“Sou livre, sou livre / E a liberdade tem sabor de realidade.”
É assim que começa uma canção de 1969, justamente intitulada “Sou livre”, da banda de rock inglesa The Who. Pessoas de todos os cantos do mundo anseiam profundamente por sentir em sua vida que a liberdade é real. Não tenho a pretensão de saber o que foi que inspirou aqueles versos, mas para mim essa conexão entre “liberdade” e “realidade” dá o que pensar. E se a liberdade for verdadeiramente a realidade, o estado natural de nossa existência?
Ficar livre — talvez do medo, da doença, do vício, ou de alguma característica negativa — pode às vezes parecer algo inalcançável. Mas a Ciência Cristã apresenta um conceito diferente, no qual ninguém está fadado a tal prisão. Podemos ganhar coragem com a ideia de que Deus nos fez livres. Não apenas de que nos fez destinados a ficarmos livres algum dia, no futuro, mas livres agora mesmo, neste exato momento. Sempre. É assim que Deus nos criou.
Esse é um modo bastante radical de pensar a respeito de nós mesmos e dos outros. Às vezes não se enquadra com o que vemos, sentimos ou vivenciamos. É preciso olhar para além da superfície e nos definir, não como mortais vulneráveis e sem solução, mas como espirituais — o reflexo de Deus, o Espírito divino. Quando abrimos nosso pensamento a essa realidade, começamos a ver o quanto essas ideias são mesmo poderosas. Vivenciamos mais a saúde, a inteligência e a alegria que Deus nos proporciona.
Um ano atrás, estando em viagem, acordei no meio da noite me sentindo muito mal. Para mim, foi natural me voltar a Deus, pois já tinha visto a eficácia da oração muitas vezes antes. Por isso comecei a orar, declarando que, por ser Deus o bem ilimitado, tudo o que Ele cria é bom também. Como refletimos a Deus, tudo que não seja bom não pode ser parte de nós. Nossa saúde plena não pode ser afetada por nada.
Mas, francamente, estava difícil me manter focada na oração. Os sintomas eram perturbadores, e me senti muito sozinha; até o simples ato de pegar meu celular na mesinha de cabeceira parecia uma tarefa impossível. Então, de todo coração me voltei para Deus, pedindo-Lhe que me ajudasse a ver mais claramente a luz do Cristo que desfaz a escuridão e ilumina a realidade espiritual, trazendo a cura onde quer que seja necessária.
Muitas vezes, por meio das incontáveis pessoas que curou, Cristo Jesus demonstrou a liberdade que é inata em nós, filhos e filhas de Deus.
Ocorreu-me a ideia de que eu permaneço no Amor divino, envolta no abraço infinito do Amor... para sempre. Não consigo sequer colocar em palavras o quanto isso me foi imediatamente confortador! Comecei a me lembrar de algumas ocorrências específicas nas quais havia recentemente sentido e visto evidências do amor de Deus, demonstrado em qualidades como carinho, paciência, compaixão e ternura. Quando comecei a identificar essas qualidades, vi que eram tantas que não conseguia mais parar.
Então me senti completamente envolta pelo Amor divino. Com isso veio a clara compreensão e convicção de que, como filha de Deus, eu não poderia estar doente porque Deus, o Amor, é Tudo. Nem sequer por um segundo podemos ficar separados do bem divino. Naquele momento os sintomas e o mal-estar, que haviam parecido tão impressionantes, desapareceram. Adormeci. Na manhã seguinte acordei me sentindo bem descansada e pronta para o dia.
Muitas vezes, por meio das incontáveis pessoas que curou, Cristo Jesus demonstrou a liberdade que é inata em nós, filhos e filhas de Deus. Uma vez trouxeram até ele um homem paralítico, carregado numa espécie de leito, como está escrito na Bíblia. Chegaram ao ponto de levá-lo para o teto da casa na qual Jesus estava ensinando, e desceram-no por entre uma abertura, porque havia tantas pessoas que não fora possível entrar na casa normalmente (Lucas 5:18–24).
Quando Jesus viu isso, ele curou o homem. O paralítico se levantou, pegou seu leito e saiu, glorificando a Deus. Dessa vez ele não precisou ir através do teto. O caminho estava liberado. Sua libertação foi completa e imediata.
E tem mais. O homem foi libertado em outro sentido, também. A primeira coisa que Jesus lhe havia dito fora: “Homem, estão perdoados os teus pecados”. A Bíblia não especifica quais teriam sido aqueles pecados, mas podemos imaginar como isso deve ter sido libertador para o homem. E essa não é a única vez em que a Bíblia fala de Jesus perdoando pecados e abrindo a porta para a redenção e a correção.
A base dessa e de todas as outras curas que Jesus efetuou era a realidade espiritual, a verdade fundamental de que somos filhos e filhas de Deus. Essa realidade é atemporal, porque Deus é eterno. Ela se aplica a todos e em todo lugar, porque o amoroso cuidado de Deus, o próprio Amor divino, é ilimitado. O Cristo, a natureza divina da qual Jesus foi o exemplo, traz redenção e inspiração para todos que acolhem no coração o amor de Deus. O Apóstolo Paulo escreveu: “...onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Coríntios 3:17).
Essa é uma promessa! Paulo sabia do que estava falando. De fato, ele próprio era a prova viva disso. Ele tinha sido libertado do profundo ódio que nutria — um ódio tão intenso que o fizera levar à prisão ou à morte muitos seguidores de Jesus. Quando Paulo, então chamado Saulo, teve um primeiro vislumbre do Cristo, a luz foi tão intensa para o seu pensamento obscurecido, que ele ficou literalmente cego. Ele foi libertado dessa cegueira e, além disso, seu caráter foi totalmente transformado. A libertação foi tão completa que ele se tornou um novo homem, com um nome novo, e passou o resto da vida compartilhando o que Jesus havia ensinado e vivendo de acordo com esse ensinamento. Mais tarde, após ser preso por pregar o Evangelho do Cristo e curar, foi literalmente libertado de maneira surpreendente (ver Atos 16:19–26).
Qualquer que seja a prisão em que parecemos estar, ela não é impenetrável e nós podemos ser libertados. O Cristo, a Verdade, não pode ser retido fora do ponto de receptividade que existe em todo coração humano. O livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, explica: “O ‘cicio tranquilo e suave’, a voz inaudível da Verdade é para a mente humana como quando ‘ruge o leão’. É ouvida no deserto e nos lugares escuros do medo” (p. 559).
Podemos confiar em que nossa liberdade dada por Deus é real. Quando somos movidos pelo desejo de conhecer melhor a Deus e entender mais plenamente nossa relação com Ele, recebemos o poder de provar um pouco da realidade espiritual em nossa vida e alegremente dizer: “Sou livre!”
