Atualmente, os programas, seminários e cursos on-line que visam o auto-aperfeiçoamento estão na moda. Os temas abordados incluem o aumento da autoconfiança, a administração do tempo, bem como a melhor forma de enfrentar com êxito as questões da vida diária, além de muitos outros assuntos. De igual modo, as livrarias e os sites de livros na Internet estão repletos de publicações que apresentam técnicas e métodos para enfrentar as complexidades e dificuldades da vida. Os títulos abrangem o sucesso nos negócios e nos relacionamentos, a maneira de conseguir o que desejamos, ter boa aparência e sentir-se melhor, ganhar dinheiro, entre outros. Ao mesmo tempo, existem também livros que apresentam formas de equilibrar estilos de vida frenéticos, simplificar e reduzir o volume de coisas que guardamos, voltar a adotar a teoria minimalista de que “menos é mais” ao organizar a casa, bem como fazer um levantamento do que temos para identificar o que é verdadeiramente relevante e traz satisfação.
Há também muitos títulos de caráter espiritual ou religioso, o que mostra o interesse em espiritualidade, não meramente em métodos seculares de busca por significado e propósito na vida. Entre eles, podemos citar O poder da oração simples, Giving Christ First Place (Colocar Cristo em primeiro lugar), Whole life transformation [A transformação total da vida] e Acalma meu ansioso coração. Uma publicação voltada para adolescentes, intitulada Você não está sozinho, enfoca a maneira como os jovens podem estabelecer objetivos para levar uma vida “centrada em Deus” em um mundo que está “centrado no eu”.
Nós expressamos, manifestamos, refletimos e damos testemunho de Deus!
É evidente que muito desse interesse esteja relacionado a problemas de identidade. Embora essa não seja uma característica exclusiva das sociedades e da cultura contemporânea, permanece a busca por respostas para questões básicas, como: “Quem sou eu?”, “Por que estou aqui?” e “Qual o significado da vida?” Muitas pessoas fazem essas perguntas, inclusive executivos, artistas, operários, pessoas casadas ou solteiras, donas de casa, independentemente de idade, raça ou sexo.
Segundo a perspectiva da Ciência Cristã, para saber quem somos, ou seja, quem realmente somos, devemos começar com uma pesquisa sobre o que nos oferecem a Bíblia e a revelação obtida por Mary Baker Eddy, conforme consta do livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras. Esses dois livros nos apresentam o sistema científico, espiritualmente embasado, que vai ao cerne das questões básicas da vida e mostra que o homem e suas capacidades têm sua origem em Deus, o Espírito. Ele inclui o que pode ser considerado como a Ciência da identidade espiritual ou a compreensão crística acerca da identidade do homem. Esse sistema liberta do hábito de estereotipar e, até mesmo, de rotular a nós mesmos ou aos outros, hábito esse frequentemente vinculado ao histórico familiar, estilo de vida, formação e renda. Na verdade, quando nos alinhamos a um sentido espiritual de identidade, são eliminados traços destrutivos de caráter como egoísmo, mau humor, impaciência e qualquer coisa que nos impeça de reconhecer quem realmente somos.
Como a Ciência Cristã define o homem
Como a Ciência Cristã faz isso? Primeiro, ela faz com que iniciemos uma jornada espiritual, que nos leva ao conhecimento de nós mesmos por meio do nosso relacionamento inseparável e inquebrantável com Deus. Começamos a compreender nossa identidade espiritual individual como reflexo do infinito. Ainda que mentalmente possamos resistir à ideia de enxergar a nós mesmos espiritualmente, não podemos deixar Deus fora da pergunta “Quem sou eu?”, porque sem Deus o homem não existiria. Nossa identidade, importância e propósito verdadeiros estão ligados a Deus, o único Criador, de maneira irrevogável. Nós expressamos, manifestamos, refletimos e damos testemunho de Deus! É assim que, em última análise, devemos definir e conhecer a nós mesmos.
