À medida que a Páscoa vem e vai a cada ano, pensamentos sobre a ressurreição sempre permanecem comigo. Hoje, da mesma forma que nos primeiros séculos após o triunfo de Jesus sobre a morte, as pessoas têm opiniões variadas sobre esse assunto. O que a ressurreição significa, nos dias de hoje, para os cristãos e não-cristãos? O que continua a convencer a muitos de que ela realmente aconteceu?
Sabemos a respeito da ressurreição apenas aquilo que está registrado na Bíblia. Os escritos mais antigos sobre Jesus, que são as Epístolas autênticas de Paulo, não apresentam muitos detalhes a esse respeito. Contudo, os quatro evangelhos fornecem pormenores, embora sejam considerados como tendo sido escritos algumas décadas após as Epístolas de Paulo. Os evangelhos afirmam que Jesus de Nazaré foi crucificado pelo exército romano. Segundo todos os indícios, ele morreu na cruz. Contudo, como ele havia predito, ressuscitou, deixou o túmulo no qual havia sido sepultado, e falou aos seus discípulos de uma forma não muito diferente da que costumava fazer antes da crucificação.
Os evangelhos mostram que a primeira reação dos discípulos ao ver Jesus variou muito, desde completo desnorteamento até receio de expressar uma alegria fora do comum. Entretanto, assim que começaram a se acostumar com esse acontecimento, foram transformados. Por exemplo, o mais proeminente discípulo, Pedro, em um curto espaço de tempo, passou de negar publicamente que não conhecia Jesus, à cura de um homem aleijado de nascença.
As Escrituras mostram que Saulo de Tarso mudou ainda mais. Como perseguidor dos primeiros seguidores de Jesus, experimentou uma notável conversão, conforme narra a Bíblia em vários trechos. Tendo em vista que não havia conhecido Jesus pessoalmente, Paulo, como mais tarde passou a se chamar, transformou-se em um modelo para todos os que viriam a crer posteriormente.
De acordo com a Bíblia, Paulo era diferente dos outros apóstolos. Assim como nós, ele também não havia estado presente quando Jesus elogiou o centurião romano por sua notável fé. Não havia visto Jesus acalmar a tempestade no mar da Galiléia, nem presenciado a cura de uma multidão de pessoas de uma vez só, ou ainda ressuscitar a Lázaro dentre os mortos. Contudo, em seus escritos, Paulo arde de emoção com a ressurreição, lembrando-a constantemente, persuadindo, quase intimidando seus leitores e ouvintes, no esforço de ajudá-los a compreender que a ressurreição é o fundamento completo de sua fé.
Seria surpreendente imaginar que Paulo não tivesse importunado a Tiago, o irmão de Jesus, bem como aos outros seguidores de Jesus em Jerusalém, com todo tipo de pergunta sobre os pormenores da vida de seu Mestre. Contudo, Paulo não nos dá uma biografia. Pelo contrário, ele vê algo que, ao mesmo tempo, abrange e transcende o Jesus histórico. Ele vê o Cristo eterno, presente em todos os corações humanos. Ele escreve: "Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo" (2 Cor. 4:6).
O "conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo" foi algo que Mary Baker Eddy também viu claramente. Para ela, foi o Cristo, a natureza divina ou a idéia de Deus exemplificada por Jesus, que o capacitou a curar e a literalmente ressuscitar a si mesmo. Entretanto, a Sra. Eddy achava que nossa própria natureza espiritual, perfeita, é irradiada somente quando demonstramos a mesma compaixão e amor que ele demonstrava. Em Ciência e Saúde, ela escreveu: "...nem por isso Jesus nos poupa uma só experiência individual, se lhe seguimos fielmente os mandamentos; e todos têm de beber o cálice de doloroso esforço, na proporção em que demonstrem amor como o dele, até que todos sejam remidos pelo Amor divino" (P. 26).
Penso que esse ponto de vista de Jesus, isto é, o perfeito exemplo do Cristo que todos nós podemos demonstrar, seja tanto persuasivo como inspirador. Ele afirma a singularidade da obra redentora de Jesus e, ao mesmo tempo, a verdade universal por trás dessa obra, de que todos somos a expressão do Espírito, Deus. Esse fato, por sua vez, nos atribui o compromisso de ver o divino em nós mesmos e nos outros. Agir assim é elevar espiritualmente o próximo e nós mesmos e, em certa medida, realmente vivenciar nossa própria ressurreição.
Tive uma experiência que me demonstrou isso. Poucos dias antes de uma apresentação pública, senti-me, tão mal com graves sintomas de gripe, que me movia com muita dificuldade. Contudo, no decorrer dos dois dias seguintes, orei firmemente com a idéia da perfeição de Deus e da minha própria isenção de doenças, por ser o reflexo dEle. Minha esposa também orava por mim. Na manhã do compromisso, sentia-me completamente bem. Passar de um estado em que me sentia tão mal para uma sensação de tamanha liberdade foi como uma maravilhosa ressurreição.
Para mim, as curas físicas que vivenciei por intermédio da oração, tais como: a cura, da noite para o dia de uma costela trincada, de dor extrema e de uma saliência, demonstram-me que os efeitos do pensamento sobre o corpo podem ser substanciais. A cura física como parte integrante do Cristianismo, ou seja, a cura pelo Cristo, é o que me faz aceitar a ressurreição e, conseqüentemente, a promessa que ela reserva para todos.
