Dar imagens a palavras. Assim eram as parábolas que Jesus ensinava, fato que tornava seus ensinamentos radicais compreensíveis aos seus ouvintes típicos e, até mesmo aprazível aos céticos e escarnecedores. Suas obras de cura confirmavam a base de seus ensinamentos. Sem elas, as palavras não teriam sido convincentes. Jesus era um homem que acreditava no ponto mais importante da questão, ou seja, a prova absoluta de tudo o que ele dizia.
Sempre gostei da paràbola em Mateus em que Jesus comparou um grão de mostarda com o reino dos céus. “...O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos” (Mateus 13:31, 32). Então, ele garantiu: “...se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível” (Ibidem, 17:20).
O que essa parábola ensina é que um único momento, repleto de fé e de clara percepção acerca do todo-poder de Deus, pode remover montanhosos problemas de nossa experiência. Ou, pelo menos, transformá-los em montes pequenos e menos assustadores, cuja altura não nos impeça de nos elevar acima deles. Isso faz com que seja muito mais fácil enxergar além de sua pretensa realidade.
Na parábola de Jesus, essa fé “semelhante a um grão de mostarda” parece ser pequena, mas Jesus nos assegura que ela é inteiramente prática, o que nos capacita a permanecer firmes diante da adversidade. Um trecho em Ciência e Saúde me proporcionou a esperança e a coragem necessárias para permanecer no rumo certo, quando me defrontei com situações difíceis: “A Verdade é tão onipotente que um grão de Ciência Cristã faz maravilhas para os mortais, mas é preciso apropriar-se mais da Ciência Cristã a fim de perseverar em fazer o bem” (p. 449).
Sempre que me sentia desafiado pelas circunstâncias, reconhecia calmamente que tinha pelo menos um “grão” dessa Ciência, e isso era o bastante, pois as curas aconteciam. A maioria dos estudantes dedicados de Ciência Cristã tem esse grão de compreensão à sua disposição. Entretanto, como a Sra. Eddy menciona, é o “mais da Ciência Cristã” que precisa ser adquirido. Isso exige, de todos nós, a cada dia, bastante trabalho.
O “grão” de compreensão guia cada um de nós para esse “mais”. Quando captamos um leve indício de que somente o bem é real e que qualquer circunstância negativa que possamos enfrentar não está de acordo com a bondade e harmonia de Deus, somos levados a progredir em nossa compreensão. O grão do Amor divino nos alerta para o fato de que a existência material, com todos os seus emaranhados e reviravoltas, seus altos e baixos, é uma existência irreal, um estado de sonho. Shakespeare deve ter captado a implicação disso em sua comédia As You Like It (Como queiras). Ele escreveu: “O mundo inteiro é um palco e todos os homens e mulheres são meramente atores”. A existência mortal, temporal ou humana, seja qual for o nome que usemos, é uma contrafação da existência real e espiritual. Algumas vezes, ela pode ser cômica, outras vezes, trágica, freqüentemente repleta de ação, mas sempre limitada. É uma suposta existência da qual devemos despertar e certamente despertaremos. É essa fé “semelhante a um grão de mostarda” que nos abre os olhos.
O grão do Amor divino nos alerta para o fato de que a existência material, com todos os seus emaranhados e reviravoltas, seus altos e baixos, é uma existência irreal, um estado de sonho.
Existe, no Antigo Testamento, um belo exemplo da fé sobre a qual estamos falando. O rei Ezequias é descrito como alguém que fez o que era reto perante o Senhor. Ezequias governou seu povo de acordo com os Dez Mandamentos. Contudo, a certa altura, ele descobriu que tinha uma doença incurável e lhe disseram para colocar seus assuntos em ordem. Ezequias teve a sabedoria de volver-se a Deus. Literalmente, “...virou Ezequias o rosto para a parede e orou ao Senhor” (Isaías 38:2). Apoiou-se sinceramente em Deus, o Deus que ele amava. Ele confiou em que Deus cuidaria dele e foi curado. Ele fez o que milhares de anos mais tarde a Sra. Eddy pediu que seus estudantes fizessem: “Quando a ilusão da doença ou do pecado te tentar, apega-te firmemente a Deus e Sua idéia. Não permitas que coisa alguma, a não ser Sua semelhança, permaneça no teu pensamento” (Ciência e Saúde, p. 495).
Há alguns anos, tive uma experiência do “tipo Ezequias”, ao sentir muita dor e dificuldade para caminhar. A situação persistiu durante meses. Finalmente, fiz o que Ezequias havia feito. Afastei-me completamente do quadro material. Não me concentrei no porquê, no como, no quando, ou no onde, daquela situação. Apenas volvi-me para a verdade, ou seja, a verdade de que o homem é a imagem e semelhança de Deus, perfeito e são, e que uma vez que a Mente divina, que tudo sabe, é a minha mente, compreendia o que era necessário para destruir o que me afligia.
Certo dia, estava lendo algo nos escritos de Mary Baker Eddy, onde ela escreveu a respeito dos que “carregam a bandeira” da Ciência Cristã (Miscellaneous Writings 1883-1896, p. 177). Conseqüentemente, pensei: “qual bandeira estou carregando”? A bandeira da Ciência Cristã é “Deus perfeito e homem perfeito.” Orei a respeito desse conceito e, de repente, veio-me à mente que eu estava me atendo a pensamentos carregados de antigos erros que havia cometido: “deveria ter...Ï, “gostaria de ter...”, “poderia ter...”. Isso era negativo, contraproducente e eu sequer havia estado ciente. Portanto, inverti tais pensamentos e disse: “não, sempre fui descendente do Espírito, a expressão perfeita da Mente única, o que significa que sempre estive desperto e alerta”. Esse “passado” nunca aconteceu. Foi somente um sonho. O problema físico desapareceu no dia seguinte àquele em que captei um vislumbre dessa verdade a meu respeito.
Quando desafios, quer sejam físicos, financeiros, de relacionamentos, ou quaisquer outros, persistem em nossa experiência, devemos nos lembrar do “mais da Ciência Cristã”, do qual a Sra. Eddy diz que devemos nos apropriar. Necessitamos de paciência, de perseverança e de progresso espiritual diário para banir situações ou problemas de longa data. Esse processo nos faz acordar. É isso o que as parábolas na Bíblia fazem, elas são o nosso despertador, nosso toque de despertar. Se estivermos honestamente dispostos a acordar desse sonho de vida na matéria e a aceitar humildemente o fato de que não existe nenhum botão silenciador nesse relógio, despertaremos.
Necessitamos de paciência, de perseverança e de progresso espiritual diário para banir situações ou problemas de longa data.
A Sra. Eddy escreveu: “Torna-te consciente, por um só momento, de que a Vida e a inteligência são puramente espirituais — que não estão na matéria nem são da matéria — e então o corpo não proferirá queixa alguma” (Ciência e Saúde, p. 14). Não alcançaremos esse único momento com uma abordagem superficial. Ele exige nosso coração inteiro. A fé sozinha não é o suficiente, mas sem ela não vamos a lugar nenhum. É a fé do grão de mostarda que nos permite ir mais longe, a nos afastar, de forma constante, da ilusão de vida na matéria. Toda situação com a qual lidamos, toda experiência que superamos, é um despertar divino para a nossa própria identidade espiritual.
