Há pouco tempo, uma amiga me contou que, às vezes, ela percebe que critica um colega membro da igreja, a quem ela realmente admira muito. Disse que esses pensamentos a perturbam, mas que se sente incapaz de se livrar deles, embora a façam se auto condenar, sentir-se triste e, frequentemente, intrigada. Ela desejava saber o que fazer.
A experiência dessa amiga provavelmente não é incomum para a maioria de nós. Nutrir pensamentos que não desejamos parece comum à condições humanas, tais como as de fome e cansaço. Felizmente, há um antídoto eficiente ao nosso alcance, por meio de Deus e do Seu Cristo.
O grande Apóstolo Paulo reconheceu esse fenômeno como uma forma de intrusão mental e se referiu a isso como: "o pecado que habita em mim"; compreendeu também que essa intrusão era hostil às suas inclinações naturais para o bem, o qual é puro e ilimitado. Ele afirmou claramente: "Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Romanos 7:17, 19).
Paulo insistia em que se fizesse uma análise sincera e mais profunda desses pensamentos indesejáveis. Recusava-se a se condenar por causa deles. Ao contrário, compreendia que eram sugestões impostas e não seus pensamentos verdadeiros. Uma das definições da palavra sugestão confirma seu ponto de vista: "o processo mental pelo qual uma ideia é induzida ou adotada por um indivíduo, sem argumentação, controle ou coibição".
Esse grande pensador reconhecia seus pensamentos como naturais, como derivados de Deus: "Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus". Então, raciocinava: "Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim" (Romanos 7:22, 20). Por conseguinte, Paulo estava tão alerta e era tão meticuloso na dissecação das sugestões do mal, que ele conseguia identificar esses pensamentos como oriundos de um sistema de pensamento sutil e oculto, ou de uma influência mental organizada e sistemática, cujo objetivo era minar seus pensamentos naturais e sagrados, introduzindo em sua mente um conjunto de crenças e valores contrários às suas inclinações para o bem. Ele chamou esse sistema intruso de "mente carnal" (Romanos 8:7, versão bíblica King James), ou uma mentalidade fundamentada em uma crença na matéria, cujo método era silencioso, uma sugestão sutil, disfarçada como o próprio pensamento de Paulo. Ele escreveu (talvez possamos referir a palavra lei aqui a uma influência mental organizada, e a palavra membros como se referindo a todo o conjunto de seus pensamentos): "mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros". Ele também diz: "Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim" (Romanos 7:23, 21).
A experiência mostra que, quanto mais alguém tiver inclinação para a santidade, mais feroz é o ataque do mal contra essa santidade.
Paulo compreendia a razão pela qual esse ataque contra sua moralidade inata e natural ocorria: sua bondade, também inata e natural, e que lhe era inerente, ameaçava a própria existência do mal, da mesma maneira que a luz do sol destrói a escuridão; consequentemente, as sugestões adversas e hostis eram a tentativa do mal de preservar sua existência. Era como se a simples presença do amor e da santidade agisse como uma atração para as sugestões contrárias se oporem a essa bondade. Ciência e Saúde explica que a voz inaudível do Cristo, a Verdade, "Desperta 'os sete trovões' do mal e instiga suas forças latentes a expressarem o inteiro diapasão dos tons secretos" (p. 559).
Felizmente, Paulo não desistiu de pôr a descoberto essa influência mental secreta e oculta. Ele foi um grandioso pensador, com um intelecto tão honesto, tão confiante no cuidado e proteção de Deus, que insistiu nessa questão até que desvendou a total dimensão do ataque desse veneno mental, como também o antídoto completo contra esse veneno.
A base fundamental desses ataques é o que ele denominou de "mente carnal". O antídoto completo contra ela é Deus e Seu Cristo. É o poder e a presença constante do Amor divino. "Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Romanos 7:25), e acrescentou: "Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte" (Ibidem 8:2).
