Quando Deus transmitiu os Dez Mandamentos a Moisés, isso ajudou a pôr fim a muito desregramento no mundo, como também à percepção da justiça como um conceito relativo, que oscila de acordo com a situação e o ponto de vista de cada um. Em Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy descreveu a união da lei com a justiça ao escrever: "A justiça é o significado moral da lei. A injustiça proclama a ausência da lei" (p. 391).
Entretanto, no Antigo Testamento, a idéia de lei e de justiça divinas ainda representavam a Deus como vingativo, exercendo a ira destruidora e impondo a vontade pessoal. A compreensão de Deus como Amor divino, isto é, o Amor que inspira e capacita homens e mulheres a obedecer aos Mandamentos, o Amor que salva a humanidade embora destrua o pecado, ainda não havia sido revelado à consciência humana.
Levaria séculos de desenvolvimento mental e crescimento espiritual, até que a vida de Cristo Jesus, seus ensinamentos e suas obras unissem o amor e a misericórdia à justiça. Os "Não farás isso ou aquilo" dos Dez Mandamentos, dados por Moisés (ver Êxodo 20:3–17), seriam cumpridos nos "Bem aventurados os que fazem isso ou aquilo..." das Beatitudes transmitidas por Jesus (ver Mateus 5:1–12).
A revelação de Jesus sobre Deus como o Amor imparcial e sobre homens e mulheres como filhos do Amor (ver Mateus 5:43–45), estabeleceu novas características relativas ao conceito de justiça, tais como: perdão, bondade, misericórdia e amor. A Regra Áurea: "Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles" (Mateus 7:12), que se constituiu em um padrão cristão de conduta, serviria como uma proteção contra o pensar e o agir pecaminosos, que causam o sofrimento. Ciência e Saúde explica: "Acaso não mostra a Ciência que o pecado traz sofrimento, tanto hoje como ontem? Os que pecam têm de sofrer" (p. 37).
Contudo, o que dizer daqueles que não pecam? O que dizer do sofrimento dos bons e inocentes? Pense, por exemplo, sobre as enchentes e a destruição na Costa do Golfo dos Estados Unidos ou nos civis mortos em tiroteios nas ruas de Bagdá. Muitas pessoas boas sofrem sem nenhuma razão aparente. A justiça era, e ainda é, difícil de se explicar à luz da pobreza degradante, da doença aterradora, de acidentes fortuitos e de atos de tirania, já que todos eles atingem até mesmo crianças inocentes.
Jesus atacou os próprios fundamentos desse tipo de situação, quando alimentou multidões famintas, curou doentes, acalmou tempestades e reformou pecadores. Suas obras mostraram que somente a prática do cristianismo científico, ou seja, a Ciência do Amor que prova que todos nós somos filhos e filhas de Deus, o Espírito, pode demonstrar a verdadeira justiça.
A inocência e a bondade, embora importantes, não asseguram proteção se forem deixadas no âmbito da vida na matéria, se acreditarmos que se originam na mente humana, ao invés de na Mente única, que é Deus. Jesus mostrou que a segurança e a saúde aparecem quando buscamos refúgio na lei mais elevada do Espírito, na justiça de um Deus terno e misericordioso, que é o próprio Amor divino.
As obras de Jesus mostraram que somente a prática do cristianismo científico pode demonstrar a verdadeira justiça.
É evidente que a justiça, separada da universalidade e constância da lei divina, seria caprichosa e não confiável. Além disso, foi necessária a profunda compreensão de Mary Baker Eddy, a respeito da vida e das obras de Jesus, para que se descobrisse essa lei universal de justiça, que hoje se aplica à cura, à proteção e à ética. A Sra. Eddy compreendia Deus como sendo o Principio, a Vida, a Verdade e o Amor divinos, a fonte da verdadeira lei.
A eterna lei de Deus como Princípio é a expressão energizante da Vida, que traz saúde e liberdade. É o fato do ser que expressa a honestidade e a estabilidade da Verdade. É a expressão consoladora e sanadora do Amor divino. Essa é a mesma lei que é chamada na Bíblia de Espírito Santo, a lei que deu poder e autoridade para curar e consolar multidões.
A vida, os ensinamentos e as curas de Jesus revelaram que, embora seu aparecimento humano, por meio do nascimento virginal, fosse único, especial, a qualidade de sua identidade espiritual, isto é, sua verdadeira natureza ou o Cristo, é a verdadeira identidade de todos nós. Ela tem de ser demonstrada, passo a passo, por meio do novo nascimento de cada indivíduo, provando ser Deus, o Espírito, nosso único e real Pai e Mãe. Essa demonstração da individualidade espiritual é o que nos capacita a refletir a lei divina. Também é o que traz a certeza do cuidado terno e justo de Deus em nossa vida.
A própria vida de Jesus era isenta de pecados. Embora ele tenha sofrido muito devido aos pecados dos outros, ele provou, após sua crucificação, quando ressuscitou dos mortos, que a ação de vitimar inocentes não tem poder. Também mostrou que o pecado, todos os erros de pensamento e de ação, causa de fato sofrimento inevitável e precisa causá-lo, até que chegue à sua própria extinção. Contudo, ele indicou o caminho para abandonarmos nossos próprios pecados e permanecermos no espírito de Deus, a fim de ficarmos protegidos dos efeitos dos pecados dos outros.
Isso é explicado em um pequeno trecho de um dos livros da Sra. Eddy, onde ela escreveu: "O pecador não encontra refúgio contra o pecado, a não ser em Deus, que é sua salvação. Entretanto, precisamos compreender a presença, o poder, e o amor de Deus, a fim de sermos salvos do pecado" (Unity of Good, [A Unidade do Bem], p. 2).
