Eu gosto muito de trabalhar para a igreja da Ciência Cristã e de orar antes de iniciar qualquer atividade. Também sei que o desempenho de um cargo na igreja envolve oração, traz inspirações contínuas e renovadoras. Essa prática, ao longo dos anos, tem aumentado minha confiança na onipresença e onipotência do Amor, Deus.
A igreja da qual sou membro, no Rio de Janeiro, fica em uma casa bem próxima ao Maracanā, estádio onde houve dois shows da Madona em dezembro do ano passado. Um deles ocorreu em uma segunda-feira, dia em que trabalho como atendente da Sala de Leitura. Antes do show, havia uma grande desordem no entorno do Maracanā, causada pela disputa de espaço entre os camelôs e os flanelinhas, pessoas que trabalham informalmente como guardadores de carros.
Sempre estaciono o carro na garagem da igreja. Contudo, no dia do show, outro veículo mal estacionado na entrada da garagem impedia a passagem. Eu tinha de parar ali, pois também não havia outras vagas ao redor da igreja. Chamei um dos flanelinhas para saber a quem pertencia aquele carro, e ele me disse que não havia como saber, pois estava parado lá havia dois dias. Contudo, eu havia ido à igreja no dia anterior para o culto dominical e tudo estava calmo e em ordem. Portanto, logo percebi que o rapaz tentava me enganar.
Ao insistir em uma solução, ele me orientou nas manobras até que consegui passar através daquele vão estreito sem arranhar nenhum carro. Depois de muitos insultos e buzinadas atrás de mim, coloquei o carro de frente para a entrada da igreja, embora completamente torto, o que me impediu de entrar na garagem.
Eu não conseguia acreditar naquele tumulto. A pessoa que me ajudou a estacionar repetia que eu precisava me conformar com aquela bagunça e com o fato de encontrar carros estacionados e abandonados em lugares proibidos.
Parecia que ele entoava um cântico hipnótico. Entretanto, resolvi não aceitar aquele caos como algo normal.
Ainda depois de sair do carro, enquanto andava em direçāo ao portão de entrada, o rapaz continuou a insistir que aquela desordem era inevitável em dias de grandes eventos. Quando percebi, já estava respondendo: "Ah, tem jeito sim! Por exemplo, esse carro que está tomando um terço da frente da garagem está estacionado em local proibido. É só ligar para o DETRAN (Departamento Nacional de Trânsito), que eles rapidamente enviam um guincho para removê-lo. Muito provavelmente, o dono também aparecerá rápido". O flanelinha me olhou surpreso, e então completei: "Mas não vou fazer isso. A melhor solução é agir corretamente".
Deixei meu carro na frente do portão e entrei na igreja. Fechei a porta e decidi orar para não aceitar a desordem nem me abalar por aquele incidente, pois sei que Deus governa tudo e todos, a todo o momento. Fui tomada por uma tranquilidade absoluta e maravilhosa. Então, ficou claro que eu precisava continuar a orar daquela forma e reconhecer a onipresença de Deus e a realidade divina, na qual nunca há desordem. Sentia tanta paz que cheguei a esquecer que havia deixado o carro fora da garagem.
Calmamente, após tomar água, fui abrir os portões da entrada lateral, que também abrem a garagem. Contudo, ao me aproximar dos portões, percebi um alarido. Alguns homens discutiam em voz alta. Naquele instante, pensei: "Você não precisa se envolver". Lembrei-me de que Deus estava ali e podia trazer harmonia e solução. Se Ele é o único poder, eu precisava apenas testemunhar Sua presença e açāo.
As ideias que se desdobravam em meu pensamento me deixaram alegre e calma, mas quando abri o portão lateral da Sala de Leitura, ouvi que falavam algo a meu respeito, porque berraram várias vezes "ela tem de decidir". Veio-me a resposta ao pensamento: "Só Deus decide, não faça nada, você é testemunha de Sua justiça e ordem". Resolvi ficar quieta e testemunhar a resolução divina.
Fui tomada por uma tranquilidade absoluta e maravilhosa. Então, ficou claro que eu precisava continuar a orar daquela forma e reconhecer a onipresença de Deus e a realidade divina, na qual nunca há desordem.
Percebi claramente que aquele diálogo que acabara de ouvir se tratava de uma armadilha, porque fosse lá o que "ela", ou seja, "eu" escolhesse, acabaria mal para mim. Então, de repente me lembrei do relato bíblico em que Jesus se agacha e desenha calmamente na areia, quando os escribas e fariseus trazem até ele uma adúltera e lhe perguntam se ele achava que deveriam seguir o costume da época e apedrejá-la. A intenção dos fariseus era tentar o Mestre, para terem de que o acusar. Em vez de dizer o que deveria ser feito, Jesus deixa a resposta para a consciência de cada um, e diz: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra" (João 8:7). Então, acusados pela própria consciência, todos partem, deixando a mulher sozinha com Jesus. Fiquei maravilhada com as ideias desse trecho e muito feliz pela compreensão de que eu não devia responder nada para aqueles homens que discutiam em frente à igreja.
Nesse momento, um deles gritou que eu precisava decidir se o carro dele estava atrapalhando ou não os outros veículos. Apesar de não responder, mentalmente insisti: "Eu não decido nada, mas se tiver de falar, que Você, meu Pai, ponha as palavras certas em minha boca".
O rapaz falava ainda mais alto e cobrava uma resposta minha. Com muita calma, devolvi a pergunta à consciência da pessoa que gritava, e falei: "Olhe e responda você mesmo se este carro está ou não no local em que deveria estar. O carro está tomando um terço da entrada da garagem desta igreja". Então, ele me desafiou e disse que não iria tirar o carro dali. Respondi: "Faça o que achar melhor. Se você acha que é seguro estacionar em local proibido e que não será multado nem punido, pode deixar o carro aí. A decisão é sua, o carro é seu".
Eu acabei de abrir os portões e, apesar de o rapaz ter dito que não iria mover seu automóvel, entrou nele e o estacionou em outro local. Os homens que discutiam se dispersaram. O carro estacionado na frente da entrada da garagem ao lado também sumiu. Coloquei meu carro para dentro da garagem e a calma foi restabelecida.
Fiquei impressionada pelo fato de eu não ter reagido. Eu orava, falava com Deus, enquanto tudo acontecia e Ele harmonizou a situação. Era como se eu tivesse assistido a um filme. Deus me fez sentir e compreender que aquele caos era irreal. O mais incrível foi ver uma pessoa conduzida por sua própria consciência a estacionar em um local mais adquado.
Deus me fez sentir e compreender que aquele caos era irreal. O mais incrível foi ver uma pessoa conduzida por sua própria consciência a estacionar em um local mais adequado.
Aquela foi uma tarde abençoada. Ainda pude orar e reconhecer que a presença amorosa e palpável de Deus governava a todos, antes durante e depois do show, e conduzia tudo em harmonia.
Penso que foi a proximidade com Deus que me possibilitou entendê-Lo e obedecer-Lhe, e se deve ao fato de que eu havia orado desde o dia anterior pelo trabalho na Sala de Leitura. Eu estava atenta à Sua voz.
Percebi claramente que Deus sempre atende nossas orações. Por isso, oro antes de cada plantão e cada dia que trabalho na igreja é abençoado. A confiança no bem cresce e se reflete em todas as situações de meu dia-a-dia e na minha interaçāo com todas as pessoas. Afinal, existe somente um único Deus que ama e abençoa a todos igualmente.
