Éramos vizinhos há muitos anos. Ele tinha lá suas manias e não era muito sociável, mas ocasionalmente fazíamos uma refeição juntos, trabalhávamos em projetos conjuntos, cumprimentávamo-nos ao pegar a correspondência na caixa do correio e conversávamos na rua, defronte às nossas casas. Ele até mesmo recorreu a mim quando enfrentou alguns problemas familiares graves.
De repente, tudo mudou. Eu estivera trabalhando em um problema no tubo de drenagem em frente à minha casa, o qual ameaçava romper, com a pressão da água, a encosta e o leito da rua. O caminhão abandonado do meu vizinho estava estacionado sobre a boca-de-lobo, o que impedia meu acesso para fazer os reparos, mas ele ignorou meus inúmeros pedidos para que o retirasse.
Finalmente, vários dias depois, já com minha paciência esgotada, pedi a um policial que fazia a ronda na rua, se ele poderia me ajudar a resolver o problema. O policial colocou um aviso de advertência no veículo, o qual exigia que meu vizinho movesse o caminhão dentro de 72 horas, ou o veículo seria rebocado.
Quando ele viu a advertência, ficou furioso. Gritou e me amaldiçoou, e logo em seguida arrumou alguns homens que empurraram o caminhão quebrado para frente da minha casa, anunciando que, daquele momento em diante, aquele espaço seria permanentemente dele para estacionar todos os seus veículos, por quanto tempo quisesse.
Nunca havíamos nos deparado com tanto ódio
Minha esposa e eu ficamos perplexos. Nunca havíamos nos deparado com tanto ódio e vingança dirigidos a nós. Quando outros vizinhos nos contaram que esse homem tinha um histórico de violência e de abuso de álcool, e que colecionava muitas armas de fogo, deixamos de estar apenas zangados, ficamos atermorizados.
Seus horríveis caminhões permaneciam estacionados em frente à nossa casa. Nossas visitas e entregadores tinham de estacionar em outros locais. Chegamos ao ponto de minha esposa e eu começarmos a culpar um ao outro por provocar tal confronto. Até mesmo cogitamos nos mudar de casa e da vizinhança que tanto amávamos e onde morávamos havia mais de 30 anos.
Sabia, por experiência, que a oração é a única maneira de trazer uma solução harmoniosa, permanente e sanadora. Portanto, orei para ver tanto meu vizinho quanto a mim mesmo, sob uma luz mais clara, uma luz espiritual, em vez de dois adversários se confrontando mutuamente com ódio e retaliação.
Foi então que me lembrei de um incidente ocorrido havia alguns anos, quase idêntico ao que enfrentava naquele momento. Uma senhora havia me ligado à meia-noite para me pedir ajuda por meio da oração. Ela explicou que era viúva e vivia sozinha, mas tinha a companhia de um cachorrinho da raça schnauzer. Ela estava tendo contínous problemas com um vizinho que morava na porta ao lado, cuja descrição se encaixava com a do meu vizinho. Ele havia estacionado seu caminhão cheio de lixo, de tal maneira que bloqueara totalmente a entrada da garagem dela, e se recusava a retirá-lo.
Desesperada, ela chamara a polícia, que o fez retirar o caminhão. Depois disso, ele começou a xingá-la e a ameaçá-la. No dia seguinte, seu cachorro comeu um pouco de carne, que o vizinho havia jogado no quintal, e entrou em convulsões. Ela levou o cachorro ao veterinário, que confirmou que o cachorro tinha sido envenenado. Tudo que poderia fazer, disse ele, era aplicar uma injeção para aliviar a dor, mas que o animal não sobreviveria.
Como ela se sentiria se Jesus mudasse para a casa ao lado?
Foi nesse ponto que ela me ligou, com o cãozinho deitado aos seus pés, quase sem vida. O que me veio ao pensamento foi perguntar a essa senhora como ela se sentiria se seu vizinho mudasse de repente e Jesus viesse morar ali como seu novo vizinho. Ela gostou muito dessa ideia. Então, perguntei-lhe que qualidades de Jesus fariam dele um bom vizinho. Ela respondeu algo neste sentido: "Ora, Jesus seria limpo. Esse homem é sujo! Jesus seria bondoso. Ele não ofenderia ninguém, e teria consideração pelos sentimentos dos outros".
