O que eles acham é que não têm opção. Mas quando alguém lhes mostra outra opção, acabam fazendo o que eles sabem que é melhor.
O que as pessoas realmente querem, no fundo, é a felicidade e a paz interior.
LL: O que você diria a um jovem que està começando uma carreira?
MCB: Cuidado com o perigo de pensar que o importante é ganhar um montão de dinheiro. O que as pessoas realmente querem, no fundo, é a felicidade e a paz interior. Você precisa dar prioridade ao que é realmente importante.
LL: Como você relaciona a espiritualidade com suas atividades atuais?
MCB: Espiritualidade é o que eu estou fazendo. Consigo praticar o que eu prego. Meus valores estão presentes em meu trabalho. Consigo ter os momentos de reflexão para avaliar o que estou fazendo e que resultados estou obtendo. Quando ajudo um empresário, está presente um certo senso de fraternidade e também o desenvolvimento do domínio. Através de meu trabalho, consigo expressar meu amor pela vida. Considero-me realmente abençoada.
LL: Você ora?
MCB: Eu oro todos os dias, e leio textos bíblicos diariamente. Todos os domingos me reúno com outros para orar. Mas sei que não é necessário estar fisicamente em um determinado lugar para orar e aprender minhas lições espirituais.
LL: Que mensagem daria ao jovem que vai iniciar um emprendimento?
MCB: Pense em como quer que sua vida seja, realmente. Pense no que realmente deseja deixar para seus filhos. Faça com que sua vida e sua atividade se concentre em algo em que você realmente acredita. Assim sua chance de êxito será muito maior.
