Eu estava perto de concluir o curso de Direito e me questionava sobre que carreira seguir. Eu não tinha dúvidas sobre o melhor caminho para conseguir bons resultados financeiros, embora considerasse isso importante. Todavia, tinha a convicção de que uma profissão exercida com prazer, satisfação e utilidade me traria a realização total que eu almejava, inclusive a financeira.
Naquela época, eu fazia estágio em um escritório de advocacia, oportunidade que me fez acompanhar de perto a rotina de trabalho de um advogado. Apesar da importância e relevância social dessa profissão, eu não consegui me identificar, pessoalmente, com sua atividade. Acredito que cada pessoa desenvolve talentos de acordo com a sua individualidade, tal como sugere Paulo: "Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso" (1 Coríntios 12:4, 7).
Depois de formada, decidi ingressar no curso de pós-graduaçāo da Escola de Magistratura, que prepara para o concurso público de juiz. Minha família me apoiou na decisão de não trabalhar para dedicar-me, integralmente, aos estudos, visando à minha aprovação no concurso de ingresso em uma carreira pública.
Confesso que não foi nada fácil. Durante algum tempo, esforcei-me para me acostumar a uma rotina de muitas horas diárias de estudo. O medo e a insegurança eram constantes, devido à dificuldade dos concursos públicos. Eu convivia com outros estudantes na mesma situação e presenciava, diariamente, conversas sobre frustrações e insucessos. Por muitas vezes pensei: "será que eu vou conseguir algum dia"? Nesses momentos, eu buscava apoio nos ensinamentos da Bíblia e do livro Ciência e Saúde para manter a confiança de que Deus é meu Pai, e, portanto, meu provedor, meu guia e a fonte de todo o meu sustento e inteligência. Eu procurava me identificar com a "ovelha" suprida, do Salmo 23, guiada com amor e guardada de todo o mal. Como escreveu o salmista, reconhecia que nada poderia me faltar. (ver Salmos 23:1). Contei também com o apoio em oração de uma Praticista da Ciência Cristã.
Eu também orava com as ideias deste trecho de Ciência e Saúde: "O Amor divino sempre satisfez e sempre satisfará a toda necessidade humana" (p. 494). Depois do primeiro semestre na Escola de Magistratura, ganhei uma bolsa de estudos integral por ter conseguido a melhor média de notas da minha turma. Foi uma pequena vitória que me trouxe enorme alívio, já que eu me sentia muito desconfortável pelo fato de minha família financiar cursos e livros caros. Mantive o bom desempenho acadêmico nos semestres subsequentes, e continuei sendo agraciada com a bolsa de estudos.
Ao longo do curso, inscrevi-me em alguns concursos públicos de diversas carreiras jurídicas. A aprovação, entretanto, não veio rápido. Procurei, então, orar de uma forma mais abrangente pela situação. Dediquei horas diárias de estudo para a leitura da Lição Semanal da Ciência Cristã e para artigos de O Arauto sobre suprimento e trabalho.
Esse estudo me fez compreender que, como filha de Deus, eu era uma ideia espiritual em atividade ininterrupta e adequada para mim. Percebi que o propósito divino para o qual fui criada sempre esteve, naturalmente, em ação. Procurei compreender o sentido espiritual da Vida, Deus, como desdobramento contínuo e infalível do bem, e essa compreensão foi substituindo a sensação de que eu estava sozinha lutando por um trabalho, sem qualquer garantia ou perspectiva.
Parei de encarar a rotina intensa de estudos como um sacrifício ou martírio pelo qual a recompensa era incerta. Ao invés disso, me sentia grata a cada novo conhecimento que eu adquiria nos livros jurídicos, e imaginava como eles poderiam ser úteis na minha atuaçāo profissional.
Como expressão da Mente, outro sinônimo de Deus, compreendi também que eu reunia todas as qualidades necessárias para o desempenho da atividade espiritual que jáera, naquele exato momento, por mim desenvolvida, e que, portanto, estava rendendo muitas bênçãos.
Eu prosseguia com o curso na Escola da Magistratura, mas o desejo de abençoar a humanidade, em qualquer que fosse a carreira, já era maior do que o desejo de ser juíza. Em seguida, fui aprovada para a terceira e última fase do concurso público do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, instituição destinada à defesa da sociedade. Seria uma etapa de provas orais, na qual eu seria arguida por bancas examinadoras.
Durante os dias que antecederam tais provas, senti muito medo. O apoio da minha família, que também estuda a Ciência Cristã, proporcionou-me um alento fundamental. Nos momentos mais difíceis, enquanto eu chorava, minha māe sorria, sem se contagiar pelo desespero, e me dizia, calmamente: "Deus sabe tudo". É claro que Deus não responderia por mim sobre doutrinas jurídicas e leis humanas, mas Ele é a abundante fonte da inteligência, sabedoria, intuição e harmonia, com a qual eu poderia contar ao longo do caminho.
Procurei ajuda pela oração, e me recordo com carinho da firme orientação recebida de meu Professor de Ciência Cristã: "Trate de ir para as provas não para ser aprovada pelos homens. Você já foi aprovada por Deus. Portanto, trate de ir para mostrar a eles o que Deus deu para você"!
Na primeira banca, fui aprovada com excelentes notas. Fiquei muito grata a Deus porque, embora eu não tivesse respondido com exatidāo a todas as perguntas, pude desenvolver um bom raciocínio sobre o meu conhecimento das matérias, com serenidade, sabedoria e perspicácia.
Na véspera do segundo dia de provas, enquanto eu revisava a matéria, senti-me guiada a ler alguns trechos de livros e artigos que havia muito não lia. Um deles, sequer fazia parte das disciplinas que seriam arguidas por aquela banca, mas segui com naturalidade aquela intuição. Para treinar minha oratória, tive a inspiração de selecionar um determinado tema e discorri sobre ele em voz alta diante da minha mãe.
Para minha alegria, durante a prova, percebi que aquela inspiração da véspera vinha de Deus, pois fui questionada exatamente sobre aqueles trechos que eu lera, inclusive sobre o tema com o qual eu havia treinado em voz alta. Respondi às perguntas com exatidāo, mas foram a tranquilidade, a segurança e a eloquência que impressionaram a banca examinadora. Ao final, depois de receber nota máxima em todas as disciplinas, um dos examinadores chegou a me perguntar: "a senhorita leciona em algum lugar"?
Hoje, sou Promotora de Justiça e, há cinco anos, atuo com total identificação pessoal e realização profissional, em uma área chamada Tutela Coletiva, que defende interesses difusos e coletivos da sociedade, como a tutela ao meio ambiente, ao patrimônio público e ao exercício da cidadania, o que inclui a tutela à adequada prestação de políticas e serviços públicos de relevância social, bem como defesa da moralidade e da probidade na administração pública. Estou feliz e sinto que estou no lugar certo, portanto, não penso mais em qualquer outra carreira. O melhor é que, enquanto estudante, sempre admirei essa área de atuaçāo do Ministério Público, por imaginar a utilidade que ela teria para a sociedade, de uma forma mais abrangente. "O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do senhor" (Provérbios 16:1). Deus, de fato, guiou-me para o caminho correto. *
 
    
