Uma senhora, usando um vestido longo listrado, lava carinhosamente o pé da criança envolta em uma toalha no quadro de Mary Cassatt “La Toilette” (O Banho da Criança, 1893). Como a maioria das obrasprimas dessa pintora americana, essa capta a essência das qualidades maternais, ou seja, paciência, solicitude, cuidado, amor incondicional. Que contraste entre essa cena cheia de ternura e a imagem chocante exibida na televisão, de uma presidiária com uniforme cor de laranja, de quem fora tirada a oportunidade de criar seu filho, devido ao vício das drogas que a levou à indiferença à violência doméstica. A maioria de nós se encaixa entre os extremos representados pela idílica mãe do quadro de Cassat e a mãe atrás das grades. Contudo, mesmo aquelas pessoas que acham que falharam como mãe ideal, têm a oportunidade de descobrir e expressar a verdadeira essência das qualidades maternais.
Após ter perdido minha mãe quando eu tinha 20 anos, ansiava por uma presença materna em minha vida. Ainda tinha muito a me desenvolver, a aprender, e achava que seria mais fácil se tivesse alguém para me orientar. Minha mãe me ensinara a amar a Deus e a ser uma boa cidadã. Ela era o elo que mantinha nossa família unida. Eu era grata por seu cuidado firme e carinhoso, bem como pelo incentivo que me dava. Minha irmã e eu fomos criadas a aceitar que poderíamos fazer tudo o que almejássemos. Entretanto, em uma época que parecia ser cedo demais para perdê-la, estava enfrentando muitos questionamentos: Por que ela? Por que eu? Como vai ficar minha vida sem seu apoio e orientação?
Durante esse período difícil, encontrei grande consolo na Ciência Cristã. Diferente de outras religiões tradicionais que focam estritamente a paternidade de Deus, a Ciência Cristã destaca o perfeito equilíbrio entre a paternidade e a maternidade de Deus. Em Ciência e Saúde, Mary Baker Eddy nos dá o sentido espiritual da Oração do Senhor, em que ela interpreta a primeira linha dessa oração: “Pai Nosso que estás nos céus”, assim: “Nosso Pai-Mãe Deus, todo harmonioso” (p. 16).
O estudo cuidadoso da Bíblia e de Ciência e Saúde me levou a descobrir mais sobre a natureza de Deus como Mãe e Pai. Muito embora meu pai humano ainda vivesse comigo, achava que não poderia compreender verdadeiramente a maternidade de Deus sem entender Sua paternidade, uma vez que essas facetas da natureza de Deus são inseparáveis e estão perpetuamente em equilíbrio. Esse período e os anos subseqüentes fizeram com que eu acumulasse uma crescente percepção espiritual sobre paternidade e maternidade, a qual ultrapassou os limites do parentesco humano e permitiu uma maior expressão de qualidades maternais em minha própria vida.
Eis algumas idéias que compilei:
Deus é o próprio Amor e a própria Vida, cuidando eternamente de cada aspecto de Sua criação. Para mim, não fazia mais sentido achar que a vida de qualquer pessoa fosse temporária.
Deus é a Mãe terna, que cuida de todos os Seus filhos.
Nos meses subseqüentes ao falecimento de minha mãe, minha vida parecia frágil e insegura. Perguntava-me por que parecia que Deus não a havia ajudado. Quando compreendi melhor que Deus é Espírito, o Amor, o Princípio divino, pude perceber que Deus sempre nos assegura ativamente que toda a Sua criação vive em perfeita harmonia. Isso está evidente na harmonia da música, na beleza da arquitetura, no movimento harmonioso dos planetas, na lógica da matemática e assim por diante.
Vislumbrei até mesmo o fato de que minha mãe não havia morrido, embora não pudesse vê-la com meus olhos e ouvir sua voz. A analogia das notas na escala musical foi muito útil para mim. Cada uma delas existe mesmo quando não podemos ouvi-las. Cada uma pode ser expressa em incontáveis formas, como por meio do violino, das cordas vocais, do canto dos pássaros. Ao invés de frio e abstrato, Deus é o próprio Amor e a própria Vida, cuidando eternamente de cada aspecto de Sua criação. Para mim, não fazia mais sentido achar que a vida de qualquer pessoa fosse temporária. Portanto, embora não pudesse dizer exatamente o que minha mãe estaria fazendo, podia reconhecer que, em Deus, nós, isto é, minha mãe e eu, "...vivemos, e nos movemos, e existimos ... Porque [da Mãe, Deus] também somos geração" (Atos 17:28).
Deus é o único Pai-Mãe perfeito, em quem as qualidades masculinas e femininas se equilibram, se fortalecem e se a póiam umas às outras.
Esse perfeito Pai-Mãe incluitanto a paternidade como a maternidade, conforme a Sra. Eddy observou em Ciência e Saúde: "O Amor, o Princípio divino, é o Pai e a Mãe do universo, inclusive o homem" (p. 256). Conhecer esse fato destrói a teoria de que Homens São de Marte, Mulheres São de Vênus, porque descobrimos que as qualidades geradoras de Deus incluem uma combinação de amor e força, de ternura e integridade, de sabedoria e misericórdia. Podemos esperar ver esse equilíbrio de qualidades expresso em cada um de nós, ao invés de sucumbir às imposições limitadas dos gêneros masculino e feminino.
Sinto—me segura guando me volvo a Deus em busca de orientação.
