Marta Greenwood trabalhou como enfermeira-chefe da obstetrícia, no “Guy's Hospital” de Londres, um dos mais antigos e mais conhecidos hospitais-escola da Inglaterra. Hoje, como Praticista e Professora de Ciência Cristã, em Londres, Marta continua a ajudar mães e pais durante a gravidez e o parto, por intermédio de sua prática de cura mediante a oração. Recentemente, ela conversou com o escritor-senior do The Christian Science Sentinel,
Warren Bolon: Marta, como foi trabalhar em um grande hospital e com tantas mães que estavam para dar à luz?
Marta Greenwood: Como enfermeira-chefe da obstetrícia, via o nascimento basicamente como um ato físico, material e mecânico. Nunca soube que houvesse uma dimensão espiritual para a vida. Se uma mulher chegasse ao hospital em trabalho de parto e quisesse ter um parto normal, eu achava que ela estava completamente maluca! Naquela época, todos os partos eram monitorados e assistidos por médicos, mas a comunidade médica evoluiu bastante, a fim de reconhecer o direito da mulher de ter parto normal. Eu fazia parte de uma equipe de seis enfermeiras-chefe na ala da maternidade, encarregadas de seis salas de parto e duas salas de cirurgia, bem como do treinamento de estudantes de medicina, enfermeiras e parteiras. Eu estava totalmente focada na medicina, com relação a partos.
Quando iniciei o estudo da Ciência Cristã, e, logo depois, tornei-me praticista, comecei a pensar sobre o trabalho de parto e o parto propriamente dito, de uma forma diferente, totalmente nova. Por exemplo, descobri que existem mais de duzentas e oitenta citações na Bíblia que usam os termos dar à luz e nascimento. Um deles é quando a Bíblia fala sobre Sara, mulher de Abraão, que, pela fé, concebeu e deu à luz um filho “não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele [Deus] que Ihe havia feito a promessa”. Abraão foi aquele que “aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (ver Hebreus 11:10, 11). Gosto muito dessa promessa, ou seja, pensar sobre Deus como nosso real construtor e edificador nos leva diretamente de volta ao fundamento espiritual da vida. Também gosto da passagem em Ciência e Saúde, onde Mary Baker Eddy escreveu sobre “a maldição” que foi anulada referente ao parto: “A Mente controla as dores de parto nos reinos inferiores da natureza, onde a parturiçāo se faz sem sofrimento... Quando a neblina da mente mortal se dissipar, será levantada a maldição que diz à mulher: 'Em meio de dores darás à luz filhos’ ” (P. 557).
Esse era um novo conceito para mim. A Sra Eddy se refere ao relato bíblico sobre a criação material, que diz: “...em meio de dores darás à luz filhos...” (Gênesis 3:16). Essa afirmação em Ciência e Saúde foi realmente uma revelação para mim, isto é, que nós não precisamos sofrer, pois a “Mente controla as dores de parto”. O desígnio de Deus aos Seus filhos não inclui sofrimento, porque Ele cria e dá à luz Sua própria criação. Essa mesma passagem em Ciência e Saúde continua e diz que: “A Ciência divina dispersa as nuvens do erro com a luz da Verdade, levanta a cortina e deixa ver que o homem nunca nasce e nunca morre, mas coexiste com seu criador”. Eis o segredo, nós coexistimos com o nosso Criador; não nascemos e não morremos.
Vejo o período de nove meses como uma oportunidade de desenvolver o pensamento. Isso se refere a espiritualizar e purificar o pensamento, e esse desenvolvimento mental e espiritual governa o nascimento físico.
Parto ou parturiçāo significa: “o ato de dar origem ou dar à luz a uma criatura, o ato de produzir, aquilo que é dado à luz; um nascimento.” “O ato de dar origem” nos remete ao tempo dos nove meses de preparação. Como parte do meu trabalho como enfermeira na clínica pré-natal, eu costumava registrar as mulheres que chegavam para dar à luz. Isso era considerado como um momento preparatório importante. Hoje, como Praticista da Ciência Cristã, vejo o período de nove meses em que a criança está se desenvolvendo, como uma oportunidade de desenvolver o pensamento. Isso se refere a espiritualizar e purificar o pensamento, e esse desenvolvimento mental e espiritual governa o nascimento físico.
