O segmento anterior desta série que comemora o centésimo aniversário do O Arauto da Christian Science, enfocou o início da publicação, em 1903, da edição do Arauto em alemão, bem como a decisão de traduzir para o alemão a principal obra de Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde. Esses passos importantes abriram o caminho para a Sociedade Editora da Christian Science dar início a uma missão internacional de cura que continua até hoje.
Quando um livro assume o papel principal na apresentação da verdade espiritual, a proteção de seus direitos autorais é muito importante. À medida que Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras começou a se tornar conhecido fora das fronteiras dos Estados Unidos, mais pessoas ficaram interessadas em publicar as traduções que elas mesmas haviam feito desse livro. Se a questão dos direitos autorais sobre a propriedade intelectual atormenta hoje as pessoas cujas obras são pirateadas, imaginem como era difícil lidar com esse assunto no início de século XX, quando os transportes e as comunicações eram muito menos rápidos e acessíveis.
Em 1914, quando o Conselho de Fideicomissários, estabelecido segundo determinação de Mary Baker Eddy e detentor dos direitos autorais das obras da Sra. Eddy, soube que várias pessoas estavam empenhadas em publicar suas próprias edições de Ciência e Saúde em inglês e em outros idiomas, imediatamente tomou as devidas providências. Os Fideicomissários foram informados de que, para proteger os direitos autorais do livro da Sra. Eddy nos diversos países, eles deveriam continuar publicando traduções oficiais de Ciência e Saúde para o francês e para outros idiomas.
As três pessoas escolhidas para fazer a tradução do livro para o francês foram Williamson de Visme, que mais tarde se desligou do projeto, Caroline Getty, praticista e professora da Christian Science e Alice Tournier. Em 1917, quando a tradução já estava em fase avançada, a Sra. Getty e a Srta. Tournier foram convidadas a concluir o trabalho nos Estados Unidos, pois isso ajudaria a resolver algumas das questões finais que ainda estavam pendentes.
Enquanto as duas senhoras se encontravam em Boston, William D. McCrackan, um dos redatores adjuntos das publicações religiosas, escreveu ao Conselho de Diretores da Christian Science para solicitar a criação de uma nova edição do Arauto, desta vez em francês. Ao se referir à tradução em francês de Ciência e Saúde, que estava sendo elaborada, o Sr. McCrackan disse: "Estou profundamente convencido da necessidade de se fazer esse trabalho prontamente e de se dar ao maravilhoso povo francês o que ele tanto deseja.
Ao mesmo tempo, penso que, se possível, eles deveriam ter uma publicação em francês nos mesmos moldes do Der Herold em alemão. Agora, quando temos conosco essas senhoras que vieram de Paris, talvez seja o momento ideal para darmos início a um periódico desse tipo, caso os senhores acreditem que é chegada a hora de ele surgir."Memorando de William D. McCrackan ao Conselho de Diretores da Christian Science, 1 de fevereiro de 1917. Arquivos de A Primeira Igreja de Cristo, Cientista.
Poucos meses depois, o Conselho de Fideicomissários da Sociedade Editora da Christian Science concordou com McCrackan no sentido de que a edição em francês do O Arauto da Christian Science seria "algo excelente para ser publicado ao final da guerra (Primeira Guerra Mundial)". Atas de reuniões dos Fideicomissários da Sociedade Editora da Christian Science, 18 de abril de 1917. Arquivos de A Primeira Igreja de Cristo, Cientista. Eles recomendaram que a revista apresentasse o idioma inglês de um lado e o francês do outro, ou seja, o mesmo formato adotado ainda hoje para todas as novas traduções de Ciência e Saúde. Antes disso, a edição em alemão do Arauto tinha apenas o texto em alemão. A recomendação de o idioma inglês aparecer na página oposta à do idioma "estrangeiro" iniciou um período bilíngue para todas as versões do Arauto, que durou décadas. Somente na década iniciada em 1990 é que o idioma inglês deixou de ser incluído nas revistas. A razão da mudança foi o reconhecimento de que a apresentação nos dois idiomas era um empecilho para que os leitores das áreas alcançadas se identificassem com as publicações e para que estas tivessem a utilidade desejada.
Enquanto continuavam os estudos para a produção de uma nova edição da revista, intensificavam-se os ataques de submarinos alemães aos navios americanos. Em agosto de 1917, as tradutoras estavam literalmente retidas em Boston, porque parecia muito perigoso viajar, e elas não conseguiam autorização para voltar para a França. Devido a essas complicações, o Conselho de Diretores recomendou que os Fideicomissários fizessem uso dos serviços das tradutoras, solicitando que elas traduzissem para o francês alguns folhetos que poderiam ser distribuídos entre os soldados nos Estados Unidos e na França. Memorando do Conselho de Diretores da Christian Science aos Fideicomissários da Sociedade Editora da Christian Science, 27 de agosto de 1917. Arquivos de A Primeira Igreja de Cristo, Cientista.
