Em 1944, fiz uma série de exames médicos para me alistar nas Forças Armadas dos Estados Unidos e eles sempre indicaram que eu havia contraído tuberculose. Recebi a classificação “4-F”, ou seja, incapacitado para o serviço militar. Isso foi um alerta para eu despertar.
Nós morávamos a duas quadras dA Igreja Mãe, A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, em Boston, Estados Unidos. Meus pais haviam me mandado para a Escola Dominical da Ciência Cristã, mas eu não havia dado valor àquela oportunidade e acabara desistindo. Por ocasião desses exames, alguns médicos disseram para eu me internar em um sanatório, ficar na cama o máximo possível e tentar não me fatigar muito.
Eu não tinha nenhum sintoma da doença e os exames feitos pelas autoridades de saúde da cidade não mostravam nenhum risco de contágio. Portanto, ao invés de me internar, voltei para a Escola Dominical da Ciência Cristã. Assim, começou uma jornada de crescimento espiritual que continua até hoje e que me trouxe a cura, além de me conduzir a uma carreira de 60 anos a serviço do jornal The Christian Science Monitor. Nessa jornada também aprendi a importância dos dois grandes mandamentos ensinados por Cristo Jesus.
A Escola Dominical exigia mais do que eu esperava. Isso foi durante a Segunda Guerra Mundial e um grupo de militares adolescentes muitas vezes visitava nossa classe. Os debates sobre a Lição Bíblica semanal se concentravam em aprender como a verdade a respeito do existir, revelada pela Ciência Cristã, nos habilita a lidar com sérios desafios, mesmo os que algumas vezes colocam a vida em risco. Era uma atmosfera que incentivava os alunos a se empenharem por uma compreensão mais elevada e sua demonstração. No meu caso, isso incluía muitas horas na Sala de Leitura da Ciência Cristã, me aprofundando no estudo da Bíblia e dos escritos de Mary Baker Eddy.
Logo percebi que minha situação tinha muito mais aspectos do que o aparente problema médico. Apesar do diagnóstico, eu sempre me sentia saudável. Os sinais da doença apareciam somente nas radiografias e em outros testes físicos. Mas uma determinação ferrenha de entrar no exército hipnotizara meu pensamento. Era isso que precisava ser curado. Fazer dos desejos pessoais um falso deus, em vez de seguir a orientação de Deus, viola o primeiro dos dois mandamentos indicados por Jesus: “...Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mateus 22:37).
A Sra. Eddy explica em Unidade do Bem que Deus “usa de misericórdia para conosco e guia cada acontecimento de nossa carreira” (pp. 3–4). Ela também diz em Retrospecção e Introspecção: “Cada um tem de ocupar seu próprio nicho no tempo e na eternidade” (p. 70). Entendi que não haveria como encontrar esse nicho se eu tentasse defini-lo por mim mesmo. Eu precisava deixar de lado a vontade própria e ouvir a direção da Mente divina. Isso aconteceu de uma forma inesperada.
Embora eu estivesse para me formar no ensino médio, não havia pensado em ir para a faculdade. Mas certo dia, um colega notou que nós estávamos entre os vinte melhores alunos da nossa classe. Ele disse que isso nos qualificaria para nos candidatarmos ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), sem prestar o vestibular. Nós verificamos isso, nos candidatamos e fomos aceitos.
Devido à minha classificação “4-F”, a equipe médica do MIT me examinou. Nessa ocasião, fui considerado saudável. Além disso, o diretor da unidade médica disse que respeitava a Ciência Cristã e falou das curas que ele testemunhara.
Intuitivamente, eu sabia que tinha sido conduzido para o lugar certo, mas não previ o quanto esse curso me prepararia para atender a uma necessidade urgente do Monitor, cinco anos depois. A essa altura, eu estava fazendo doutorado, mas também estava alerta para ouvir a direção da Mente divina. Mais uma vez inesperadamente, aconteceu que o redator do Monitor, que havia sido meu professor na Escola Dominical, pediu-me para levar em consideração um emprego no jornal. Ele explicou que o progresso nas ciências havia se tornado uma parte importante das notícias diárias que chegavam ao Monitor. O redator das matérias sobre ciências deixara o emprego e havia uma vaga que ninguém, no quadro de funcionários, estava qualificado para preencher.
O fato, porém, era que os custos do meu doutorado eram totalmente cobertos por uma bolsa de estudos e por um salário como assistente de pesquisas. Abandonar isso tudo era uma decisão importante. Então, perguntei ao reitor do MIT o que ele achava que eu deveria fazer. Ele disse que ajudar o público a entender melhor as ciências era mais importante do que obter o título de doutor e recomendou que eu aceitasse o emprego.
Esse motivo altruísta me atraiu. Eu já tinha suficientes créditos para receber o mestrado, portanto, aceitei o emprego e cheguei à sala de redação do Monitor em setembro de 1950, para iniciar uma carreira ajudando os leitores a entenderem os rápidos avanços das descobertas científicas em nossa era.
Não havia sombra de dúvida de que eu estava, novamente, no lugar certo. O curso ao qual eu fora tão claramente conduzido parecia, nesse momento, ter sido talhado especificamente para me preparar para esse emprego. Eu tinha qualificações profissionais respeitadas pelos cientistas que, caso contrário, poderiam relutar em falar com a imprensa. Além disso, minha experiência naquele pequeno projeto de pesquisa me ensinara como os cientistas pensam e agem.
Entretanto, eu sabia pouco sobre jornalismo e não havia tempo para um treinamento. Felizmente, meus novos colegas me deram bastante ajuda e incentivo. Foi uma demonstração prática do segundo mandamento enfatizado por Jesus: “...Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39). Aliás, trabalhar para A Igreja Mãe, qualquer que seja o cargo, oferece muitas oportunidades para ver a atuação desse amor isento de ego.
Jesus disse sobre esse segundo mandamento que ele é “semelhante” ao primeiro e acrescentou: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mateus 22:39–40). A Sra. Eddy reiterou isso em The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Vários Escritos]: “O Amor governa o universo e seu decreto foi emitido: ‘Não terás outros deuses diante de mim’ e ‘Ama o teu próximo como a ti mesmo’ ” (p. 278).
Esses não são simplesmente códigos morais aos quais devemos obedecer. Eles refletem o Princípio divino que governa toda a realidade. Não podemos ignorá-los e esperar ter êxito, assim como um astronauta não pode ignorar a lei da gravidade. Foi isso que eu tive de aprender e demonstrar, quando comecei essa jornada espiritual, em 1944. Confiar nesses dois mandamentos para nos guiar é a resposta que eu daria a qualquer pessoa que perguntasse como encontrar o seu próprio nicho na vida. Seria muito pouco dizer que sou grato pela Ciência Cristã e pela luz que ela irradia sobre esses dois grandes mandamentos. Não sou apenas grato, sinto reverência por ela.
Robert Cowen