A Mente divina sabe e cria tudo
Não é de admirar que, no esforço de conhecer e ver a nós mesmos como Deus nos vê e nos conhece, somos recompensados. Individualmente, descobrimos quem realmente já somos, uma ideia espiritual na consciência da única Mente. Em sua obra autobiográfica, Retrospecção e Introspecção, Mary Baker Eddy escreveu: “A Ciência define o homem como imortal, como coexistente e coeterno com Deus, como feito à própria imagem e semelhança de Deus; o sentido material define a vida como algo separado de Deus, algo que tem começo e fim, e o homem, como muito distante da semelhança divina” (pp. 59-60).
Há séculos, e esta é uma das inúmeras razões pelas quais os ensinamentos da Bíblia ainda são aplicáveis nos dias de hoje, os profetas e apóstolos faziam as mesmas perguntas que nós fazemos. Vejamos a história de Jacó. Sua luta era para se superar, vencer seu falso sentido de identidade, redimir o passado e repensar seu destino e propósito. Pelo arrependimento e redenção ele conseguiu reivindicar sua identidade espiritual genuína. Em várias oportunidades, Abraão, Jeremias, Daniel, Pedro e Paulo lutaram contra seus próprios temores, dúvidas, desconfianças e conflitos a respeito de sua identidade. Exatamente como nós.
O Salmista já havia vislumbrado algo a respeito de sua origem e natureza espirituais, sua filiação espiritual, quando perguntou a Deus: “Que é o homem, que dele te lembres e o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste. Destelhe domínio sobre as obras da tua mão” (Salmos 8:4-6). Sua pergunta, como também a resposta a ela, apontam para o relacionamento do homem, nosso próprio relacionamento, com o Pai, a Mente divina que sabe e cria tudo, e que inclui autoridade divina para que tenhamos alegria, satisfação e um propósito na vida.
Sem cada um de nós, a expressão da Mente divina não estaria completa
A falta de uma resposta precisa à pergunta “O que é o homem?” parece estar na raiz de tudo o que nos preocupa, tanto individualmente, em nossa própria vida, quanto coletivamente, nas famílias, comunidades e nações. Poderíamos dizer que a falta do autoconhecimento, de sabermos quem verdadeiramente somos, está no cerne de grande parte dos problemas mundiais. Considerar que a existência, de certa forma, não está ligada a uma origem divina gera dúvida, confusão, conflito, pecado, doença e morte.
Ver a nós mesmos da forma como Deus nos conhece, somente pela percepção espiritualmente científica, é a maneira como precisamos sempre pensar em nós mesmos e reconhecer a nós mesmos. Essa é a nossa identidade genuína.
Curiosamente, conforme menciona a Interpreter's Bible [Bíblia do Intérprete], o Salmo 8 foi chamado de “um eco lírico do primeiro capítulo do Génesis” (Vol. IV, p. 48). Nessa Bíblia lemos que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus, à imagem do Criador que é inteiramente bom, a Mente divina, ou seja, que o homem realmente é semelhante a Deus. Ver a nós mesmos da forma como Deus nos conhece, somente pela percepção espiritualmente científica, é a maneira como precisamos sempre pensar em nós mesmos e reconhecer a nós mesmos. Essa é a nossa identidade genuína. Inclui assumir o único rótulo correto para nós: de que somos a ideia espiritual de Deus, o macho e a fêmea da Sua criação.
O fato de que Deus sempre “se lembra” do homem, por ser o homem a criação da Mente única, constitui o fundamento da resposta às perguntas: “O que é o homem?” e “Quem sou eu”? A humanidade tem demorado em chegar às respostas espirituais a essas perguntas devido à tendência de que parece que estamos sempre olhando para a direção errada, para o lugar errado. A Ciência Cristã ensina que não há nada de misterioso ou secreto no fato de uma pessoa conhecer a si mesma. Deus é para ser conhecido! O homem, como Seu reflexo, é para ser conhecido também. Sem cada um de nós, a expressão da Mente divina não estaria completa. Deus está constantemente nos revelando e mostrando quão maravilhosamente únicos e essenciais nós somos para a plenitude e inteireza de Sua criação. Um dos principais pontos que Mary Baker Eddy coloca em Ciência e Saúde se refere à totalidade e inteireza do homem. A compreensão do Cristo, a Verdade, como a identidade espiritual do homem, permite que cada um de nós demonstre aprimoramento, ajustes e transformação, ou seja, a realização de tudo o que é bom na vida.
