Há alguns anos, eu estava uma noite sozinho em casa, em uma sexta-feira chuvosa, e passei os olhos pela estante à procura de um filme para me fazer companhia. Escolhi um dos meus favoritos de todos os tempos, um suspense de Alfred Hitchcock. Quando me sentei para assistir, lembrei-me de quantas vezes já havia assistido àquele filme e, mesmo assim, eu nunca me cansava dele. Apesar de ele ser bastante brando para os padrões cinematográficos de hoje, a primeira vez que a ele assisti, quando garoto, fiquei com tanto medo que não consegui dormir à noite.
Sei que esse filme de Hitchcock não é o único a causar esse efeito no espectador, na primeira vez. Os cineastas introduzem propositadamente elementos de suspense, expectativa, surpresa, medo, etc., os quais mexem com as nossas emoções, tornando o impacto inicial mais intenso e memorável. Mas, como acontece com muitos filmes, quando uma pessoa já o viu e já conhece seus efeitos especiais, as reviravoltas do roteiro e o final surpreendente, na vez seguinte ela não fica mais com medo, nem ansiosa, ou preocupada, etc., porque o mistério já foi dissipado.
Essa analogia me foi muito útil nos diversos desafios que encontrei na vida. Quem dentre nós nunca enfrentou uma situação que parecia desconhecida, problemática, perturbadora, assustadora ou até mesmo maligna? É raro um dia ou uma semana sem que passemos por algo em que nos vemos incapazes de prever ou controlar o resultado. Nesses casos, sempre há a tentação de reagir como faríamos com um filme novo — com medo, choque, empolgação, ansiedade, estresse, preocupação, desconfiança e assim por diante.
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