Será que cada pessoa, ou todas elas, têm um lugar determinado? Deve esse lugar ser preenchido, quer aqui ou no além? Mary Baker Eddy provavelmente entendeu que sim. Ela escreveu em sua autobiografia: "Nenhuma pessoa pode incumbir-se da missão individual de Jesus de Nazaré, ou cumpri-la. Nenhuma pessoa pode tomar o lugar da autora de Ciência e Saúde, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã. Cada indivíduo tem de ocupar seu próprio nicho no tempo e na eternidade" (Retrospecção e Introspecção, p. 70).
Tenho ponderado com frequência essas palavras, especialmente tendo em vista que, ao longo dos anos, vivi em muitos lugares, desempenhei muitos papéis, engajei-me em inúmeras e variadas atividades. Sei, pela minha vasta experiência, que muitas pessoas lutam com a incerteza e uma profunda infelicidade a respeito da questão de seu lugar certo.
Muitos de nós não estão contentes em apenas viver uma determinada sequência em uma história material, especialmente quando os acontecimentos dessa história parecem fortuitos e não relacionados entre si, talvez sem sentido e não de acordo com nossos próprios planos ou desejos.
Uma história sobre o movimento da Ciência Cristã publicada em 1952, de Norman Beasley, declara que: "era firme a convicção de Mary Baker Eddy de que Deus dá a cada um de nós um lugar e exige desse indivíduo que ele preencha esse lugar" (The Cross and the Crown [A Cruz e a Coroa] New York: Duell, Sloan and Pearce, 1952, p. 342).
"...Deus deu a cada um de nós um lugar..."
O autor então fez uma citação de um pequeno ensaio sem assinatura intitulado: "Our Place" (Nosso Lugar), publicado na edição de dezembro de 1883 de The Christian Science Journal. Esse ensaio diz, em parte: "Creio que Deus deu a cada um de nós um lugar e nessa criação harmoniosa não existe nenhum vácuo, nada deixado de fora, nada faltando, embora possamos tentar respirar sem ar, ou pensar sem a mente, de tal sorte que imaginamos poder orbitar fora da ordem divina do ser ou tomar qualquer lugar que não o nosso próprio... Nunca vemos as estrelas competindo pelo lugar uma da outra, nem o sol em desacordo com a lua; nem vimos Paulo tomar o lugar de Pedro ou João o lugar de nosso Mestre, ou vice-versa. Cada coisa, ou pessoa, preenche seu próprio lugar, quer tenham conhecimento disso ou não; e eu, entre tantos, estaria satisfeito na doce consciência de que tenho um lugar contigo, Amor eterno; não importando se grande ou grandioso, humilde ou pequeno, eu faço parte da Tua criação; portanto, sou Teu".
A necessidade de se estabelecer um conceito correto de lugar ocorre a todos nós, e não se refere apenas a espaço, localidade, moradia ou posição em relação aos outros, ou a uma determinada responsabilidade, trabalho ou dever, mas o mais importante, à identidade, atividade, propósito, segurança, mesmo quando permanecemos no mesmo lugar toda a nossa vida.
A conclusão a que cheguei é que a certeza de "...todos encontrarem seu lugar no grande amor de Deus..." (Miscellaneous Writings 1883—1896, p. 182) será cumprida na medida em que despertarmos e começarmos a manifestar nosso status verdadeiro como a imagem e semelhança de Deus, inseparáveis do nosso Criador. Como o Salmista o coloca: "quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança" (Salmos 17:15).
Nossa necessidade constante é a de alinhar o pensamento com os fatos espirituais do ser e substituir dúvidas e temores humanos pela confiança no controle infalível de Deus.
Podemos vivenciar o reino do céu dentro de nós, aqui e agora
Se recorrermos à Mente divina, reconhecendo-a, cedendo a ela e conscientemente alinhando-nos a ela e ao que sabemos a respeito de sua própria criação, poderemos vivenciar até certo ponto, aqui e agora, a saúde, a harmonia, a ordem, a segurança e a abundância que definem o reino do céu dentro em nós, ou seja, nossa eterna habitação.
Nada a respeito da Mente divina é sem propósito ou fortuito. Portanto, nada a respeito de sua criação pode estar desordenado, deslocado, discordante, desapossado de qualquer bem ou sujeito ao acaso, conflito, perda, doença, deterioração e morte. Quando despertamos para essa verdade, como, na parábola de Jesus, fez o filho pródigo quando caiu em si, descobrimos nosso verdadeiro status e unidade inalterável com o Pai, nosso Princípio divino ou fonte.