Apenas alguns meses depois, em novembro de 1917, o projeto para a criação da edição em francês do Arauto já estava bastante adiantado. Além de artigos, editoriais e testemunhos de cura, a nova publicação incluía as Lições Bíblicas produzidas pela Sociedade Editora da Christian Science para o estudo individual e para os cultos dominicais em todas as igrejas da Christian Science. Mais tarde, essas lições passaram a ser publicadas em outra revista, chamada Livrete Trimestral da Christian Science.
Em janeiro de 1918, a revista chamada Le Héraut de la Christian Science fez sua primeira aparição. A edição em francês surgiu em meio à carência associada aos períodos de guerra. Havia falta de recursos materiais, como papel e tinta, e também de pessoal para produzir as revistas, pois muitos homens estavam em combate.
O primeiro número da revista começou com o artigo "Princípio e Prática", escrito pela Sra. Eddy e publicado anteriormente no Christian Science Sentinel. Em seguida, havia o relato envolvente de uma mulher que havia orado, quando o navio em que ela estava com o marido tinha sido atingido por um torpedo. O leitor contemporâneo, ao ler os detalhes do relato, pode identificar um paralelo com algumas das histórias contadas por sobreviventes do Titanic. Ver Ida E. Beer, "Love never faileth" (O amor nunca falha), The Herald of Christian Science, janeiro de 1918, pp. 2–4. Esse testemunho da proteção divina pode ter sido uma mensagem de confiança para as tradutoras, que ainda precisavam cruzar o Atlântico a fim de voltar para casa.
Outros artigos, nesse número, tratavam de vários aspectos da cura. A contribuição enviada por um soldado da linha de frente, que narrava suas experiências nas batalhas de Ypres, na Bélgica, e em outras, mostrava claramente as condições que os soldados tinham de enfrentar na Primeira Guerra Mundial. As afirmações dele sobre espiritualidade têm uma extraordinária autoridade, porque ele está escrevendo no meio da guerra, a partir de sua própria experiência. Ele diz: "Há um lugar numa estrada bem conhecida aqui, que leva às trincheiras, o qual é chamado de 'Esquina do Inferno'. Bem ... nós temos de passar por essa esquina todas as noites com o destacamento uniformizado e aparelhado. Eles sempre bombardeiam essa esquina em alguma hora da noite, e ninguém sabe em que momento as bombas serão lançadas. Quando eu chego perto desse lugar, ao invés de pensar nisso e de ficar aguardando as bombas a qualquer instante, eu sempre penso que essa é a 'Esquina do Amor', pois eu sei que o Amor está lá, assim como está em qualquer outro lugar do mundo, e Deus não está mais em um lugar do que em outro, porque Ele preenche todo o espaço; portanto, não há lugares perigosos para a idéia de Deus." Ver Reginald Lavery, "Truth's Sustaining Power" (O Poder Sustentador da Verdade), The Herald of Christian Science, janeiro de 1918, pp. 7–10.
A revista também incluía quatro editoriais, sendo que dois deles tratavam diretamente de aspectos relacionados com as condições enfrentadas em tempos de guerra. A natureza internacional da revista foi reforçada por testemunhos provenientes da Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Noruega, Holanda, Suíça, Suécia, Austrália, África do Sul, Índia e Estados Unidos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os problemas enfrentados pelos Cientistas Cristãos na França foram abordados em diversos números da revista em francês. Mas logo depois de a Alemanha invadir a França, o povo foi privado de muitas liberdades. Como já havia acontecido na Alemanha, Cientistas Cristãos foram levados para campos de concentração; porém, muitos deles, mais tarde, foram libertados sãos e salvos. Igrejas foram fechadas e foi proibida a circulação do Arauto e do Livrete Trimestral da Christian Science — Lições Bíblicas Semanais. Mas o controle sobre as vida das pessoas não foi tão rígido na França como foi na Alemanha.
Depois da Segunda Guerra, floresceu o interesse pela religião; as igrejas reabriram para um grande número de pessoas que estavam em busca de respostas espirituais. A Christian Science também começou a se propagar em outras áreas onde se falava o francês. Entre elas temos o Congo que, naquela época, ainda estava sob o domínio colonial da Bélgica. Em 1958, um homem chamado Monkoy Albert, fez uma viagem de navio entre Kinshasa (na época Léopoldville) e Kisangani (então Stanleyville) na região do Alto Congo. Um passageiro sul-africano deu a Monkoy um exemplar da edição em francês do O Arauto da Christian Science e Monkoy, após ler a revista, começou a se corresponder com o seu contato na África do Sul.
Em 1959, Monkoy reuniu alguns amigos em Kinshasa para realizar cultos de oração. Os participantes não tinham nem exemplares do Livrete Trimestral da Christian Science nem do Manual d'A Igreja Mãe, que teriam fornecido orientação para a constituição de uma igreja filial. Eles também não tinham um fornecimento regular de Arautos. No entanto, eram relatadas curas maravilhosas. O Sr. Monkoy frequentemente atendia pedidos de oração para os outros que, por sua vez, eram curados de seus problemas. Suas atividades de cura atraíram a atenção do governo colonial da Bélgica e ele foi preso diversas vezes. Por essa e por outras razões, o grupo continuou a realizar cultos de oração secretamente, até 1962. Por não conhecerem a ordem dos cultos nas igrejas da Christian Science, eles adotavam uma série de práticas tradicionais africanas, inclusive com velas e luzes vermelhas.
