Cresci na cidade de Pinheiros, ES. Meus pais sempre incentivavam a meus irmãos e a mim a adquirir boa formação acadêmica e religiosa. Desde criança, observo o conceito de justiça na Bíblia. Contudo, devido aos aspectos sócio-culturais de minha formação, cresci muito tímida e reprimida. Considerava uma injustiça o fato de que não podia expressar livremente o que pensava sobre a vida.
Mais tarde, ao freqüentar o curso de bacharelado em Educação Religiosa, percebi a importância de conhecer as leis para defender meus direitos e também ajudar as pessoas oprimidas ou exploradas.
Casei-me com um militar e, por causa de seu trabalho, mudávamo-nos com freqüência de um estado para outro. Por essa razão, concluí apenas a licenciatura curta do curso de Estudos Sociais e não investi em uma carreira, principalmente depois do nascimento de meus filhos, com quem sempre tive um relacionamento franco e carinhoso.
Conheci a Ciência Cristã em Santa Maria, RS. Surpreendeu-me o fato de Mary Baker Eddy usar a palavra lei para definir essa Ciência: "...a lei de Deus, a lei do bem, que interpreta e demonstra o Princípio divino e a regra da harmonia universal" (Rudimentos da Ciência Divina, p. 1).
Essa passagem me ajudou a aprofundar meu conceito de justiça quando, após 25 anos de casada, separei-me de meu marido.
Tentávamos uma separação amigável, mas não conseguíamos chegar a um acordo. Então, contratei uma advogada, que me alertou sobre algumas situações desfavoráveis às mulheres em processos de separação conjugal. Muito me preocupou a ênfase que ela deu ao fato de os tribunais do Rio de Janeiro estarem criteriosos em relação à independência financeira das mulheres, pois, por ter me dedicado à administração da família e mudado freqüentemente, nunca trabalhei fora.
Comecei a pensar em quais chances de liberdade e reconhecimento de seus direitos teria uma mulher, ao passar por um processo de separação conjugal.
Dediquei-me mais ao estudo da Bíblia e de Ciência e Saúde, a fim de adquirir uma compreensão espiritual mais profunda sobre Deus e Seu terno cuidado para com minha família e para comigo. Necessitava ver de maneira prática que Deus é o sustentador, o único responsável por todos os aspectos da vida de cada um de Seus filhos amados, incluindo a mim. O que aprendia com a Ciência Cristã, aumentava minha confiança no Amor divino justo e imparcial.
Entendi que não era vulnerável à decisão pessoal de um juiz. Apoiava-me unicamente na oração. Nesse período, pedi a um amigo que orasse comigo. Ele recomendou que eu estudasse uma passagem de Ciência e Saúde: "Se suprimires a riqueza, a fama e as organizações sociais, que não pesam sequer um til na balança de Deus, obterás vistas mais claras do Princípio. Se dissolveres os grupos facciosos, nivelares a riqueza com a honestidade, fizeres com que o mérito seja julgado de acordo com a sabedoria, obterás uma visão melhor sobre a humanidade" (p. 239). O estudo desse trecho clareou meus pensamentos e me acalmei.
A vida de cada pessoa é governada por Deus, o bem, e as opiniões meramente humanas não influenciam o resultado planejado pelo Amor divino para Seus filhos.
Percebi que tribunal, juiz e advogado podem ser vistos como conceitos espirituais, idéias perfeitas a serviço de Deus e de Seus filhos.
A Bíblia também contém muitas passagens sobre justiça. Êxodo ensina que um julgamento entre dois indivíduos é a declaração dos estatutos de Deus e de Suas leis a ambos (ver Êxodo 18:16). Isso me trouxe a certeza de que não há nada de pessoal em um julgamento e que só as leis equitativas do Princípio, Deus, estão ativas e prevalecem. O pedido que o Rei Salomão fez a Deus foi atendido: "...ó Senhor...Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?" (1 Reis 3:7, 9). Todo o povo o respeitou "porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça" (1 Reis 3:28).
Perdi o medo dos resultados do processo judicial. A separação foi decidida em uma única audiência, em que ambas as partes concordaram com as condições propostas pela juíza. Os motivos que a levaram ao seu veredicto se alinhavam com minhas expectativas. Senti-me grata por ver o reconhecimento de meus direitos e a valorização do tempo que dediquei cuidando do lar e da educação das crianças.
Essa experiência me ajudou a compreender melhor que a vida de cada pessoa é governada por Deus, o bem, e que as opiniões meramente humanas não influenciam o resultado planejado pelo Amor divino para Seus filhos. A justiça é estabelecida pelo "Juiz de toda a terra" (Gênesis 18:25). Por meio dessa percepção, também adquiri liberdade e coragem. Hoje, falo com mais espontaneidade, estou mais preparada para tomar decisões e conhecer coisas novas. Buscar soluções para os desafios não me intimida mais, pois aprendi que a Mente divina, Deus, tem todas as respostas e as mostra para seus filhos.