Isso requer um reconhecimento contínuo da totalidade e universalidade do Princípio divino, a fim de promover o progresso humano, porque é a lei divina que molda a justiça humana.
Deus, que é a Verdade infinita, não pode conhecer o mal da injustiça, porque se assim fosse, seria como se Ele conhecesse algo além de sua própria perfeição. Saber isso é estar a salvo da injustiça do pecado, tanto dos nossos próprios, como dos pecados dos outros. É impossível algo fora da infinidade. Nada pode existir além da universalidade do Princípio onipresente, o Amor divino. Deus conhece Sua própria totalidade e unicidade, porque Ele é a própria totalidade, o Tudo-em-tudo. Dentro da autoconsciência do Princípio divino, o Amor, não pode haver nenhuma injustiça porque ali não existe nenhum pecado para causála. O fato presente da totalidade do bem autoconsciente age como uma lei de destruição da injustiça ou o mal. À medida que nos conscientizarmos desse fato, vivenciaremos a integridade, a segurança e a justiça, em nossa vida.
Sinais disso aparecem por todos os lados. Por exemplo, preços extorsivos são, hoje em dia, classificados como crime; os direitos das mulheres estão sendo reconhecidos e assegurados, ao invés de apenas declarados; o tratamento desumano de animais tem sido controlado não somente pelos abrigos de animais e grupos de resgate, mas, de forma crescente, por meio de vias legais; os direitos de empregados e de pacientes têm sido legalizados.
Por meio da ação do Amor divino, esses cenários continuarão a se expandir. A justiça se tornará mais evidente nos relacionamentos familiares, na concessão de contratos de negócios, no tratamento igualitário a candidatos a emprego, na forma como patrões e empregados se relacionam uns com os outros, na capacidade de o sistema jurídico determinar a culpa ou a inocência, no modo como governos e tribunais aprovam leis. Isso requer um reconhecimento contínuo da totalidade e universalidade do Princípio divino, a fim de promover o progresso humano, porque é a lei divina que molda a justiça humana.
Então, surgem as questões: "Seria Deus responsável pela injustiça?" Não. "Existiria uma forma de se aplacar tal injustiça?" Sim. A justiça, a misericórdia e a segurança provêm da compreensão de que vivemos verdadeiramente no Espírito, na presença do Princípio e do Amor divinos. A mortalidade nunca está a salvo porque não está ligada à Verdade imortal. Contudo, todos podemos encontrar nossa conexão com Deus, nossa identidade espiritual, aqui mesmo na vida diária. Isso se torna claro na Bíblia, quando o Apóstolo Paulo diz: "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós" (Romanos 8:9).
Uma amiga, que era adolescente, foi seqüestrada por dois homens fortes e mantida em cativeiro por várias horas. Sua mãe havia orado por sua segurança e, principalmente, orado para perceber a razão pela qual ela estava a salvo e compreender que sua segurança estava intacta porque sua verdadeira identidade como filha de Deus nunca estivera fora do cuidado maternal do Amor, jamais passível de ser aprisionada ou vitimada. Devido ao fato de não existir nenhum pecado no Princípio divino, e, uma vez que sua filha não poderia existir fora desse Princípio, ela não poderia estar separada da justiça da lei divina. A ação dessa lei resultou em sua capacidade de escapar ilesa de seus captores.
Tempos depois, aqueles homens foram presos por esse e por outros crimes graves. Minha amiga não sofreu nenhuma seqüela, nem traumas. No tratamento pela Ciência Cristã, é incontestável que um fato espiritual, claramente compreendido, tem um efeito direto na vida da pessoa. Isso ficou evidente na libertação da moça.
Mas, o ensino libertador da Ciência Cristã mostra que, mesmo que o cenário errôneo e injusto causado pelo que a Bíblia denomina de mente carnal, ou pensamento pecaminoso, pareça, às vezes, ir até o fim, a lei de Deus, a Ciência Divina, o Espírito Santo, pode proporcionar segurança e conforto, pode nos ajudar a lutar até mesmo contra a mais trágica injustiça.
Consideremos aquelas crianças que perderam a vida nas enchentes resultantes do furacão Katrina, ou uma criança inocente atacada por um predador e assassinada ou acidentalmente morta enquanto brincava. Em tais situações trágicas, temos de confiar firmemente na mensagem cristã. Jesus deu a entender que o pensamento infantil puro entra no reino dos céus. Ele disse: "Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus" (Mateus 19:14). Também disse: "...se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte, eternamente" (João 8:51).
Outras pessoas talvez vejam o que para elas pareça ser uma cena trágica. Mas, para os inocentes, livres de culpa e puros de coração, a mensagem de Jesus é aquela de que eles verão e vivenciarão a Vida.
Sob a luz dos ensinamentos de Jesus, a Ciência Cristã explica que, após um medo momentâneo, a criança inocente pode encontrar plena recompensa no cuidado maternal do Amor. Podemos ter certeza de que o medo terrível causado pela manipulação maliciosa ou por acidente fortuito é completamente removido do pensamento de uma criança inocente, sem deixar seqüelas.
Aqueles que são deixados aqui para pranteá-las têm de confiar firmemente na mensagem confortadora do Consolador. A Sra. Eddy escreveu com muita ternura: "Possa o grande Pastor, que sempre 'acalma o vento para o cordeiro tosquiado' e cura as feridas dos corações que sangram, consolar, encorajar e abençoar a todos os que choram" (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 275).
Jesus disse: "No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo" (João 16:33). A lei misericordiosa de Deus, o Princípio divino, está disponível a todos exatamente aqui e agora. Ela afasta a injustiça com suas excentricidades humanas e nos capacita a vivenciar o reino de Deus "assim na terra, como no céu" (Mateus 6:10).