Então, em 1962, um diplomata americano que também era Cientista Cristão, visitou todos os membros do grupo, individualmente, fornecendolhes maiores explicações sobre a oração e sobre os ensinamentos da Christian Science. Isso fez com que o grupo se reorganizasse entre 1963 e 1964.
Em 1987, a introdução da edição radiofônica do Arauto em francês teve um enorme impacto nas atividades d' A Igreja Mãe em todo o mundo, principalmente nos países da África onde se falava francês. Em muitos países, viajar era difícil e perigoso e, por isso, o uso de aparelhos de rádio de ondas-curtas foi (e continua sendo) muito difundido. Entre esses primeiros ouvintes do programa em ondas-curtas, estava Emmanuel Moukouangala, pastor de uma igreja protestante. Ele ficou tão interessado que acabou deixando a sua função de pastor e tornou-se Cientista Cristão. Embora as pessoas estivessem estudando a Christian Science na região do Baixo Congo desde o início da década iniciada em 1970, o interesse do Pastor Moukouangala despertou uma significativa atividade nessa região. Desde essa época, tem havido um constante crescimento desses grupos.
A Christian Science foi introduzida no Togo em 1983, através de um Cientista Cristão refugiado de Gana, chamado E. B. Millis. O Togo é um pequeno país, predominantemente católico e protestante no sul, e muçulmano e católico no norte. Em 1983, A Igreja Mãe começou a enviar periódicos a um pequeno grupo de Cientistas Cristãos que havia lá. Esse grupo tem apresentado crescimento permanente. Nos últimos anos, graças ao programa de rádio em ondas-curtas do Arauto em francês, muitos ouvintes interessados em saber mais sobre a Christian Science têm recorrido à Sociedade da Christian Science em Lomé, no Togo.
Apesar de parecer que a apresentação gráfica e o formato da edição em francês do Arauto ficaram estagnados por um certo período, como aconteceu com a edição em alemão, os programas em ondas-curtas em francês, por serem dinâmicos e inspirativos, trouxeram esperança para literalmente milhares de ouvintes. Na década de 1990, uma total remodelação do Arauto redundou em edições impressas mais agradáveis à leitura, mais vivas e coloridas. Assim, na medida em que os programas de rádio estimulavam o apetite dos ouvintes por um alimento espiritual mais profundo, muitas pessoas naturalmente optaram também por fazer assinaturas da revista. Atualmente, os países africanos com assinantes ativos da edição em francês do Arauto, são: República dos Camarões, Costa do Marfim, os dois Congos, Quênia, Ruanda, África do Sul, Togo, Zâmbia, República da África Central, Burkina Faso, Benin, Angola, Burundi, Gana, Senegal, Uganda, Suazilândia, Chade e Malavi.
Atualmente, graças à crescente participação internacional de pessoas que falam francês, as edições radiofônica e impressa do Arauto dirigemse a uma grande audiência, desde o sofisticado parisiense, ao comerciante na República dos Camarões, passando pelo estudante em Québec, no Canadá, e pelo soldado que está montando guarda em Ruanda.
No próximo mês: Rumo ao Norte: O Arauto na Escandinávia
ALGUNS ACONTECIMENTOS MUNDIAIS IMPORTANTES
1910
• É abolida a escravidão na China.
• A Coréia é anexada pelo Japão.
• Portugal torna-se república.
1911
• Queda da dinastia Manchu; é proclamada a República Chinesa sob o comando do Presidente Sun Yat-sen em 1912.
1911–1912
• Guerra entre a Itália e a Turquia.
1912
• É anunciada pela Sociedade Editora da Christian Science a tradução para o alemão de Ciência e Saúde, com o texto em inglês confrontando o texto em alemão.
• O Titanic bate em um iceberg e afunda em Newfoundland, Canadá
• É publicada a tradução para o alemão de Ciência e Saúde.
1912–1913
• Guerra dos Balcãs
1913
• A Noruega é o primeiro país europeu a conceder o direito de voto às mulheres.
1914
• Começa a Primeira Guerra Mundial.
• É aberto o Canal do Panamá.
1915
• A revisão constitucional da Dinamarca concede o direito de voto às mulheres.
• O transatlântico Lusitânia é afundado por um submarino alemão; primeiro ataque do Zepelim sobre Londres.
1917
• Começa a Revolução Russa; o Czar Nicolau II e sua família são executados em 1918; a guerra civil continua até 1920.
1918
• São lançadas a edição em francês do O Arauto da Christian Science e a tradução para o francês de Ciência e Saúde.
• A Primeira Guerra Mundial termina em novembro.
1919
• Benito Mussolini funda o Partido Fascista na Itália.
• O Tratado de Versailles planta a semente da Segunda Guerra Mundial.
1920
• É fundada a Liga das Nações.