Portanto, nosso lugar não é exterior, mas interior. Não é onde o corpo está o que conta, mas onde nosso pensamento está. Quando habitamos conscientemente "no esconderijo do Altíssimo", habitamos com segurança "á sombra do Onipotente" (ver Salmos 91:1). Então, nossa necessidade constante é a de alinhar o pensamento com os fatos espirituais do ser e substituir dúvidas e temores humanos pela confiança no controle infalível de Deus. Nosso empenho é o de ceder, como Cristo Jesus o fez no Getsêmani, à vontade de Deus manifestando-se em nós.
A história humana tem significado somente à medida que ela ilustra o plano divino
De fato, a meu ver a história humana tem significado somente à medida que ilustra o plano divino em açāo, ou seja, que os acontecimentos significativos de minha vida, ou da vida de qualquer outra pessoa, sejam aquelas ocasiões em que, por meio do poder de Deus, fui curada mental e fisicamente, ou fui guiada e protegida.
Esse desdobramento divino é individual, mas também é universal, uma vez que a Verdade é universal. "O cristianismo do Cristo é o encadeamento do ser científico que reaparece em todas as épocas, mantendo sua óbvia concordância com as Escrituras e unindo todos os períodos no desígnio de Deus. Na Ciência divina não existe emasculaçāo, ilusão nem insubordinação" (Ciência e Saúde, p. 271). Ninguém pode ser roubado de sua identidade original, dada por Deus, nem ser insubordinado ou desobediente com relação àquilo que Deus designa que esse indivíduo seja a faça.
Deus não somente prepara um lugar para nós, mas também nos prepara para esse lugar. Essa preparação talvez pareça tão longa e tão difícil como os 40 anos que os israelitas passaram no deserto. A distância física que eles tiveram de viajar não era grande, mas a preparação do pensamento para o autogoverno em obediência ao governo de Deus envolveu décadas de progresso.
Ninguém pode ser roubado de sua identidade original, dada por Deus, nem ser insubordinado ou desobediente com relação àquilo que Deus designa que esse indivíduo seja e faça.
O propósito da Mente divina foi cumprido
Entretanto, o propósito da Mente divina foi cumprido. Ele é cumprido em cada uma de suas ideias e no universo como um todo. O que Deus determina nunca pode ser anulado.
Tenho frequentemente reconsiderado com empatia os 45 anos da trajetória que Mary Baker Eddy descreveu como a preparação repleta da graça de Deus. Essa história me ajudou quando se tornou óbvio que, após 40 anos de casamento, eu não mais teria um lugar nas antigas afeições de meu marido.
Uma vez que eu havia usado toda minha própria herança para fazer benfeitorias em nossa casa e em benefício dos filhos, estando meu marido desempregado na ocasião, eu dependia agora somente dos meus próprios ganhos. Ainda assim, ninguém pode viver uma mentira ou permanecer em um lugar que já foi superado.
Assim que me dispus a abrir mão de tudo, mais bênçãos, afeto e apoio do que eu jamais havia vivenciado antes se desdobraram em minha vida, não pelo meu próprio esforço ou que até mesmo os tivesse planejado, mas Deus me restituíra: "...os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador" (Joel 2:25). Nos anos subsequentes, meus horizontes se expandiram em mais atividade, fruição e felicidade do que jamais havia acontecido antes.
Nosso trabalho nunca é em vão
Concluí que não somente cada indivíduo precisa preencher seu próprio espaço, mas que nosso trabalho nunca é em vão, nunca pode ser usurpado, corrompido ou destruído por outra pessoa, porque é a vontade de Deus e não a vontade humana que está em açāo. Nenhum de nós jamais pode ser desapossado do bem que Deus dá ou roubado de nosso lugar no plano divino. Nem mesmo quando a mais traiçoeira inveja, ciúme ou a ambição mais cruel pareça estar em ação.
Em realidade, as ideias de Deus não competem nem rivalizam umas com as outras mais do que o número 3 compete com o número 4. Cada um de nós, assim como cada número, tem seu próprio lugar, valor, função e papel que lhe são únicos, e ninguém mais pode tirá-los. Cada um de nós tem seu próprio lugar "no grande amor de Deus", agora e sempre.
Isso implica que a verdade que Mary Baker Eddy descobriu e a Igreja que ela fundou, devem continuar a cumprir o propósito de Deus, devem preencher eternamente seu lugar nesta "era espiritual que avança" (Ciência e Saúde, p. 65). O fermento sobre o qual Cristo Jesus falou que estava "escon[dido] em três medidas de farinha" (Ibidem, p. 107; Mateus 13:33) precisa fazer sua obra, e o fará, enquanto o fermento permanecer puro e ativo.
As próprias palavras de Mary Baker Eddy fornecem a resposta para qualquer dúvida sobre o nosso lugar ou o lugar do movimento da Ciência Cristã: "Se permanecerdes no Amor, nenhum de vós pode ser separado de mim; e a doce sensação de que viajamos juntos, fazendo aos outros o que quereis que eles vos façam, vencereis toda oposição, superareis todos os obstáculos e o vosso êxito será assegurado" (Miscellaneous Writings 1883-1896, p. 135).