A experiência de Paulo não foi algo fora do comum. De fato, é característica de todos os que acalentam valores e conceitos espirituais, em todas as épocas. A experiência mostra que, quanto mais alguém tiver inclinação para a santidade, mais feroz é o ataque do mal contra essa santidade. Ciência e Saúde observa: "... quanto mais alto a Verdade levantar a voz, tanto mais alto o erro gritará, até que seus sons inarticulados sejam silenciados para sempre no esquecimento" (p. 97).
O maior pensador e realizador de obras de todos os tempos, o qual foi o mestre de Paulo, Cristo Jesus, descobriu que também tinha de lutar contra essa mesma influência diabólica de materializar seu pensamento e, até mesmo, de destruí-la, não só nele mesmo, mas em todos que estivessem sob essa influência. Por exemplo, uma tempestade no mar certa vez ameaçou inundar o barco em que Jesus e seus discípulos estavam, afundando-o e afogando a eles todos. Tenho a impressão de que Jesus não considerou isso como um simples ato da natureza, mas como um ataque odioso e impessoal à sua missão. Com a autoridade que lhe fora outorgada por Deus, ele ordenou: "Acalma-te, emudece!" (Marcos 4:39).
Jesus sabia que seus seguidores, em todos os tempos, precisariam aprender a lidar com essa oposição inescrupulosa e invejosa. Portanto, ele tratou de proteger a eles e a nós. Mary Baker Eddy descreve esse cuidado assim: "O método usado por Jesus consistia em instruir, ele mesmo, seus discípulos; e velou por eles e os protegeu até o fim..." (Retrospecção e Introspecção, p. 89). Ele também aconselhou: "Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas", e acrescentou: "E acautelai-vos dos homens ... Sereis odiados por todos por causa do meu nome..." (Mateus 10:16, 17, 22). Muitas vezes, e de múltiplas formas, Jesus instruiu a seus seguidores a "vigiar". Isso significa se manter mentalmente desperto e alerta, especialmente com o propósito de se proteger. De modo significativo, Mary Baker Eddy começou o querido Sexto Artigo de Fé de sua Igreja com estas palavras: "E prometemos solenemente vigiar..." (Ciência e Saúde, p. 497).
Tal como Paulo, nosso Mestre também conhecia o antídoto completo e absoluto contra esse elemento venenoso do pensamento mortal e o recomendou aos seus seguidores. Ele disse simplesmente: "...aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo" (Mateus 10:22). Perseverar é continuar firmemente na verdade a respeito de Deus e do homem, como o Criador perfeito e a criatura perfeita. Em realidade, somos como criancinhas sob o terno cuidado de pais atentos. Nenhum de nós é vulnerável. O cuidado amoroso de Jesus por seus discípulos era oriundo do único Deus onipotente, cuidado esse que poderia ser resumido nestas palavras do Salmista: "Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem" (Salmos 91:11). O fato bom é que a totalidade do Amor divino põe a descoberto e revela toda insinuação da sugestão maligna e anula suas mais intrincadas e ocultas intenções. Todo seguidor está totalmente a salvo no Amor divino.
Não admira que Mary Baker Eddy também teve de enfrentar esse ataque mental, sutil e oculto. Tal como outros grandes pensadores, a pureza espiritual de seu pensamento atiçou especialmente os elementos obscuros do mal, cuja existência essa pureza ameaçava. "As verdades mais patentes", escreveu ela, "atraem contra si o maior número de falsidades, porque fazem sair o erro de seu esconderijo". Ela afirma de maneira franca: "As formas brandas do magnetismo animal estão desaparecendo e seus aspectos agressivos vêm à tona" (Ciência e Saúde, pp. 97, 102).
Recentemente, um amigo disse que quando releu essa frase foi levado a se perguntar: "Devo acreditar nela"? Teve de admitir que, até aquele momento, ele não havia levado a sério essas palavras ou suas implicações. Ao contrário, tomou-as como um comentário casual.