Nosso Pai-Mãe Deus mantém cada um de nós na condição de único e eterno
Felizmente, podemos provar que não somos mortais cujas vidas são naturalmente fragmentadas. Embora possa parecer que tenhamos logrado êxito em alguns aspectos da vida, talvez uma situação no trabalho, um relacionamento, um assunto da igreja ou mesmo alguma situação relacionada à educação dos filhos precise ser melhorada. Ou talvez haja a necessidade de uma cura física. A Sra. Eddy abordou essa questão assim: “A Ciência Cristã não é somente o ponto mais alto da Ciência, mas é também a coroa do Cristianismo. Ela é universal. Atrai o homem em sua condição humana; o homem em seu todo, não apenas uma parte dele; atrai-o tanto física como espiritualmente; e atrai a humanidade toda” (Miscellaneous Writings 1883–1896, p. 252).
Quando mudamos o pensamento e deixamos de enxergar a nós mesmos e ao mundo como essencialmente materiais e físicos, e adquirimos uma perspectiva espiritual da criação e da própria vida, respondemos à pergunta “Quem sou eu?” Possuímos um potencial ilimitado, uma missão e um propósito determinados por Deus. Cada um de nós reflete a individualidade do Divino. Nosso Pai-Mãe Deus mantém cada um de nós na condição de único e eterno. Cada dia oferece novas oportunidades para aplicarmos esse fato espiritual em nossa vida, seja na condição de um carinhoso membro da família, um amigo que oferece ajuda ou um amável colega.
A autopiedade e a autocondenação fazem parte da munição da falsa mente mortal para nos privar do autoconhecimento e do crescimento espiritual.
Quando entendemos que Deus é o Amor que abrange tudo, fica natural aceitar, como a Bíblia afirma, que o homem é o filho de Deus que sempre tem um propósito na vida. Esse é um fato constante na verdadeira identidade. É bem verdade que o mundo passou por enormes mudanças desde os tempos bíblicos, mas a criação espiritual, a única realidade genuína, está intacta agora e permanecerá intacta e harmoniosa. Podemos aplicar hoje aquilo que Jeremias compreendeu das promessas de Deus: “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jeremias 29:11).
Perceber nossa identidade verdadeira
A autopiedade e a autocondenação fazem parte da munição da falsa mente mortal para nos privar do autoconhecimento e do crescimento espiritual. O conhecimento verdadeiro está relacionado ao que já é conhecido, àquilo que é real, aos princípios básicos do nosso bem-estar. O autoconhecimento não inclui nada que nos possa manter presos ao remorso e à inércia. Ao contrário, ele nos faz progredir por meio da regeneração e da restauração, rumo à liberdade de sermos o homem e a mulher da criação de Deus, sem pecado e materialidade, sem defeitos e puros. Esse é o resultado natural do progresso espiritual.
Entretanto, precisamos ter a coragem de enfrentar o pecado e destruí-lo com a reforma e a renovação. O pesar por alguma situação ocorrida no passado, seja ela um relacionamento que não tenha dado certo, uma negociação mal sucedida ou uma situação familiar tensa, todos esses sentimentos desagradáveis podem se constituir em uma oportunidade para o crescimento espiritual por meio do verdadeiro autoconhecimento, que cura arrependimentos e decepções, corrige erros do passado e abre o caminho para qualquer ajuste necessário em nossa vida.
