Enquanto vivi na Grécia, na década de 1990, casei-me com uma adorável moça ateniense. Descobri que meu compromisso com ela incluía o país, a comida, o idioma, o calendário daquele país e, especialmente, seu filho, Georgie.
Vi Georgie, uma adorável criança de cinco anos, pela primeira vez, na pensão de sua mãe. Ele brincava animadamente sozinho, atrás da caixa registradora, jogando uma moeda para o ar e, em seguida, acomodou-se calmamente cantarolando uma melancólica canção grega. Fiquei encantado. Notei também que ele não enxergava; mesmo assim, ele e eu saímos para um passeio, naquele mesmo dia.
Logo soube que os amigos de minha esposa conheciam a história dela, só que de trás para frente. Tudo o que eles viam era uma mãe separada com um filho cego e, um futuro difícil e penoso adiante. Quando apareci, esses amigos foram rápidos em lembrá-la o quão felizarda ela era por me ter encontrado, como se eu fosse um cavaleiro americano que veio para resgatá-la. Ela suportava todos os comentários em silêncio, enquanto eu ficava muito zangado com a própria “cegueira” deles. De uma só vez, Deus havia me dado dois amores, que prontamente me aceitaram e me amaram.
Entretanto, uma família, responsabilidades imediatas e a barreira da linguagem me mostraram que eu ainda tinha muito a aprender. Minha prática espiritual naquela época, ligada à meditação das artes marciais, havia trazido equilíbrio e paz à minha vida, mas não havia me ensinado a amar verdadeiramente. O amor que eu expressava parecia mais como um voto de esforço espiritual.
Naqueles dias, eu precisava de apoio de todos os lados, tanto terrenais quanto celestiais. Este ditado de um monge franciscano: "O dever antes de algo sagrado" veio-me ao pensamento como um consolo. O algo sagrado, aos meus olhos, era a meditação das artes marciais que eu ensinava. O dever, por outro lado, era o de ser um bom pai. Nunca saberei a razão pela qual, na época, cuidar do Georgie fosse algo sagrado. Sua necessidade de ajuda a tudo quanto fazia, comer, tomar banho, ser levado de um lugar para o outro, deixava-me demasiadamente deprimido, e essa depressão acabava me dominando. Minha paciência desaparecia. Eu reagia e, em seguida, sentia remorso. Georgie merecia muito mais e eu sabia disso.
Meu clamor a Deus parecia não me levar a lugar nenhum. Sentia-me distante do bem espiritual pelo qual ansiava. Não fomos feitos apenas para amar, perguntava-me? O que era necessário para alcançar esse amor? Voltar para os Estados Unidos e encontrar a Ciência Cristã.
Quando estávamos vivendo em Boston, minha esposa e eu recebemos exemplares de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, em grego e em inglês. Meu "voto de esforço espiritual” começou a desaparecer e “a atuação sem esforço da energia divina” (Ciência e Saúde, p. 445) começou a aparecer.
Um senso espiritual sobre Deus e o homem despontou em meu pensamento, sobre um Deus amoroso, sempre presente, e Seus amados filhos, o que ocorreu de forma muito natural. Como poderia a vida ser de outro modo, pensei. Sentia como se estivesse de volta nos braços de Deus. Minha família se sentia assim também.
Não posso dizer que abandonei os velhos hábitos da noite para o dia, mas compreendi melhor a respeito de “dever”. O senso pesado, de obrigação de cuidar do meu filho, começou a desaparecer. Afinal, perguntei-me, quem era o seu Pai verdadeiro? Não eu, mas Deus, o Pai que Jesus nos mostrou, era o próprio Amor, ajudando a cada um de nós a encarar nossos deveres com mais dignidade. Eu não poderia tomar o lugar dEle. Entretanto, podia recorrer a esse conceito sobre Deus e realmente o fazia, quando a tensão tentava me dominar. Comecei a abandonar a ideia de que deveria haver um controle pessoal e passei a reconhecer o governo de Deus, o que permitiu afastar o sentido pessoal da situação e deixar que o Amor divino nos guiasse.
A vida com Georgie passou daquela fase em que eu dizia a ele o que fazer, para a fase de eu ouvi-lo mais. O maior progresso foi substituir minha necessidade de fazer correções incessantes na sua postura, na maneira de comer, de caminhar e de se organizar, pela compreensão que eu estava adquirindo da Ciência Cristã: a de que Deus concedera a ele inteligência e domínio sobre todas essas necessidades. Ao fazer isso, fiquei livre para amar mais. Pelo simples fato de estar ali para ajudá-lo caso precisasse, fui conquistando mais a sua confiança ao longo dos anos. Ele começou a se abrir comigo e a compartilhar seus desafios pessoais.
O tempo que passávamos juntos se tornou mais alegre. Ele gosta de dar risadas e de fazer jogo de palavras e trocadilhos, e eu também. Gosto de inventar equivalências engraçadas de palavras gregas e inglesas ou fazer piadas com as escolhas gramaticais que ele faz ou com minha própria pronúncia engraçada do grego.
Agora, quando chega a hora de ajudá-lo a aprender caminhos novos, como os que teve de aprender para caminhar pela faculdade no semestre passado, ocasião em que sugeri uma ou outra correção de percurso, certifico-me de que ele estará seguro na direção que deve tomar. Mas, acima de tudo, oro para perceber a mão de Deus mantendo, tanto a mim como a ele, no caminho certo.
    