Após a segunda gravidez, deixei meu trabalho como psicóloga. Enquanto estava em casa, meu marido, percebendo minhas habilidades e interesse em trabalhar, sugeriu que eu desenvolvesse meus talentos. Durante dois anos fiz jogos para crianças de 4 a 8 anos, em casa, e depois abri uma empresa. Mantive-a durante dez anos, sendo que nos últimos quatro meu marido passou a trabalhar comigo em período integral. Criávamos brinquedos educativos e livros infantis. O trabalho foi se desenvolvendo e chegamos a ter em torno de 300 clientes em todo o país.
No final da década de 80 e início de 90, o Brasil passou por mudanças políticas e uma forte crise financeira abalou pequenos e médios empresários. Havíamos feito planos para a ampliação dos negócios na empresa e fomos fortemente atingidos. Perdemos quase 70% dos nossos clientes. No final de 1991, sentimos que o quadro iria se agravar, por isso dispensamos os funcionários e fechamos a empresa. Conseguimos pagar as indenizações, mas ficamos em débito com alguns fornecedores e com o galpão que alugávamos, mas entregamos as chaves desse imóvel em juízo.
Gastamos nossa herança. Fizemos empréstimos. Vendi as jóias que tinha, carro, telefone, tudo para pagar as dívidas. Certo dia, recebemos uma intimação judicial que nos dava um prazo de poucos dias para pagar uma quantia altíssima, que incluía vários meses de aluguel do galpão, após ter sido desocupado. Minha advogada sugeriu que vendêssemos o apartamento, o único bem que nos restava. Nesse momento eu me rebelei: "Eu não consinto em perder mais nada. Não posso permitir que meu lar seja destruído."
Meu marido e eu passamos aquela noite orando para ver qual seria a resposta de Deus para nós. Pela manhã, eu disse: "Não vamos vender o apartamento! Eu vou conversar com o proprietário do imóvel." Eu sabia o nome dele e da rua onde morava, mas não tinha o número da casa. Peguei um ônibus e fui orando. Quando cheguei lá, pedi a Deus que Ele me guiasse até a casa certa. De repente, senti que deveria parar em frente a um prédio. Vi um rapaz abrindo os portões da casa em frente a esse prédio. Corri até ele, disse-lhe o nome do dono do galpão e perguntei-lhe se a casa era daquela pessoa. Ele disse: "É, sim. Eu sou motorista e vou levá-lo para o escritório." Disse-lhe que precisava conversar com o patrão dele.
Passados uns 10 minutos, o patrão veio me atender, com a esposa e outro empregado da casa segurando quatro cães. Não abriram o portão. A primeira coisa que eu lhe disse foi: "Meu nome é Naida Goebel e sou sua devedora. Eu vou lhe pagar, só não lhe paguei ainda porque não tive condições. Perdi os bens que tinha e para lhe pagar, teria de vender o apartamento onde moro com minha família. Vi que essa não é a solução. Eu não posso ficar sem teto.” Ele, então, pediu ao empregado que levasse os cães para dentro e abriu o portão. “Mas a senhora deveria ter devolvido o meu imóvel. Eu poderia estar recebendo o aluguel de outra pessoa,” respondeu. “Mas o seu imóvel não está comigo. As chaves foram entregues na justiça, há meses”, respondi. “Mas o meu advogado não me falou nada”, replicou. Sua recomendação foi para que eu conversasse com o advogado no dia seguinte.
Eu voltei para casa, satisfeita por ter conseguido falar com o proprietário, e continuei orando, reconhecendo que tudo estava sob o controle de Deus. Minha família e eu não poderíamos estar sujeitos a nenhuma mentira, mau propósito ou pensamento malévolo. Deus nos livra de confusões e de problemas. Alguns dias mais tarde, recebi de parentes e amigos um montante em dinheiro suficiente para pagar o acordo feito com o advogado do proprietário. Que bênção! Eu me senti livre.
Com isso resolvido, quis voltar a trabalhar, porém ouvia que, pela idade, estaria impedida de reintegrar-me no mercado. Então, comecei a orar com a idéia de que não há limites para Deus, que o bem é contínuo. Como Deus é Vida e eu sou Sua expressão, a idade não poderia me impedir de continuar a ser ativa, expressar habilidades e descobrir novos dons.
Durante algum tempo, orávamos em família. Foi bom para que os filhos vissem que, apesar de os pais terem perdido o negócio, não estavam deprimidos e sem perspectivas.
Veio-me a idéia de falar com a amiga de minha mãe que trabalhava no comércio de roupas. Logo iniciei no trabalho de revenda de vestuário feminino. Embora não fosse a minha área de atuação e desconhecesse esse mercado, durante alguns anos pude manter a família com essa atividade, enquanto meu marido se reciclava num curso de mestrado, numa universidade pública e, esporadicamente, dava aulas.
Certo dia, uma prima me telefonou perguntando se estaria interessada em trabalhar no Departamento de Arquivo do Tribunal de Justiça, através de uma empresa. Entretanto, a vaga era para um cargo bem simples. Eu lhe disse que o aceitaria. “Você não se importa? O salário é muito baixo para alguém com nível superior e boa formação”, foi seu comentário. “Não me importa o quanto vou ganhar. Só quero ser útil e entrar no mercado de trabalho”, expliquei.
Após a entrevista, disseram-me que não me contratariam para aquela posição, tão aquém das minhas qualificações, mas se eu esperasse uma semana, teriam uma vaga muito melhor para o meu perfil. Na semana seguinte fui contratada com um salário bem superior ao da vaga anterior, com tarefas interessantes, ligadas à história do Rio de Janeiro. Permaneci nesse emprego por quatro anos. Depois, fui contratada por outra empresa para desenvolver trabalhos de artes plásticas com jovens que precisam de atenção especial. Ambas as funções trouxeram-me imensa satisfação e alegria.
Por diversas vezes, pude provar que é verdadeiro o que está em Ciência e Saúde, de Mary Baker Eddy: “O Amor divino sempre satisfez e sempre satisfará a toda necessidade humana” (p. 494). Esse Amor se manifestou sob diversas formas: dois parentes resolveram pagar as mensalidades escolares dos nossos filhos. Uma tia pagava as mensalidades do curso de inglês. Minha cunhada, mensalmente, fazia o supermercado para nós e, às vezes, outros parentes também. Além disso, recebíamos ajuda financeira desses e de outros familiares. Uma irmã mantinha, em dia, as contas de luz, gás, telefone e condomínio. Nosso vizinho nos forneceu gratuitamente, durante quatro anos, pães e produtos saborosos de sua panificadora.
Nesse período, sempre procurei pensar em Deus como o infinito sustentador. Certa vez pedi a uma praticista da Christian Science que orasse por nós. Ela me disse que Deus é a única fonte do bem e que somos Seus herdeiros e que tudo o que pertence a Ele nos pertence também por reflexo. Essa idéia de herança e herdeiros espirituais sempre me acompanha. Sinto gratidão e alegria de viver para expressar e louvar a Mente divina. Aprendi que Deus não impõe limites, que eu sou Sua idéia completa, que Ele dá oportunidades para todos os Seus filhos expressarem talentos e desenvolverem a criatividade. Hoje, não preciso mais trabalhar e sinto-me disposta a ajudar as pessoas e a mostrar que Deus é a fonte inesgotável da vida.
    