Às vezes, meu irmão relata um episódio que presenciou nos tempos de colégio, que até chega a ser cômico. Entretanto, leva-me a pensar sobre o que pode acontecer, quando entregamos nossas decisões aos outros. Sua classe tinha um professor que sempre usava um lenço para enxugar o suor. Isso era freqüente e motivo de muita gozação por parte dos alunos. Uma menina da turma, porém, tinha muita aversão a esse lenço.
Certo dia, o professor, que sabia hipnotizar pessoas, cedeu aos pedidos dos alunos para que o fizesse em sala de aula. Escolheram, então, a garota que não gostava do lenço, para ser hipnotizada. Ela aceitou e, durante seu transe hipnótico, obedecendo ao comando, pegou o lenço, passou-o em seu rosto e o cheirou, fato esse que arrancou muitas risadas dos colegas. Quando ela saiu do transe e lhe contaram o que havia feito, não pôde acreditar.
Existem muitas formas pelas quais se pode perder o domínio de si mesmo e, para que isso aconteça, não é preciso que alguém balance um objeto na frente dos olhos, até entrar em transe. Perde-se o domínio e a individualidade, quando se busca alegria e bem-estar na matéria, como, por exemplo, fazendo uso de cigarros, bebidas alcoólicas, drogas de qualquer tipo, remédios que viciam, jogos e apostas em dinheiro, pornografia, uso excessivo da Internet ou alguns equipamentos eletrônicos. A pessoa passa a ser dominada pelo desejo e não pelo bom senso, a ponto de estragar a saúde e, às vezes, de cometer atos ilícitos. Os viciados, hipnotizados pelo pensamento e pelo falso domínio do corpo, acreditam no prazer que as drogas ou objetos do vício oferecem, podendo se tornar ridículos, ficar na mão de outros ou até mesmo sofrer abusos.
A satisfação e a alegria são duradouras, se forem sentimentos puros e espirituais.
Certa vez, na minha adolescência, presenciei a seguinte cena em uma festa, a qual me proporcionou uma boa lição: Uma moça gostava muito de um rapaz e queria namorá-lo, mas não era correspondida. Passou a beber para se enturmar e ficar mais desinibida. Logo perdeu o controle de si mesma. Começou a abraçar o moço e a querer beijá-lo, mas não foi correspondida. Todos começaram a olhá-la, pois falava alto e se portava inadequadamente. Pouco tempo depois, começou a sentir mal-estar. Por conhecer bem o lugar da festa, acompanhei-a ao banheiro e procurei acalmá-la. Quando melhorou, não quis sair de lá. Arrependida, chorava muito. Assim que ficou em condições, outras amigas a levaram para casa. Tempos mais tarde, soube que ela ainda estava muito envergonhada e evitava encontrar as pessoas que estiveram na festa. Essa experiência me faz lembrar uma passagem de Ciência e Saúde: “Não há prazer no embriagar-se, no converter-se num bobo ou num objeto de repugnância; disso, porém, fica uma recordação pungente, um sofrimento inconcebivelmente terrível para o amor-próprio do homem” (P. 406).
Esse episódio me deixou bem claro, ainda na juventude, que não devemos nos deixar hipnotizar por nada nem por ninguém, pois só quando estamos no controle da situação, podemos ser verdadeiramente felizes. A satisfação e a alegria são duradouras, se forem sentimentos puros e espirituais. Não é o fumo, a bebida, a droga ou qualquer outro meio material que faz com que o jovem e o adulto aproveitem a vida e sejam felizes. A sensação que os vícios trazem é momentânea, passageira e pode deixar marcas e conseqüências muito profundas, enquanto que o conhecimento de Deus e a compreensão espiritual abrem o caminho para expressar domínio em todas as situações, trazem realização, melhoram a auto-estima, capacitam-nos a ser curados e a curar. Ser feliz é fazer a escolha consciente, dominar o corpo, as vontades e as tentações pela força e compreensão divinas (ibidem, ver P. 406).
