Moro perto da Lagoa Rodrigo de Freitas, que, juntamente com as montanhas ao seu redor, forma um dos pontos turísticos mais apreciados de minha cidade, o Rio de Janeiro.
Infelizmente, de tempos em tempos, por uma série de fatores como falta de oxigenação, esgotos e lixo lançados na Lagoa, ocorre grande mortandade de peixes, poluindo ainda mais suas águas e todo o ambiente ao redor. É muito triste ver tantos peixes boiando em toda a sua extensão.
As autoridades locais têm investido em obras para alargar o canal que liga a Lagoa ao mar e para eliminar esgotos clandestinos, assim como em campanhas de conscientização junto à população.
Em uma dessas campanhas, uma grande quantidade de lixo foi recolhida, formando um grande monte, com o objetivo de chamar a atenção e conscientizar a todos sobre a responsabilidade que cada um tem na preservação desse precioso bem que pertence a todos.
Gosto muito de correr em torno da Lagoa, o que faço quase todos os dias. Quando passei pelo monte de lixo, de início, fiquei chocada com a quantidade de resíduos e logo me veio ao pensamento esta frase: "o que está fora é reflexo do que esta dentro". Logo em seguida, fiz uma analogia. Percebi que o lixo representava o pensamento coletivo que paira sobre a cidade, o qual envolve o medo, a violência, a corrupção, a falta de oportunidade e a sensualidade, entre outros problemas.
Infelizmente, também acumulamos individualmente muito lixo em nosso pensamento, o que dificulta que nossa consciência seja inundada com as águas cristalinas da Verdade e do Amor, as quais trazem o frescor e a transparência das bênçãos divinas, isto é, uma maior percepção do amor e do cuidado infinitos de Deus para com cada um de nós, aqui e agora. É comum achar que a maneira correta e racional de viver é aquela que o mundo material nos aponta. Entretanto, estas perguntas de Ciência e Saúde revelam as consequências de tal paradigma: "Qual é o modelo que está diante da mente mortal? Será a imperfeição, a alegria, a tristeza, o pecado, o sofrimento? Aceitaste o modelo mortal? ... O mundo põe-no continuamente diante de teus olhos. O resultado é que ficas propenso a seguir esses padrões inferiores, a limitar a obra de tua vida e a adotar na tua experiência o contorno anguloso e a deformidade dos modelos da matéria" (p. 248).
Acumulamos responsabilidades que, com o tempo, começam a "pesar" em nossa mente. Pode-se, em função disso, desenvolver um senso de responsabilidade pessoal pelo bem-estar de nossa família, pelo progresso de nosso país, pelos nossos amigos, pelas pessoas a quem ajudamos, pelos fatos que ocorrem no mundo. Tudo isso pode nos enredar de tal maneira, que nos vemos totalmente atados, indefesos, sobrecarregados e, muitas vezes, frustrados. Não é isso um tipo de lixo mental do qual precisamos nos livrar? A Bíblia está repleta de promessas, tais como: "...tomai posição, ficai parados e vede o salvamento que o Senhor vos dará..." (2 Crônicas 20:17). Quando compreendemos essas palavras pela leitura inspirada da Bíblia, começamos a nos desvencilhar de todo o peso e passamos a perceber que nossa única responsabilidade é a de "tomar posição", compreender e ser fiel à nossa verdadeira filiação como filhos perfeitos de Deus; tomar posse de nossa herança e, sobretudo, confiar em Deus manter também o coração transbordante de gratidão.
Há algum tempo, senti-me sobrecarregada, pois estava lidando com doenças de familiares, que não seguem os ensinamentos da Ciência Cristã e começando na Prática Pública da Ciência Cristã. Era grande o conflito ao lidar com maneiras de pensar e comportamentos diferentes dos meus em relação à doença. Esforçava-me para não desanimar e me manter firme na Verdade. O assunto em pauta nas reuniões familiares girava em torno de doenças, médicos e remédios. Começavam a ocupar meu pensamento o sentimento de frustração e a pergunta: "Será que estou no caminho certo"?
