Eu nunca havia imaginado que o pesar fosse particularmente uma bênção, ou seja, algo digno de ser cultuado ou venerado. Havia considerado o pesar como um sentimento com o qual as pessoas tinham de lidar, a fim de superálo. Portanto, sempre havia imaginado a segunda bem-aventurança desta maneira: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus 5). Gosto muito dessa idéia de consolo, mas não compreendia por que os que choram haviam sido incluídos na lista dos bem-aventurados, visto que a lista inclui mansidão, justiça e pureza, qualidades que eu realmente esperava cultivar.
Meus professores da Escola Dominical, ao longo dos anos, lançaram alguma luz sobre o assunto, encorajando-me a ponderar sobre essa primeira palavra: bem-aventurado, em relação a outra tradução do original grego. A palavra makarios é também traduzida como feliz. Por conseguinte, “Felizes os que choram, porque serão consolados”, certamente fazia mais sentido. Mas, o fato de Jesus ter incluído essa promessa em seu Sermão do Monte, parecia indicar um propósito muito além da afirmação do óbvio.
Certo dia, ocorreu-me que, aquilo que eu tinha como certo, ou seja, que chorar não queria dizer um estado mental “sem saída”, não era necessariamente igual para todos. Da mesma maneira, embora eu estivesse bem certa sobre a fonte daquele consolo, outros poderiam querer saber: “consolados por quem ou o quê”?
Ao considerar a segunda bemaventurança, a partir desse ponto de vista, comecei a ver que isso era realmente revolucionário. Aqui estava uma nova garantia de que existe um poder maior do que o nosso, maior ainda do que a compaixão de amigos, cuja atitude é a de nos consolar ou confortar. Na verdade, esse poder divino, o poder de Deus, como eu o compreendia, faz mais do que isso. Ele eleva o sofredor para fora do pesar em direção à luz do Amor, tal como Mary Baker Eddy escreveu em seu poema “Hino de Comunhão”, que diz, em parte:
Ao triste chama:
“Vem ao meu peito,
Teu pranto quero secar
E a tristeza dissipar;
Lar sublime vim te dar
Entre as glórias de um dia sem fim”
(Hinário da Ciência Cristã, 298)
Isso me fez pensar que o sofrimento, em realidade, nos conduz à bênção, porque o Amor nunca deixa o sofredor onde Ele o encontra. Ao invés disso, Deus ternamente consola o aflito, elevando-o à realidade do Amor e, como diz o Apóstolo João: "...lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor..." (Apocalipse 21).
Descobri isso por mim mesma, quando um projeto, que não fora aprovado, deixou-me muito perturbada e doente, com sentimentos de perda e impossibilidades. Quando orei para sentir a presença do Amor, ocorreu-me que eu desejava mais do que apenas consolo, precisava de um antídoto contra a tristeza, o qual, por meio das minhas orações, vim a compreender como uma espécie de consentimento a algum tipo de deficiência. Nesse caso, minha tristeza provinha do fato de me sentir terrivelmente inadequada. Mas, em outras ocasiões, aquelas sensações tinham a ver com insuficiência ou perda, ou seja, eu estava sentindo falta de algo ou de alguém, ou, de certa forma, estava insatisfeita. Entretanto, o Amor não conhece nenhuma carência. Portanto, compreendi que a solução seria ver a mim mesma como Deus me vê, ou seja, completa e alegre, pois minha suficiência provêm dEle.
O sofrimento, em realidade, nos conduz à bênção, porque o Amor nunca deixa o sofredor onde Ele o encontra.
Essa idéia foi particularmente animadora, uma vez que descobri, há pouco tempo, que a palavra grega traduzida como "consolado" na segunda bem-aventurança, é parakaleo, que implica não apenas consolação, mas um chamado para alguém se aproximar ou uma convocação. Esse chamado, compreendo agora, compõe-se de duas partes: Deus nos chamando para junto dEle e Deus nos chamando para termos a visão que Ele tem de nós.
A Sra. Eddy resumiu essa idéia, quando escreveu: "As duras experiências provenientes da crença na suposta vida da matéria, bem como nossos desenganos e sofrimentos incessantes, levam-nos, como crianças cansadas, aos braços do Amor divino. Então, começamos a compreender a Vida na Ciência divina" (Ciência e Saúde, P. 322). Certamente, naquela situação, senti-me levada aos braços do Amor divino — que foi o efeito de eu ter sido chamada pelo Amor e consolada por Ele. Mas, também me senti chamada pelo Amor para saber como o Amor vê. Além disso, esse modo de ver — a Vida na Ciência divina — mostrou-me que eu não era carente, mas completa, intacta e alegre, até mesmo curada. De fato, o conhecimento de Deus sobre minha identidade, foi o que me permitiu parar de me sentir paralisada a respeito daquele projeto e seguir em frente não somente com uma versão diferente do projeto que acabou sendo aprovada, mas também com uma perspectiva nova e mais espiritual sobre mim mesma.
Em momentos difíceis, é tranqüilizador saber que a presença consoladora do Amor nunca nos abandona. Contudo, percebo agora que a verdadeira promessa da segunda bem-aventurança é a de que Deus pode nos ajudar porque Ele nunca nos vê como perdidos em aflição. Ele nos vê como realmente somos: Seus filhos abençoados e sublimes. Isso é aquilo que, nas palavras da Bíblia, converte nosso choro em alegria (ver Salmo 30).
Este é o terceiro de nove artigos sobre as bem-aventuranças e sua relevância para o mundo do século XXI.
