Quando atendi ao telefone, ouvi minhas duas filhas adultas chorando, em pânico. Elas estavam nas montanhas do Colorado, presenciando a um gigantesco deslizamento de terra. Minha filha mais velha relatou que a lama, a sujeira e as pedras rolavam para debaixo de seu carro, e que a lama fazia com que os carros deslizassem rumo a um perigoso precipício, do outro lado da estrada.
Meu coração batia acelerado pelo pânico. O medo que senti naquele momento parecia avassalador, mas minhas filhas estavam me ligando para pedir minhas orações. Então, calmamente, sugeri que elas cantassem hinos uma para outra; os hinos sempre têm sido uma fonte de consolo e cura em nossa família. Após desligar o telefone, volvi-me com todo meu coração a Deus, em busca de uma resposta.
Eu havia estado naquelas mesmas montanhas e me apaixonado por sua grandiosidade. Em uma ocasião, elas haviam me inspirado a pesquisar na Bíblia as maneiras pelas quais as montanhas são usadas como símbolos de vitórias sobre os desafios humanos. Por exemplo, em Isaías, lemos: “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina”! (52:7). Em Salmos: “Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” (121:1, 2).
Em oração silenciosa, perguntei-me: “Será possível que essa montanha possa ser tanto um símbolo de esperança e força, como também de um desastre em potencial”? Ponderei sobre esta declaração de Mary Baker Eddy: “Para a mente mortal, o universo é líquido, sólido e aeriforme. Interpretados espiritualmente, os rochedos e as montanhas representam idéias sólidas e grandiosas” (Ciência e Saúde, p. 511).
Afinal de contas, foi em uma montanha que Moisés ouviu os Dez Mandamentos e Jesus pregou seu Sermão do Monte. Montanhas, compreendidas em seu significado espiritual, trazem inspiração espiritual e elevação, não perigo. Esse fato se tornava cada vez mais claro para mim, à medida que ouvia os ternos pensamentos de Deus; tive a certeza de que minhas filhas estavam a salvo. Senti uma forte convicção e um senso reconfortante de que Deus criara as montanhas para serem uma bênção.
Em menos de meia hora, liguei novamente para minha filha mais velha. Ela parecia animada e feliz, e disse que tanto ela quanto a irmã estavam no trabalho! Fiquei muito feliz. Ela explicou que logo depois de havermos conversado, apareceram um carro da polícia e um caminhão de arado para limpar a estrada. A lama cessou de provocar deslizamento e foi retirada. O tráfego ficou livre e elas estavam a salvo.
Minha oração para a segurança de minhas filhas me despertou para um novo senso de responsabilidade em relação aos desastres demasiado frequentes que desafiam nosso mundo. Parecemos tão indefesos diante de terremotos, secas, furacões, inundações, tempestades, incêndios florestais, deslizamentos de terra, e de todas as demais catástrofes que assolam a terra. No entanto, compreendo cada vez mais que essa não é a realidade. Começo a constatar que o verdadeiro perigo não está nos elementos da terra, mas na ignorância a respeito de Deus e de Seu terno cuidado para com todos nós, somado às falsas crenças resultantes dessa ignorância sobre nosso mundo.
Aquilo a que chamamos de desastres “naturais” não se refere à ira do Senhor ou a um tipo de punição da parte dEle, nem tampouco de elementos materiais em conflito. Jesus acalmou a tempestade no mar e disse ao vento: “Acalma-te, emudece!” (Marcos 4:39). Ele nunca poderia ter efetuado uma mudança tão drástica se a tempestade fosse da vontade de Deus ou um evento sobre o qual Deus não tivesse nenhum controle. Jesus vivia em união com Deus, a Vida e o Amor. Sua individualidade espiritual era una com Deus, com a pureza, o altruísmo, o perdão, a gratidão e a serenidade. A forte tempestade foi acalmada pelas qualidades espirituais que ele vivia e demonstrava. Assim como um bloco de gelo na frente do fogo, a turbulência, a raiva, a confusão, o medo e o desamparo também se dissolvem.