Certa noite, despertei com uma dor muito forte nas costas; nunca havia sentido nada parecido. Mesmo com o susto, consegui dizer em voz alta que no Reino de Deus não existe dor e que meu ser habita nesse reino. Adormeci de novo, mas logo acordei, tomada pelo pânico, pois a dor era quase que insuportável. Eu só tinha forças para dizer: "Deus é minha vida". Uma de minhas netas dormia com a babá no quarto ao lado. De manhã, para justificar o fato de que eu não conseguia caminhar ereta, eu disse para a babá que estava com "um pouco" de dor nas costas. Tive de pedir a Deus muito domínio para poder levá-las para a casa de meu filho, sem que a babá percebesse o que estava acontecendo. Além de não querer preocupar meu filho, também desejava me manter fora de qualquer influência mental diferente da espiritual.
As dores continuaram muito fortes e eu já não estava conseguindo orar. Decidi pedir ajuda para uma Praticista da Ciência Cristã, que acalmou o meu medo e me fez lembrar que a dor era apenas uma sugestão mental, e, como tal, não tinha nenhum poder. Ela também disse que o amor de Deus por mim é tão grande e tão mais poderoso do que qualquer dor, que nada poderia bloquear ou impedir o meu progresso espiritual. Nada poderia me distrair do meu objetivo de servir a Deus ou de me afastar da minha verdadeira identidade, que é espiritual, a manifestação da perfeição de Deus, que não conhece dor ou sofrimento de qualquer espécie.
Durante dois dias, apesar da dor intensa, apeguei-me com todas as minhas forças aos ensinamentos de Cristo Jesus, por meio da leitura de suas curas na Bíblia, e também a este trecho de Ciência e Saúde: "Quando a ilusão da doença ou do pecado te tentar, apega-te firmemente a Deus e Sua idéia. Não permitas que coisa alguma, a não ser Sua semelhança, permaneça no teu pensamento. Não deixes que o medo ou a dúvida obscureçam tua clara compreensão e tua calma confiança de que o reconhecer a vida harmoniosa—como o é eternamente a Vida—pode destruir toda sensação dolorosa daquilo que a Vida não é ou toda crença naquilo que ela não é" (p. 495).
Compreendi que Jesus curava aqueles que acreditavam em suas palavras por amor a todos. Ele não se intimidava frente aos problemas, fossem eles quais fossem.
Compreendi que Jesus curava aqueles que acreditavam em suas palavras por amor a todos. Ele não se intimidava frente aos problemas, fossem eles quais fossem. Compreendi também que a maior e única responsabilidade que eu tinha com a minha família, meus filhos, noras e netos era a de reconhecer e confiar, de todo o meu coração e com toda a minha força, na onipresença, onipotência e onisciência de Deus; saber que tudo estava sob o controle divino, que tudo estava bem e que nada podia resistir ou obstruir a ação e a manifestação da Verdade, mesmo que as aparências dissessem o contrário. Comecei a entendar que minha responsabilidade em relação à família era a de simplesmente exercer a função que eles esperavam de mim, a de ser uma boa mãe e avó e, acima de tudo, exercer a função que Deus esperava de mim, amar, amar e amar. Mary Baker Eddy escreveu em Não e Sim: "Orar significa utilizar o amor com que Ele [Deus] nos ama" (p. 39). Era isso que eu tinha de fazer, deixar esse Amor fluir.
Após orar dessa forma por três dias, senti-me bem, sem dor, muito agradecida e pronta para atender a uma pessoa que estava necessitando de um tratamento pela oração, confiante de que o Amor divino me inspiraria e supriria todas as minhas necessidades, como mãe, avó e Praticista da Ciência Cristã.
Não procurei saber qual era o diagnóstico ou a causa física da dor, pois a Ciência Cristã ensina que a cura não depende do que os sentidos materiais nos dizem, mas da nossa obediência às leis do Amor, da Verdade e da Vida, e do reconhecimento da nossa natureza e identidade espirituais, para sempre inseparáveis de nosso Criador.
O resultado do trabalho abnegado de remover do pensamento todo o lixo, tudo que é dessemelhante de Deus, vem com a certeza em nosso coração que se torna, com o tempo, um estado de consciência puro e tranquilo que cresce e se expande, ocupando todos os espaços, não deixando lugar para medos, dúvidas ou doenças, isto é, para o acúmulo de lixo. Essa limpeza mental nos dá a certeza, no dia a dia, da realidade eterna do reino de Deus, o bem, e de Sua vontade. Mesmo que dificuldades e sugestões mentais tenham a pretensão de nos assustar e nos afastar da verdade e da realização do bem, seguimos adiante com nosso propósito de cura, porque sabemos que Deus é onipotente.