Logo após sua descoberta da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy acalentava o desejo ao qual se referiu como: "ardentes esperanças de que a Ciência Cristã encontrasse aceitação imediata e universal". Mas logo se desiludiu dessas esperanças, à medida que "...compreendia a vastidão da Ciência Cristã, a fixidez das ilusões mortais e o ódio humano à Verdade..." (Ciência e Saúde, p. 330). Por conseguinte, naquilo que talvez possa ser considerado uma amplificação desse sentimento, Ciência e Saúde também declara: "Os teares do crime, ocultos nos escaninhos escuros do pensamento mortal, estão tecendo a toda hora tramas mais complicadas e sutis" (p. 102). A maioria dos Cientistas Cristãos considera essa afirmação como uma análise sincera e perspicaz, e não um comentário casual.
"Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas".
Está claro que esta é uma época em que se deve estar especialmente desperto e alerta para a dimensão e o destino verdadeiros e majestosos da Ciência Cristã, como também para a oposição maligna a ela e para o domínio sublime do Cristo sobre todo mal. É interessante notar que o ódio humano à Verdade está conectado à vastidão da Ciência Cristã. Talvez pudéssemos concluir que, se a Ciência Cristã não fosse tão ampla, não fosse tão imensa em importância, alcance e potencial para a raça humana, ela não seria tão sistemática, amplamente deturpada, mal compreendida e, por conseguinte, não sofreria oposição por parte da teologia tacanha e da medicina materialista, as quais seriam abençoadas pela Ciência se fossem menos rígidas.
Considerando-se as recomendações consistentes dos mensageiros de Deus sobre o tema da manipulação mental, é intrigante que alguns pensadores hoje minimizem a importância de tratar ou mesmo reconhecer a aparente presença e ação de elementos mentais maliciosos. Mary Baker Eddy observou: "Certos indivíduos são da opinião de que a cura-pela-Mente na Ciência Cristã deveria ter dois lados e só denunciar o erro em geral, nada dizendo, em particular, do erro que está desgraçando os homens. São partidários de uma paz conveniente e falsa, coando mosquitos e engolindo camelos" (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, pp.210-211).
Como resultado dessa inclinação desnatural de ignorar o erro, a maior parte do pensamento contemporâneo descarta o magnetismo animal como ilusão de uma imaginação exacerbada. Entretanto, a experiência e humilde submissão à profunda sabedoria, as quais sustentam a citação acima, indicam que descartar o magnetismo animal o livraria de uma observação mais minuciosa. Alguns talvez pudessem até mesmo caracterizá-lo como ingenuidade, imaturidade espiritual e desatenção. Seu efeito é o de expor pessoas, famílias, igrejas e comunidades às sugestões dissimuladas que as destroem, confundem e envergonham. Mary Baker Eddy adverte: "A sabedoria da serpente é esconder-se" (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883-1896, p.210).
Sem dúvida, a Ciência Cristã revela que Deus é todo o bem e que Ele criou o homem à Sua imagem e semelhança.
Existem razões para que a frequência na Escola Dominical e na Igreja tenha diminuído e para que muitas Salas de Leitura da Ciência Cristã sejam ignoradas pelos transeuntes. Esses e outros efeitos não constituem um mistério. Não poderiam essas influências malignas estar atuando, silenciosa e sutilmente, nas mentalidades inocentes a fim de induzi-las a crenças e a comportamentos que afastariam os corações humildes que buscam a Deus? Se esse for o caso, e se essas influências não forem reconhecidas e revertidas, elas parecerão ter livre acesso às suas vítimas inocentes e à nobre organização, a Igreja, tão cheia de potencial para a elevação da raça humana. Elas parecerão bloquear, atormentar e solapar seus próprios fundamentos no Amor divino. Condenar a nós mesmos ou a outros pelas falsas crenças é, em muitos casos, encobrir o verdadeiro culpado, que é o ódio organizado à verdade. Ciência e Saúde alerta o mundo: "Um conhecimento do erro e de suas maquinações tem que preceder aquela compreensão da Verdade que destrói o erro, até que o inteiro erro mortal, material, finalmente desapareça, e a verdade eterna, isto é, o homem criado pelo Espírito e proveniente do Espírito, seja compreendido e reconhecido como a verdadeira semelhança do seu Criador" (p. 252).