O verdadeiro perigo não está nos elementos da terra, mas na ignorância a respeito de Deus e de Seu terno cuidado para com todos nós, somado às falsas crenças resultantes dessa ignorância sobre nosso mundo.
Mary Baker Eddy explica em Ciência e Saúde: “Aquilo que chamamos de ciências naturais e leis materiais são os estados objetivos da mente mortal. O universo físico exprime os pensamentos conscientes e inconscientes dos mortais. A força física e a mente mortal são uma só coisa” (p. 484). Não estaria essa declaração indicando que os desastres em nosso mundo se constituem em uma exigência para que cada um de nós expulse a agressividade do pensamento? E a raiva e a violência que temos de enfrentar se quisermos acalmar o mar revolto ou o vento violento. É a ganância sanguessuga e o ódio selvagem que devem ser negados, se desejamos impedir a picada do mosquito ou o ataque da besta selvagem. É a enchente avassaladora do medo e do desespero que precisam ser curados, se quisermos deter as enchentes e inundações.
Quando olhamos para os padrões climáticos, na verdade contemplamos a atmosfera geral do pensamento. Jesus, que com perspicácia discernia o pensamento das pessoas, deu o seguinte conselho: “...Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto de céu e não podeis discernir os sinais dos tempos?” (Mateus 16:2, 3).
Parece-me que discernir “os sinais dos tempos” significa dar uma boa olhada no pensamento do mundo de hoje, e parar de odiar uns aos outros. O ódio político, a ânsia pelo poder, o ressentimento e a cobiςa em nossos lares, empresas e igrejas representam a turbulência violenta do nosso planeta. Repreender essas tendências agressivas nos pensamento começará a remover da terra seus efeitos nocivos.
O Amor é o estado normal de todos os seres. O Amor define nossa verdadeira individualidade espiritual, como também a verdadeira natureza inocente de todos.
É o Amor que transforma o pensamento. Deus é Amor. Esse Amor não é uma possessão que uma pessoa outorga à outra. O Amor é o estado normal de todos os seres. O Amor define nossa verdadeira individualidade espiritual, como também a verdadeira natureza inocente de todos. Mas, nós nunca vamos compreender essa individualidade pura, se sentirmos que vivemos em um universo material sujeito à sua própria miséria. O homem é a ideia pura do Amor. Volver-se humildemente a Deus em oração nos mostra que nossa vida não tem como objetivo obter Seu amor, mas sim expressá-Lo. À medida da que fizermos isso, constataremos que as soluções para todas as nossas necessidades serão supridas por Deus e não precisaremos acumular os recursos do nosso planeta nem lutar por eles. O pensamento muda de uma atitude de tentar possuir o amor, para uma de expressar o amor de Deus, e então vivenciamos um ambiente mais pacífico.
Nossas orações são mais eficazes quando olhamos para além da instabilidade física do nosso mundo e procuramos compreender, em maior profundidade, o universo da criação de Deus. As qualidades de Deus não podem ser perdidas, mesmo em um desastre. A inteligência, a criatividade, a beleza, a harmonia, a coragem, o altruísmo e a moralidade, estão sempre presentes porque essas qualidades são espirituais e não circunstanciais.
A oração nesse sentido tem um enorme impacto sobre nossa família global. A Bíblia promete: “A criação toda deseja ter a maravilhosa visão dos filhos de Deus recebendo a glória que merecem” (Romanos 8:19, J.B Phillips, The New Testament in Modem English [O Novo Testamento em Linguagem Moderna]). Na proporção em que reconhecermos a Deus como o Amor sempre presente, e compreendermos que somos Seus filhos e filhas, poderemos ajudar a anular os desastres provocados pelos distúrbios mentais e, então, começaremos a ver o reino harmonioso de Deus aqui na terra.
Artigo publicado originalmente no site spirituality.com, em 4 de abril de 2011.
 
    
