Há muitos anos, quando Lênin estava deixando o cenário político, havia muita especulação a respeito de quem herdaria o manto da Revolução Comunista e o sucederia como líder soviético.
Na ocasião, um grupo de cientistas políticos ocidentais, "especialistas" em política russa, reuniu-se para fazer predições sobre o futuro político da Rússia. Alguns predisseram que Bukharin seria o próximo líder da União Soviética. Outros pensaram que seria Trotsky, Zinoviev, Kamenev ou várias outras figuras proeminentes da Revolução os prováveis sucessores. Curiosamente, ninguém entre os especialistas mencionou Stalin que, no final, tornou-se o herdeiro de Lênin. Por fim, perguntaram ao último dos assim-chamados especialistas quem ele achava que sucederia a Lênin. Ele respondeu: "Não sei". Sabe-se que desde aquela época esse sujeito tem sido considerado como o verdadeiro especialista em Rússia.
Essa capacidade de responder de forma cândida: "Não sei", foi um reconhecimento da humildade que pode ser útil para os eleitores em toda parte, desde o Canadá até a China, desde a China até ao Iraque, como também para aqueles que entrarão nas cabines de votação neste ano para a eleição presidencial. Algumas vezes, é simplesmente sábio reexaminar nossas opiniões mais arraigadas, a fim de verificarmos se elas ainda têm fundamento e validez.
Esse tipo de humildade abre o pensamento para a inspiração, como também para ideias inovadoras que não tenham sido consideradas anteriormente. A capacidade de reconsiderar opiniões é libertadora, pois nos livra da estreiteza de preconceitos anteriores. A humildade também pode nos libertar do partidarismo agressivo que nos faria ver cinicamente os candidatos como "velhos demais" ou "jovens demais", ou "pérfidos" e "infames".
Às vezes, um ano de eleição pode exigir muito de nós. Não podemos praticar o pré-requisito da humildade, necessária para pensar e agir com sabedoria, se sairmos por aí denunciando o candidato a presidente ou aqueles que o apoiam. Como Jesus tornou claro, não existe vocação mais elevada do que amar a nosso próximo como amamos a nós mesmos (ver Mateus 19:19).
Um resultado importante ao demonstrar humildade durante as eleições é que ela nos capacita a escapar das armadilhas da "profecia", armadas pelos que nos impeliriam a debater ou procurariam nos persuadir a aceitar o ponto de vista deles. Podemos também escolher se assistimos ou não aos programas de debates políticos, carregados de controvérsias, em que os especialistas em política com frequência vociferam uns aos outros, gerando mais raiva do que informações inteligentes e úteis.
Em qualquer parte do mundo, em que as pessoas estejam votando por ocasião das eleições, ainda há muito a ser dito sobre a orientação que Mary Baker Eddy deu aos membros de A Primeira Igreja de Cristo, Cientista. Ela disse que eles deveriam "vigiar e orar diariamente para se livrarem de todo o mal, para se livrarem de profetizar, julgar, condenar, aconselhar, influenciar ou serem influenciados erroneamente" (Manual de A Igreja Mãe, p. 40). Essas orientações nos impedem de deixar que a "animosidade" (sentimentos pessoais fortemente arraigados), ou o mero "apego pessoal" (familiar ou filiação partidária), estimule nossos motivos ou atos.
Em minha opinião, é bom orar para que a animosidade e a hostilidade não nos fechem os olhos para as ideias corretas. Isso nos liberta para enxergar as eleições como um debate de ideias e não de personalidades. Essa visão nos alerta para o fato de que devemos exercitar grande sabedoria todos os dias e não apenas no dia da eleição.
Uma pergunta útil que talvez possamos nos fazer é: "O que é que Deus sabe sobre este evento"? Para mim, a resposta é que Ele conhece os candidatos como Suas expressões amadas, Suas ideias espirituais, atemporais, nada menos do que isso. Ele sabe que cada candidato é completo, honesto, não deficiente nem imperfeito. Deus também sabe que eles são tributários da sabedoria divina, antes e depois do dia da eleição.