Em algumas ocasiões, os Cientistas Cristãos parecem inclinados a admitir tão somente a terna totalidade de Deus, que parece que eles não estão cientes da aparente presença e influência do mal. Mary Baker Eddy observa: "Esse caminho equivocado, que oculta o pecado a fim de manter a harmonia, dá rédeas soltas ao mal, permitindo-lhe primeiramente arder em brasas ocultas e depois irromper em labaredas devoradoras" (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 211). Sem dúvida, a Ciência Cristã revela que Deus é todo o bem e que Ele criou o homem à Sua imagem e semelhança. Na verdade, o mal é absolutamente irreal, ausente, impossível. Pensadores espirituais esclarecidos se apoiam tranquilamente nessa verdade. Entretanto, sabe-se com segurança que Mary Baker Eddy aconselhava repetidamente: "Vejam o que o mal está tentando fazer, saibam que ele não pode fazê-lo e se certifiquem que ele não o fez" (ver Calvin Frye Diary [Diário de Calvin Frye] EF113, The Mary Baker Eddy Collection, The Mary Baker Eddy Library, Biblioteca Mary Baker Eddy]). Conforme mencionado acima, tanto ela como Jesus admoestavam seus seguidores a "vigiar". Ela disse: "Cientistas Cristãos sede uma lei para vós mesmos, para que a má prática mental não vos possa prejudicar, quer estejais adormecidos, quer estejais despertos" (Ciência e Saúde, p. 442).
O amor de Deus pelo homem e a abrangência infinita desse fato é tudo o que é verdadeiro no universo.
Será possível que o mundo necessite de uma compreensão mais clara a respeito do uso que Mary Baker Eddy fazia das palavras alguma coisa e nada? O momento sagrado do despertar espiritual, o qual satisfaz inteiramente aos que buscam aquilo que é espiritual, surpreende e enfurece o intelecto humano, preso na mentira de vida na matéria. Ciência e Saúde registra: "Esse pensamento acerca da nulidade material humana, que a Ciência inculca, enfurece a mente carnal e é a causa principal do antagonismo dessa mente" (p. 345). Talvez uma das maiores necessidades atuais da cristandade seja a de uma perspectiva mais inspirada e equilibrada a respeito da totalidade de Deus e da ação aparentemente oculta de uma oposição implacável e dissimulada a essa verdade sagrada. Observadores atentos notam que a docilidade espiritual é ingênua e vulnerável, até que ela seja fortalecida por um vigor espiritual que admite, cientificamente, a aparente presença dos elementos ocultos e secretos do mal e, então, os destrói de modo sistemático, mediante a compreensão de que o mal é nada diante da totalidade de Deus!
Indubitavelmente, o mundo está preparado para a "profundidade, a dimensão e a demonstração" do "segundo século da Ciência Cristã". Ele o está exigindo. O Consolador prometido não teria vindo se seu tempo não tivesse chegado ou se ele pudesse ser destruído com êxito pelo antagonismo organizado. Cristo, a Verdade, está aqui para ficar. A totalidade de Deus significa que o mal é nada. O amor de Deus pelo homem e a abrangência infinita desse fato é tudo o que é verdadeiro no universo. As pessoas instintivamente tomam conhecimento disso, à medida que o fardo de sugestões malignas é dissolvido pelo Amor divino. Na verdade, não existe nenhuma vulnerabilidade temerosa diante dos elementos maliciosos do mal, ou uma relutância em atacá-los. É provável que nosso Salvador amado e querido, Cristo Jesus, tenha nos garantido nossa segurança e vitória, da melhor forma possível, quando nos prometeu, referindo-se ao Cristo sagrado e sanador que ele plenamente representava: "Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século" (Mateus 28:20).
"O que habita no esconderijo do Altíssimo descansa à sombra do Onipotente..." (Salmos 91:1, conforme a versão bíblica King James). O mal não tem nenhum poder nem presença diante de Deus. "Ri-se aquele que habita nos céus..." (Salmos 2:4).