Uma outra questão, com a qual tive de lidar durante a gravidez de uma paciente, foi o pensamento sobre a astrologia, a crença de que horóscopos, signos da data do nascimento, presságios ou os signos dos astros planetários influenciam nossa vida. Ouvia as pessoas dizerem: “Somos compatíveis porque eu sou de Gêmeos e ele é de Aquário”. Contudo, reconhecer que nós sempre vivemos no Espírito infinito revela a lei espiritual que anula essas leis relativas à posição dos astros. O Espírito é a única lei sobre a vida que existe, ou que possa existir, e não existe nenhuma outra influência sobre nós. Temos o direito dado por Deus de domínio e de libertação das falsas leis e crenças.
Acho que é importante para uma mulher grávida fazer um diário para registrar a gratidão, como uma maneira de ajudar a manter o periodo de gestação feliz e abençoado. O nascimento é o ato de trazer à luz a alegria e o amor. Mary Baker Eddy escreveu sobre o homem, homem e mulher, como “a idéia composta que expressa Deus e inclui todas as idéias correctas” (ver Ciência e Saúde, p. 475) e isso para mim significa que temos de fazer uma lista de todas as qualidades espirituais que esperamos ver em nossos filhos. Essa lista poderia incluir muitas qualidades!
WB: A questão sobre quando a vida efetivamente começa tem apresentado muitas controvérsias, especialmente no que se refere ao aborto e à pesquisa com células-tronco. Qual sua percepção sobre o começo da vida?
MG: A concepção na Ciência Cristã é uma mensagem radical e revolucionária: que o homem, feito à imagem de Deus, é perfeito e que a vida é de Deus. A concepção é puramente espiritual e elevar o pensamento a esse nível nos leva ao único lugar onde a concepção deve permanecer. O primeiro capítulo do Gênesis nos diz que Deus criou o homem à Sua própria imagem. Ademais, Jesus nos ensinou que Deus é Espírito.
Visto que Deus é Espírito, deduz-se naturalmente que Sua criação, ou “semelhança” é espiritual e boa, e não material. Isso segue estritamente os ensinamentos das Escrituras em Gênesis, onde Deus criou tudo e disse que “era muito bom” (Gênesis 1:31).
A verdadeira oração inclui isto: reconhecer a Deus, a Mente divina, como a única fonte de inteligência, força, vida e de nossa própria existência. Gosto muito quando Ciência e Saúde diz: “Aqueles que estão instruídos em Ciência Cristã alcançaram a gloriosa percepção de que Deus é o único autor do homem” (p. 29). Um autor é aquele que cria, produz ou faz com que exista. Portanto, a criação é a revelação das idéias da Mente divina.
WB: Então, não poderíamos dizer que a Mente divina está continuamente concebendo sua criação?
MG: Sim, a vida em Deus sempre foi verdadeira, e não há nada que possamos fazer para que ela exista ou não. Nossa vida está escrita “no livro da vida” (ver, por exemplo, Filipenses 4:3). A Sra. Eddy disse que não há duas criações, mas que “Um só é o Princípio e sua idéia...” (Ciência e Saúde, p. 465). Só há uma criação e ela é espiritual. A Mente divina não poderia criar um universo material. Portanto, o que vemos como vida humana é um sonho material e temporal, que nunca toca nossa espiritualidade. Somos criados como idéias da Mente, espirituais e perfeitas. “Tudo é Mente infinita e sua manifestação infinita...” (Ibidem, p. 468). Não podemos nascer na matéria, nem morrer nela, porque não somos algo separado da Mente divina.
Em Isaías, o profeta ouve Deus perguntando: “Acaso, farei eu abrir a madre e não farei nascer?...acaso, eu que faço nascer fecharei a madre?...” (Isaias 66:9). O parto está sob o controle da maternidade de Deus. Isso é realmente encantador porque nos leva de volta ao ponto em que Deus cuida de toda a criação; e a Mente divina cria sempre tudo de forma contínua e constante.
