25-26 Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos ensinará todas as cousas. Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.
Como os judeus, os samaritanos também esperavam a chegada do Messias, a quem chamavam de Ta'heb ("aquele que retorna"). Porém, consideravam-no como um professor, o que explica o comentário da mulher ("nos ensinará todas as coisas").
A declaração "Eu o sou" contradiz a teologia da época, que esperava um Messias no futuro, e remete à expressão "Eu Sou" de Êxodo 3:14, a qual identifica a Jesus como aquele em quem Deus é revelado (ver João 1:17, 18).
27-30 Neste ponto, chegaram os seus discípulos e se admiraram de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela? Quanto á mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens: Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?! Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele.
Diante da autoridade que Jesus expressava, os discípulos não questionaram as atitudes do Mestre, mesmo diante da contradição dos costumes da época. Ao deixar seu cântaro, a samaritana mostra que a identidade revelada de Jesus suplanta o desejo dela pela "água milagrosa" (ver João 4:15). Ela conta sua própria experiência aos outros para provar a veracidade do que falava. O testemunho dela faz com que outras pessoas busquem a Jesus.
31-34 Nesse ínterim, os discípulos lhe rogavam, dizendo: Mestre, come! Mas ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. Diziam, então, os discípulos uns aos outros: Ter-lhe-ia, porventura, alguém trazido o que comer? Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.
O Mestre esclarece que seu sustento vem de sua vocação: no Evangelho de João, fazer a vontade de Deus significa, freqüentemente, cumprir o que lhe foi incumbido (ver João 5:30, 36; 6:38).
Ao descrever seu alimento, Jesus alude à sua missão e confirma sua relação com Deus. A conversa com a samaritana pode ser entendida como um exemplo de sua vocação.
35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até a ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa.
Isso confirma o que Jesus disse à samaritana: "...vem a hora e já chegou..." (João 4:23). Acreditava-se que se deveria esperar pelo Messias (ceifa), mas Jesus mostrou que ele já estava presente. Também ensinou que todo o bem que almejamos, já faz parte de nós e pode ser vivenciado de forma completa.
36-38 O ceifeiro recebe desde já a recompensa e entesoura o seu fruto para a vida eterna; e, dessarte, se alegram tanto o semeador como o ceifeiro. Pois, no caso, é verdadeiro o ditado: Um é o semeador, e outro é o ceifeiro. Eu vos enviei para ceifar o que não semeastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.
Aqui, Jesus continua se referindo à ceifa imediata. O ceifeiro já está colhendo os frutos e recebendo as recompensas da colheita. Tanto o semeador quanto o ceifeiro partilham as alegrias da colheita.
39-42 Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito. Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que permanecesse com eles; e ficou ali dois dias. Muitos outros creram nele, por causa da sua palavra, e diziam à mulher: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.
Inicialmente, os samaritanos creram em Jesus pelas palavras da mulher, mas aqueles que foram ao encontro dele, comprovaram o que ela dizia. Esta é a estrutura do Evangelho de João: o testemunho [da mulher] faz com que outras pessoas venham a Jesus e creiam nas suas palavras.
Jesus ficou com os samaritanos por dois dias. Ficar com Jesus significa se relacionar com ele.
43-44 Passados dois dias, partiu dali para a Galiléia. Porque o mesmo Jesus testemunhou que um profeta não tem honras na sua própria terra.
Jesus compara a receptividade dos samaritanos à resistência que os judeus tinham em aceitar suas idéias. Isso também é evidenciado no capítulo de Lucas, quando o Mestre diz: "...vos afirmo que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra" (4:24).
45 Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque viram todas as cousas que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, à qual eles também tinham comparecido.
Os galileus sabiam que Jesus pregava a verdade, pois tinham testemunhado o primeiro sinal que Jesus realizou em Caná da Galiléia, quando transformou água em vinho.
46-54 Dirigiu-se, de novo, a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. Ora, havia um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum. Tendo ouvido dizer que Jesus viera da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele e lhe rogou que descesse para curar seu filho, que estava à morte. Então, Jesus lhe disse: Se, porventura, não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis. Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra. Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive. O homem creu na palavra de Jesus e partiu. Já ele descia, quando os seus servos lhe vieram ao encontro, anunciando-lhe que o seu filho vivia. Então, indagou deles a que hora o seu filho se sentira melhor. Informaram: Ontem, à hora sétima a febre o deixou. Com isto, reconheceu o pai ser aquela precisamente a hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa. Foi este o segundo sinal que fez Jesus, depois de vir da Judéia para a Galiléia.
O oficial romano aceitou a superioridade espiritual de Jesus, apesar de ser autoridade na época. Sua fé nas obras de Jesus como sinais do poder de Deus, foi essencial para a cura de seu filho, e ele a demonstrou obedecendo a Jesus, ao partir sem indagações. Essa história de cura a distância é a única no Evangelho de João, mas outras duas aparecem no Evangelho de Mateus e de Marcos. O verbo "viver" tem duplo sentido: "recuperar-se da doença" e 'receber o dom da vida". Como o número sete na Bíblia simboliza completude e perfeição, poder-seia considerar que a hora sétima alude a esse sentido, marcando o momento em que o oficial deixou que a agitação e o medo cedessem à confiança no bem, para a cura de seu filho. Esse foi o segundo sinal que Jesus fez após a transformação da água em vinho.
Bibliografia:
Bíblia de Estudo de Genebra, Sociedade Bíblica do Brasil, 2004; Bíblia de Estudo Plenitude, João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil, 2003; Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy, 1990, The Christian Science Publishing Society, Boston, USA; A Bíblia Sagrada, João Ferreira de Almeida, Edição revista e atualizada, 2ª edição, 2005, Sociedade Bíblica do Brasil; Bíblia Sagrada, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil, 2000; The New Interpreter's Bible, Volume IX, Abingdon Press, Nashville, TN, USA.