Esse modo de pensar, tanto quanto a receptividade, também nos ajuda a lembrar de uma lição ensinada, há alguns anos, por um jornalista veterano do jornal The Christian Science Monitor. Ele escreveu que o eleitor típico vê a política por meio do prisma da personalidade do candidato. O eleitor com mais visão vê as coisas sob o contexto dos acontecimentos. No entanto, a pessoa verdadeiramente sábia, disse ele, vê o mundo com base nas ideias que estão em jogo.
Não existe exemplo melhor da importância das ideias na arena política do que Jesus, que nos proporcionou o exemplo mais puro de conduta pessoal em questões políticas. Ele se recusava a se envolver nas tensões violentas que existiam entre os judeus e os ocupantes romanos, as quais frequentemente irrompiam em violência.
Tomemos a cena admirável em que os fariseus hostis consultam entre si contra Jesus, tentando "surpreendê-lo em alguma palavra". Os fariseus perguntam a Jesus se é lícito pagar tributo ao imperador romano César Augusto. Em seguida, naquela que se tornou uma das maiores "tacadas de mestre" em política, Jesus lhes responde pedindo uma "moeda". Levantando-a, ele pergunta de quem é a efígie que aparece nela. Quando seus desafiadores respondem que é de César, Jesus diz com eloquência singela: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". O resultado? "Ouvindo isto, se admiraram e, deixando-o, foram-se" (ver Mateus 22:17, 21, 22).
Neste ano de eleições em diferentes partes do mundo, cada um de nós pode exercer semelhante sabedoria, ser publicamente neutro, evitar não somente argumentos sem sentido, mas também não se submeter à influência indevida de outros que estejam mais interessados em nos dizer não somente como eles planejam votar, mas também como acreditam que nós deveríamos votar.
Ciência e Saúde estimula os leitores a estarem alertas contra a influência das opiniões humanas que tentaria dominá-los, violando sua liberdade e seu direito de pensar por eles mesmos, dizendo: "Em realidade não há mente mortal, e por conseguinte, nenhuma transmissão do pensamento mortal, nem da força de vontade" (p. 103). Talvez esse tipo de pensamento independente seja o mais necessário nessa época de frenesi político e manipulação da mídia.
Ciência e Saúde estimula os leitores a estarem alertas contra a influência das opiniões humanas que tentaria dominá-los, violando sua liberdade e seu direito de pensar por eles mesmos.
Durante muitos anos como repórter cobrindo as campanhas políticas nos Estados Unidos, observava que frequentemente o medo, ao invés da confiança, sobrepujava outras questões mais relevantes. O medo talvez seja o pior de todos os fatores na hora de votar ou selecionar um candidato, pois o medo engana as pessoas, fazendo-as as acreditar que a segurança não seja derivada de Deus, mas que esteja nas mãos do presidente ou em algum cargo de gabinete, tal como do Ministério da Defesa. Quando o medo se torna a questão central de uma campanha, os eleitores abrem mão de seus direitos políticos e tendem a se submeter à demagogia daquilo que Mary Baker Eddy chamou de magnetismo animal, ao invés de permanecerem no pensamento racional.
Cada um de nós necessita estar alerta contra os "marqueteiros" que dominam a mídia e parecem nos pedir que renunciemos ao nosso próprio direito de pensar e votar. Com frequência, o motivo real desses assim-chamados "especialistas" é o de nos persuadir a deixar que eles nos digam como devemos pensar e votar, fato que não é cristãmente científico.
Há alguns anos, antes das últimas eleições americanas, a revista semanal britânica The Economist observou, de forma presciente, quão afortunados eram os americanos por terem dois candidatos capazes. "Diante desse fato", falou a revista, "essa é a escolha mais notável que a América já teve em muitos anos" (7 a 13 de junho de 2008). Eu acrescentaria que precisamos sempre estar seguros de que existam alternativas entre os pensadores conscientes.
No entanto, nossa responsabilidade primordial é a de ouvir a orientação de Deus, ceder a ela e, juntamente com o Salmista, abrir nossos olhos de tal maneira que possamos "contempl[ar] as maravilhas da tua lei" (Salmos 119:18). Em última análise, em qualquer eleição, Deus está ao nosso lado. Ele "não faz acepção de pessoas" nem tem preferência por nenhum partido político.