WB: A hereditariedade e as predisposições genéticas para doenças em potencial estão pressupostas na crença de que a vida e nossas perspectivas de vida estão fundamentadas na matéria. Como você ora para preocupações desse tipo?
MG: Jesus rejeitou o pecado e a hereditariedade na cura de um cego. Quando as pessoas ao seu redor perguntaram: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (João 9:2), Jesus rejeitou totalmente tanto a hereditariedade como o pecado.
A definição em 1 João de que “Deus é amor” (4:8) é um ponto fundamental na Ciência Cristã. Essa declaração nos remete àquela garantia descrita em Gênesis de que o homem foi criado “muito bom”. Ela declara a natureza completa e acabada da criação de Deus, a natureza perfeita e imutável de tudo quanto Deus trouxe à existência. Deus, sendo perfeito e imutável, não poderia trazer à existência nada que fosse imperfeito e mutável. A Mente não poderia conceber o melhoramento de Sua própria natureza perfeita.
Partindo dessa premissa, conclui-se que, na bondade de nosso Pai-Māe Deus, temos direito ao céu, ou seja, à perfeição, às qualidades de pensamento que percebemos diariamente, à medida que reconhecemos essas verdades espirituais para nós mesmos. A compreensão dessas verdades sobre nós mesmos anula as falsas crenças de uma vida material governada pela hereditariedade. Como a perfeita, intacta e completa imagem de Deus, não podemos ter nenhum desenvolvimento anormal ou defeituoso. Quando alguém me procura como prati-cista com a crença de hereditariedade de "XYZ", sempre digo que, tendo em vista que Deus é nosso Pai-Māe, temos o direito dado por Ele de estarmos livres das falsas leis materiais.
WB: O que dizer dos casais que enfrentam os desafios da infertilidade? Como a oração cristã ajuda em tais casos?
MG: Algumas vezes, as pessoas acreditam que são velhas demais para conceber filhos. Quando João Batista nasceu de Isabel, ela não era somente idosa, mas estéril. Na verdade, nada pode ser acrescentado à obra criada por Deus. Quando uma mulher me procura com o problema de infertilidade, essa é uma oportunidade de compreender melhor a maternidade de Deus. Temos de nos libertar da noção de que, por termos nos dedicado a uma carreira, por exemplo, perdemos a oportunidade, perdemos o período de pico da fertilidade. Temos de afastar o sentido pessoal de responsabilidade e aprender mais sobre a maternidade de Deus e como expressamos essa verdade. Como a gravidez está sempre relacionada à expectativa de se receber algo, oro no sentido de nutrir a receptividade dos pais para o bem, sua capacidade de receber o bem.
Às vezes, a resposta é a ado–çāo. A adoçāo se refere realmente a abrir o pensamento para perceber a natureza universal da paternidade e maternidade. A adoçāo, como um desenvolvimento mental e espiritual, inclui a única Mente revelando-se a Si mesma como o Pai-Māe de tudo. A Mente divina mostra para aqueles que querem adotar, as conexões que já existem entre eles e a criança, e que a criança, naquele momento, está sendo confiada a seus pais.
Nossa tendência é acreditar que as mulheres têm sempre de dar alguma coisa. Contudo, é importante sermos capazes de receber o amor que se manifesta para nós de várias formas. Quando você é um doador, pode ser difícil receber. Mas, quando somos receptivos ao bem e compreendemos que todo o bem já está presente e é nosso, então mais desse bem aparecerá.
Eu era uma mulher voltada para minha carreira. Meu marido e eu estávamos casados havia muito tempo e não tínhamos filhos. Ficamos desesperados e o tempo ia passando. Esse pensamento governava tanto nossa vida, que decidi que simplesmente pararia de pensar nisso e continuaria a viver. Às vezes, quando desejamos muito alguma coisa e a tiramos completamente da mente, ela nos é trazida de volta em graça. Quando abandonei o pensamento de ter filhos e comecei trabalhar em um novo emprego, dentro de seis semanas estava grávida. Nosso outro filho veio exatamente da mesma maneira inesperada.
Não conseguiremos compreender o novo, a menos que abandonemos o que é velho. Precisamos nos livrar do velho e, à medida que fazemos isso, despertamos para o bem que já está aqui conosco, e que provém de Deus.
