Quando eu vivia reclusa dentro das paredes da minha própria mente, confinada e assombrada por pensamentos negativos e infelizes, meus dedos sangravam devido a muitas horas que passava roendo as unhas, um hábito adquirido quando criança. Não sabia ao certo porque fazia isso, mas essa mania parecia ajudar a me acalmar.
Ouvia vozes, embora elas fossem, em realidade, pensamentos rodopiando em minha cabeça, vozes essas como as que gritavam comigo na infância: Você é gorda, estúpida, inútil, uma menina má, preguiçosa e triste. Você é incompetente. Aceitei esses pensamentos como verdadeiros, guardei-os bem fundo em minha consciência, e continuei a sofrer imensamente com eles até a idade adulta. Minhas mãos e meu coração precisavam de cura.
Durante várias ocasiões em minha vida, por meio de vários amigos e vizinhos, a mensagem de cura da Ciência Cristã me tocou como uma delicada borboleta pousando em meu ombro, algo belo, mas, a cada vez que me aproximava dela, eu a deixava escapar.
Por exemplo, ainda era adolescente, quando meu primeiro amor, um jovem Cientista Cristão, passava várias horas comigo, na minha varanda, me explicando como ouvir o cicio tranquilo e suave da voz de Deus, que fala a nós em nosso coração, dizendo-nos como silenciar as vozes externas negativas. Meu namorado me deu um exemplar de Ciência e Saúde e me convidou para ir à igreja.
Entretanto, acabamos nos separando, e meu Ciência e Saúde foi parar no fundo da estante. Em algum momento, acabei perdendo o livro. Os anos se passaram. Casei e criei meus dois filhos. Quando eles foram para a faculdade, fiquei com a sensação de “ninho vazio” e sem nenhum forte alicerce moral e espiritual.
Apaixonei-me por outro homem que não era o meu marido. Isso acabou comigo. Eu roia as unhas para me ajudar a lidar com minha agitação. Machuquei tanto meus dedos que tinha de cobri-los com esparadrapos continuamente.
A certa altura durante este período, uma voz interior me dizia: “Vá ver sua amiga Kathryn que é Cientista Cristã. Ela vai ajudá-la”. Fui vê-la, e em lágrimas, contei-lhe que eu havia cometido adultério. Perguntei se ela possuía um exemplar de Ciência e Saúde para me emprestar. Senti que tinha de fazer uma última tentativa para encontrar respostas nas páginas desse livro. Kathryn não me julgou, não passou nenhum sermão, ela simplesmente me entregou Ciência e Saúde e disse: “Este é para ficar com você”.
Certo dia, como se uma lâmpada se acendesse, comecei a compreender o que sempre parecera como que embaçado e fora de foco, quem eu sou espiritualmente e que sou amada com ternura por Deus, meu Criador.
Comecei a ler o livro e os versículos da Bíblia, guiada pelas explicações de Mary Baker Eddy sobre eles. Esforçava-me para entendê-los, e então, certo dia, como se uma lâmpada se acendesse, comecei a compreender o que sempre parecera como que embaçado e fora de foco, quem eu sou espiritualmente e que sou amada com ternura por Deus, meu Criador.
Certo dia, após quase quatro anos de indisposição com meu marido e filhos, enquanto lia, levantei os olhos de Ciência e Saúde. Meu filho mais velho veio até mim, e disse: “Mamãe, eu amo você. Você e o papai são tudo para mim, e eu preciso da orientação e do amor de vocês. Você é minha mãe e sempre me amou incondicionalmente e eu a amo da mesma maneira”. Meu marido também abriu os braços, perdoando-me, instando-me a não me sentir mais excluída. A cura havia iniciado.
À medida que continuava a estudar a Ciência Cristã, ia deixando de roer as unhas. Cedi à verdade acerca da minha existência como filha de Deus e senti Seu amor todo-abrangente. Começara a compreender que sou criada à imagem de Deus, que os erros do passado e as transgressões não controlavam minha vida presente.
Os dedos, feridos pelo hábito de roer as unhas, e meu casamento começaram a ser curados. Despertei para a voz interior de Deus, que me diz que tudo o de que preciso provém dEle, que é Amor, Luz, Verdade. Na proporção em que continuo a compreender minha verdadeira natureza espiritual como uma ideia amada, saudável, bela e perfeita de Deus, desligo os pensamentos negativos que, como a Bíblia nos diz, provêm da “mente carnal”, que “é inimizade contra Deus” (ver Romanos 8:7). Agora eu ouço apenas a voz interior da Verdade, de Deus. À medida que entretenho apenas pensamentos verdadeiros sobre minha identidade, os pensamentos negativos desaparecem; tornam-se incapazes de tocar minhas mãos ou meu coração.
Artigo publicado originalmente em The Christian Science Journal de março de 2007.
 
    