Claramente o pensamento da mulher estava mudando para uma direção mais espiritual. Pedi a ela que refletisse sobre todas as qualidades amorosas que Jesus teria manifestado, e que ela esperava ver em todos os filhos de Deus, inclusive em seu vizinho. Disse-lhe que gostaria de orar por ela nesse mesmo sentido.
Às 7 horas da manhã seguinte, a senhora ligou para contar que seu cachorro havia se recuperado completamente. Seu focinho estava frio e molhado, e acabara de comer sua comida. Ela até mesmo me enviou uma foto dele com um laço no pescoço. Também me disse que já não sentia mais nenhuma animosidade em relação ao vizinho. O ódio e a vingança foram substituídos pela compreensão do Cristo a respeito desse homem, tornando a cura inevitável.
Quando essa experiência me veio ao pensamento, percebi que precisava praticar aquilo que havia pregado. Compreendi que eu também havia estado irritado, cheio de justificação própria e, até mesmo, vingativo. Sabia que essas não eram as qualidades que desejava demonstrar.
Também havia me sentido muito presunçoso com relação à rua em frente à nossa casa; havia assumido a responsabilidade de cuidar de sua manutenção, de fazer reparos e de providenciar para que fosse pavimentada. Reconheci também que, nesse processo, havia desenvolvido uma atitude de dono da rua e um certo sentimento de possessividade.
Enquanto orava, compreendia, de forma gradual, que a rua era realmente de Deus, isto é, era habitada por Seus filhos e filhas e, de acordo com Sua visão, todos eram igualmente amados e amáveis, atenciosos e colaboradores.
Reconheci que o trânsito na rua não era composto apenas por pessoas e automóveis se movimentando aleatoriamente, mas representavam os pensamentos inspirados de Deus, de bondade, benevolência, justiça, compaixão e perdão, entre os quais eu estava incluído.
À medida que orava, era como se mentalmente um "caminhão em movimento" levasse para longe uma grande carga de pensamento egocêntrico. Compreendi que a indignação e o medo que haviam paralisado minha esposa e eu, poderiam ser tratados dentro do meu próprio pensamento. Não era meu vizinho que precisava sair, mas sim meu falso senso a respeito de quem meu vizinho era e também de quem eu era.
Esta declaração de Ciéncia e Saúde ajudou no processo de cura: "Em paciente obediência a um Deus paciente, trabalhemos por dissolver, com o solvente universal do Amor, a dureza adamantina do erro—a obstinação, a justificação própria e o egotismo—que faz guerra contra a espiritualidade e é a lei do pecado e da morte" (p. 242). Minha esposa e eu concordamos em focar nesse senso mais elevado de vizinhança e o enalteceríamos como parte de nossa oração diária.
A oração mudou nossos pensamentos
Com a oração, nossos pensamentos mudaram. Começamos a dormir melhor à noite e não nos apressávamos logo cedo a cada manhã para ver se "o caminhão" ainda estava lá. Já não nos sentíamos amedrontados e paramos de falar em nos mudarmos.
Minha prosperidade e paz não dependem de circunstâncias externas, mas dos próprios pensamentos sobre os quais edifico minha vida.
O caminhão de meu vizinho ainda está estacionado na frente de nossa casa, mas o grande obstáculo que ele representava, a vingança e o ódio, dissiparam-se. Ao invés disso, gosto de pensar na rua em que moramos como alicerçada na rocha do Cristo, a Verdade, na qual nada pode entrar para destruir minha visão pacífica sobre meu vizinho, sobre mim mesmo ou sobre a própria vida.
Minha prosperidade e paz não dependem de circunstâncias externas, mas dos próprios pensamentos sobre os quais edifico minha vida. Esta passagem bíblica reforça esse fato: "Direis àquele próspero: Paz seja contigo, e tenha paz a tua casa, e tudo o que possuis tenha paz!" (1 Samuel 25:6). Agora sei que a nossa rua também faz parte dessa promessa.