A única Mente, o único Ego, Deus, revela a criação estável, segura e espiritualmente fundamentada
Não cabe a nós conhecer o propósito ou o lugar de nenhuma outra pessoa, nem criticar ou julgar a vida dos outros. O maravilhoso é que, à medida que compreendemos nossa identidade espiritual verdadeira, as falsas impressões que tínhamos sobre nós mesmos e sobre os outros são eliminadas da consciência. Estamos livres, redimidos!
Deus sabe qual é a nossa missão e Ele a revela para nós. Cada um de nós é precioso e importante, uma parte vital da criação. Como a Sra. Eddy observou: “Cada indivíduo tem de ocupar seu próprio nicho no tempo e na eternidade” (Retrospecção e Introspecção, p. 70). À medida que desenvolvemos, cultivamos e disciplinamos o pensamento para que este adquira uma perspectiva espiritual sobre a vida, começamos a reconhecer as coisas como Deus as reconhece. Aos poucos discernimos o que ocorre quando demonstramos a Ciência da identidade espiritual. Conhecemos nosso nicho. Discernimos nossa missão. Ficamos sabendo qual é o nosso propósito verdadeiro.
A única Mente, o único Ego, Deus, revela a criação estável, segura e espiritualmente fundamentada. E nós fazemos parte dessa criação! A imagem de Deus é a única imagem de si mesmo que há. Nada pode ser acrescentado a essa imagem que seja dessemelhante do original. Nenhuma qualidade do original pode jamais ser removida. Como é revigorante prática e gratificante essa verdade, esse conhecimento ou informação corretos a nosso respeito! O que Deus sabe a nosso respeito nos proporciona estabilidade e autoestima genuínas; harmoniza nossos relacionamentos, nossa casa e o nosso ambiente de trabalho; conforta e eleva os corações; faz com que sejamos membros da igreja genuinamente amorosos e cheios de propósito, discípulos modernos e sanadores cristãos bem sucedidos.
Percebemos que os falsos conceitos sobre nós mesmos, a confusão acerca da identidade, insegurança e desânimo não têm causa nem poder
Portanto, se tivermos momentos de solidão ou isolamento, devido à síndrome do ninho vazio, saudades de familiares que estejam distante, ou de colegas de trabalho após a aposentadoria, ou mesmo quando nos sentimos alienados de alguma forma do curso normal das coisas, as respostas aparecem, e então percebemos que, em realidade, nunca estamos sozinhos. Não podemos jamais estar isolados ou separados do Amor divino. Ao sermos nós mesmos, reivindicando nossa identidade espiritual, podemos nos sentir unidos a Deus e a toda Sua criação. Nosso sentido de família se torna mais universal. Percebemos que os falsos conceitos sobre nós mesmos, a confusão acerca da identidade, insegurança e desânimo não têm causa nem poder. Seremos divinamente impelidos a olhar para nós mesmos de uma forma diferente. Consequentemente, cresceremos espiritualmente, alcançando satisfação e alegria.
Descobrir a identidade que Deus nos dá não implica reinventar a nós mesmos como seres humanos melhores, mas sim abandonar as diversas formas de identidade equivocadas, definidas por medos, ansiedades, padrões de comportamento destrutivos, dúvidas e preocupações que tenhamos aceitado como parte de nossa individualidade. Não estamos tentando assumir uma identidade que não seja a nossa própria nem tentando ser outra pessoa. Mas, como toda cura na Ciência Cristã tem a ver com o despertar para a realidade, para aquilo que já é verdadeiro, podemos despertar para nossa identidade verdadeira e reivindicá-la. À medida que nossa perspectiva espiritual se expande, o conceito correto se torna evidente e o sentido falso simplesmente desaparece. O fato é que nós somos inteiramente espirituais, perfeitos, bons e puros, exatamente agora.
Podemos, inclusive, parar de perguntar “Quem sou eu?” ou “Por que estou aqui?”, porque nós já sabemos a resposta a essas perguntas!
Artigo publicado originalmente em The Christian Science Journal de fevereiro de 2011.
 
    