Um fato interessante ocorreu na minha busca por conhecer melhor a Deus como Mãe. Compreendi que podia tanto me dirigir ao meu pai humano em busca de conselho, esperando que ele se volvesse a Deus por mim, como eu mesma podia ir diretamente a Deus. Acho muito bom que a Ciência Cristã nos ensine a compreender o que cultuamos. Ela não faz nenhum mistério. Quanto mais entendemos o amor incondicional, o poder e a presença de Deus, mais seguros nos sentimos para confiar em que Ele/Ela nos guiará. À medida que minha confiança em Deus aumentava, meu relacionamento com meu pai melhorava, pois eu não dependia tanto dele. Tivemos uma convivência doce e amorosa, ao invés de sentir que tínhamos de desempenhar papéis previamente definidos.
O Amor de Deus por mim é incondicional, mesmo quando cometo erros.
Podem acreditar, cometi muitos erros. Um dos aspectos mais encantadores da maternidade é o amor incondicional. Tenho visto mães com filhos que as traíram, mentiram para elas e as roubaram, mas as mães conseguiram ver, além da máscara do mau comportamento, os seres puros e inocentes que havia dentro deles. Pense em Deus como Mãe, ou seja, a fonte de toda a vida e amor, e em Sua infinita graça. Deus, a Mãe, não sabe nada sobre nossos defeitos e falhas. Ao invés disso, Ela vê Seus próprios filhos perfeitos, cada um cumprindo seu propósito distinto de forma harmoniosa. A Mãe nos ama tanto que nos deu a vida eterna, para que co-existíssemos com Ela para sempre.
As qualidades maternais de Deus precisam ser expressas no coração de todos, seja homem ou mulher.
Durante a maior parte da vida adulta, tenho tido prazer em descobrir minha expressão das qualidades maternais, como o reflexo da única e infinita Mãe. Embora eu nunca tenha tido filhos, tive maravilhosas oportunidades de praticar as qualidades maternais, inclusive com os filhos de meu marido e ao ensinar e hospedar estudantes que faziam intercâmbio.
Há vários anos, escrevi um artigo sobre padrastos e madrastas para uma revista semelhante a esta. Nesse artigo, relatei como foi importante conhecer a Deus como Mãe quando, apesar de não ter nenhuma intenção de ter filhos, me vi criando três crianças. Um pai, que criava seus filhos sozinho, leu o artigo e entrou em contato comigo. Com muito bom humor, contou-me que ele também reivindicava as idéias contidas no artigo, uma vez que aprendera muito sobre qualidades maternais. A Sra. Eddy elucidou esse ponto assim, em Ciência e Saúde: "O afeto de uma mãe pelo filho não lhe pode ser alienado, porque o amor materno inclui pureza e constância, ambas imortais. Por isso, o afeto materno perdura, sejam quais forem as dificuldades" (P. 60).
As qualidades maternais não estão confinadas a uma pessoa. Ao contrário, elas são expressas por todas as pessoas.
Enquanto sofria com o falecimento de minha mãe, confinara a ela todas as qualidades maternais. À medida que progredia na compreensão de Deus como o próprio Amor, entendia que, uma vez que todos nós fomos criados à Sua imagem e semelhança, ou seja, à semelhança de Deus como Mãe e como Pai, todos nós possuímos a capacidade de expressar as qualidades maternais. Um lago perfeitamente calmo reflete tudo ao seu redore e não apenas uma pequenina parte ou umas poucas árvores que o rodeiam.
Quanto mais entendemos o amor incondicional, o poder e a presença de Deus, mais seguros nos sentimos para confiar em que Ele/Ela nos guiará.
Da mesma forma, todos nós refletimos as qualidades maternais e paternais de Deus, e nada menos que elas. Cada um de nós expressa essas qualidades de forma distinta e individual. Após o falecimento de minha mãe, descobri ternas expressões de qualidades maternais em minha própria vida, por meio de uma tia que me ajudou com os preparativos de meu casamento, pela generosidade de uma professora aposentada que me financiou o último ano da faculdade, e hoje, por um marido amoroso que, acima de tudo, é como mãe para mim. Apenas precisei elevar meu conceito para ver que as qualidades maternais não podem desaparecer, nem ser suprimidas ou escondidas.
Por último, Deus não tem órfãos, filhos indesejados, enteados, nem ilegítimos.
Nunca há alguém separado de seu verdadeiro Pai-Mãe. Todos temos um lugar especial no lar de Deus, o reino dos céus, exatamente aqui e agora. Todos somos desejados e acalentados. Deus está satisfeito conosco e jamais nos abandonará. Talvez saber isso tenha suprido minha necessidade mais imediata. Perder o pai ou a mãe pode ser bastante desolador. Mas, compreender que meu verdadeiro Pai-Mãe me ama, ajudou-me a aderir às palavras do Apóstolo Paulo: "Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as cousas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar—nos do amor de Deus..." (Romanos 8:38, 39).
Mary Cassat deve ter vislumbrado algo das puras qualidades maternais, para ter captado sua essência em um quadro. Contudo, tão ternas quanto suas pinturas sobre mães e filhos possam ser, mesmo com cenas humanas longe do idílico, precisamos ver além do que as pessoas estão expressando e restaurar as qualidades maternais à sua própria fonte: Deus. Somente no reino espiritual descobriremos que nossa verdadeira Mãe jamais poderá ser tirada de nós. Por conseguinte, veremos que cada um "...como descendente de Deus, como idéia do Espírito, é a evidência imortal de que o Espírito é harmonioso e o homem eterno" (Ciência e Saúde, p.29). Então, sentiremos o conforto, sem interrupção, a ternura e a solicitude de nossa Mãe verdadeira.