Mais além, ela escreveu: "Edificada sobre a rocha, nossa igreja resistirá aos ataques dos séculos; e ainda que a estrutura material fosse reduzida a pó, os mais aptos sobreviveriam—a ideia espiritual viveria como um símbolo perpétuo do Princípio divino que reflete" (Ibidem, p. 140).
A vida e a contribuição de cada individuo são determinadas por Deus
A vida, a continuidade, a atividade, o propósito, o status, a posição e a contribuição de cada indivíduo são determinados por Deus. Aqui e no além, esse propósito continua e "as portas do inferno" (Mateus 16:18) não prevalecerão contra ele. Existe um "padrão de retidāo que regula o destino humano" (Miscellaneous Writings 1883-1896, p. 232). Além disso, a ressurreição ou "...uma idéia nova e mais elevada da imortalidade, ou existência espiritual..." (Ciência e Saúde, p. 593) está continuamente sendo alcançada, tanto pessoal como universalmente. Deus está sempre trazendo a Verdade à luz, está sempre fazendo "novas todas as coisas" (Apocalipse 21:5).
Mesmo se encontrássemos a mesma rejeição que Jesus encontrou, a mesma hostilidade e aviltamento, a mesma inveja e ódio, nossa verdadeira identidade crística não poderia ser crucificada pela mundanalidade, assim como a identidade de Jesus não o foi. Ao carregar sua cruz, vencemos e carregamos sua coroa. A voz da Verdade nunca pode ser silenciada, nem podem as pessoas, que dão testemunho da Verdade, perder seu lugar, seu status ou o papel essencial no plano universal de Deus.
O único modo seguro para encontrarmos esse lugar e prenchê-lo é vivendo o amor que nunca falha. Retribuindo o mal pelo bem. Perdoando a mentira do erro. Continuando a confiar na capacidade de Deus de transformar em bem todo o mal que a malícia, nascida da ignorância, da mundanalidade ou da rivalidade e ambição pessoal tentaria causar.
A Bíblia nos assegura que: "O presente que o homem faz alarga-lhe o caminho" (Provérbios 18:16). Esse presente é concedido por Deus e Ele nunca dá um presente sem também proporcionar exatamente a maneira e os meios corretos de utilizá-lo.
Nunca podemos carecer de oportunidade ou de realização
A despeito de como isso possa parecer humanamente, o fato espiritual é que nunca podemos carecer de oportunidade ou de realização. Nem podemos ser roubados ou desalojados daquilo que Deus ordenou para nós. "Aquilo que Deus conhece, Ele também predestina; e forçosamente se cumpre", escreveu Mary Baker Eddy (Não e Sim, p. 37).
O mal, algumas vezes aparecendo em nome do bem ou disfarçado como o bem, não tem nenhum lugar no que é certo e precisa ser finalmente expulso da consciência e da experiência. Nem tem o ódio um lugar no Amor, o dolo um lugar na Verdade, nem a matéria um lugar no Espírito.
Quando pisamos a "terra santa" (Êxodo 3:4, 5), o lugar do discernimento espiritual; quando vemos como Deus vê, mesmo que por um breve momento; quando discernimos a natureza espiritual indestrutível de cada ideia na criação de Deus; então nós também podemos obter a confiança de que nenhuma experiência ou prova de fogo destrutiva pode diminuir, consumir ou destruir a essência e a substância do ser.
Nosso trabalho nunca é em vão, nunca pode ser usurpado, corrompido ou destruído por outra pessoa, porque é a vontade de Deus e não a vontade humana que está em açāo.
A vida e a vitalidade de cada uma das ideias de Deus permanecem a salvo
Vi encostas de montanhas inteiramente consumidas pelo fogo, desnudadas de toda vegetação, cobertas com relva verde e flores silvestres na primavera seguinte, mesmo em anos de seca persistente. Portanto, a vida e a vitalidade, o desabrochar e o propósito de cada uma das ideias de Deus permanecem a salvo na inteligência divina que as origina. Cada ideia é governada, não pelo acaso ou circunstância, mas pelo Princípio ou lei divina, que é o Amor infinito.
No momento em que "havemos de chegar à nossa verdadeira identidade" por meio do Amor; em que nós "amaremos, se outro odeia", então "ganharemos um saldo a favor do bem" (Miscellaneous Writings 1883-1896, p. 104), a favor somente daquilo que tem realidade ou poder. Em tal caso, começamos no mesmo momento a preencher nosso lugar no grande amor de Deus, como todos nós devemos fazê-lo, eternamente.
 
    
