Nos últimos meses, tenho me comunicado regularmente com minha filha, que este ano está vivendo na Alemanha. Recém-formada na faculdade e navegando nas águas da vida fora da escola, ela tem se deparado com muitas experiências novas sobre as quais precisa refletir e orar. Há dias em que ela e eu trocamos muitas mensagens de texto. Ela me envia perguntas, ou expõe questões, em busca do ponto de vista materno, e eu respondo, tentando dar sábios conselhos.
Uma manhã, nossa troca de mensagens começou muito cedo e eu me vi tendo de fazer duas coisas ao mesmo tempo, responder às mensagens dela e ler a Lição Bíblica da Ciência Cristã daquela semana, algo que procuro fazer todas as manhãs. No decorrer das semanas, eu sempre perguntava se ela já havia lido a Lição, naquele dia. Em meu próprio estudo, eu constantemente encontrava ideias na Lição que achava que seriam úteis para ela. Nessa manhã em particular, pareceu-me que tudo o que minha filha precisava já estava na Lição e que ela não precisava depender da minha “sabedoria materna”.
Um versículo na Lição da semana anterior, sobre o tema “A matéria”, era: “Cale-se toda carne diante do Senhor...” (Zacarias 2:13). Gostei da ideia de calar a carne, ou seja, a mente mortal, silenciar quaisquer pensamentos que não fossem de Deus, como queixas do corpo, medo, opiniões humanas, desarmonia. Inclusa nessa Lição estava a história de Daniel na cova dos leões, na qual Deus fecha a boca dos leões, em outras palavras, silencia tudo o que é agressivo, feroz ou assustador.
Quando voltei a atenção para a Lição daquela semana, descobri que ela tinha como foco a Palavra de Deus, começando com esta declaração de Salmos: “As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio...” (119:160). Muitas citações apresentavam os fatos espirituais da existência. Para mim, toda essa Lição falava sobre ouvir a Palavra de Deus, a qual afirma o fato eterno da realidade espiritual.
Senti intuitivamente que toda a luta da minha filha poderia ser resolvida com estas duas ideias sobre silenciar e ouvir, como estavam ressaltadas naquelas duas Lições Bíblicas: silenciar o que não era de Deus e ouvir o que provinha dEle. Ao reconhecer a correlação entre esses temas, uma experiência anterior, de minha vida, me voltou à memória.
Quando eu estava no último ano do ensino médio, tive a oportunidade de desempenhar o papel da mãe de Helen Keller na peça The Miracle Worker [O Milagre de Anne Sullivan], de William Gibson. Durante semanas me preparei para essa peça, pesquisando em profundidade o papel e desenvolvendo o personagem. Depois do ensaio final e antes da apresentação prévia para os professores, o diretor criticou duramente meu desempenho e o fez diante de todo o elenco e da equipe de produção. Ele gritou com raiva que o ensaio fora terrível e tudo por minha causa. O peso desse momento pareceu mais do que eu podia suportar e fui para casa chorar nos braços de minha mãe. Eu não conseguia ver uma maneira de consertar as coisas.
Mas de manhã, o sol apareceu, um novo dia começou, e havia a Lição Bíblica. O tema daquela semana era: “Deus, a causa única e o único Criador”. Forcei-me a ler a Lição, muito embora sentisse a forte tentação de procurar fazer algo para consertar meu desempenho, tal como reestudar o roteiro, ensaiar minhas falas ou fazer mais pesquisas sobre o personagem.
À medida que lia a Lição, cada palavra parecia dirigida a mim. Passei o dia inteiro lendo e relendo aquela Lição Bíblica, ponderando cada verdade e orando. Fiquei completamente convencida de que Deus era a única força criativa no universo. Eu não era uma criadora. Eu era a reflexão espiritual pura de Deus, a expressão da natureza criativa de Deus. Toda atividade verdadeiramente criativa era conhecida e estabelecida por Deus, plenamente realizada e completa na Mente divina.
Quando o medo sobre a peça me vinha ao pensamento, eu reafirmava as verdades espirituais que estava lendo. Naquela noite, ao ir com minha mãe de carro para a escola, consegui manter o medo e o pânico à distância. Enfrentei-os com a poderosa compreensão da verdade que havia alcançado naquele dia.
Depois da cena inicial da peça, na qual minha personagem desempenhava um papel importante, o palco ficou no escuro por um momento, antes da cena seguinte. Durante esses breves segundos, ouvi o diretor gritar da plateia: “Bravo, Anne! Bravo! É isso mesmo”!
A peça foi um sucesso. Consegui desempenhar bem meu papel, com autenticidade e compreensão. O diretor me perguntou, mais tarde, o que eu havia feito para conseguir uma mudança tão drástica em meu desempenho. Respondi que eu havia passado o dia orando. Ele disse que de qualquer modo havia funcionado!
O que eu realmente fizera foi utilizar a dádiva que é a Lição Bíblica para alinhar cada um dos meus pensamentos com a verdade espiritual. A Lição não deixara pedra sobre pedra quanto ao fato de que Deus era a causa e o Criador. No final daquele dia de estudo profundo e oração, eu estava totalmente convencida de que não poderia haver nada além de Deus e Sua criação perfeita. Deus era a única causa e causava somente o bem.
Mary Baker Eddy declara: “A Bíblia contém a receita para toda cura” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 406). Ciência e Saúde, o livro-texto da Ciência Cristã, revela esse poder sanador da Bíblia. Esses dois livros, ordenados pela Sra. Eddy como o Pastor da Igreja de Cristo, Cientista, ternamente instruem, orientam e curam. As Lições Bíblicas da Ciência Cristã são compiladas com passagens desses livros e essas passagens são escolhidas por meio da oração, da inspiração e do estudo. O produto final é uma declaração da realidade espiritual, relevante para todos.
De volta à minha filha: Nossas mensagens ainda atravessam fusos horários e continentes, mas sinto que nós duas estamos aprendendo a nos apoiar em Deus e a ouvir Seu conselho, e as Lições Bíblicas são um suporte inestimável nesse esforço. Que ferramenta incrível está disponível para cada um de nós!
Anne Early
Tradução do original em inglês publicado na edição de abril de 2017 do The Christian Science Journal.
Publicado anteriormente como um original para a Internet em 21 de agosto de 2017.
