Muitas notícias durante a pandemia têm como ponto central a controvérsia entre o que é considerado seguro e a liberdade para prosseguir com as atividades ditas normais e “ganhar a vida”. Como pode a sociedade unir esses dois pontos necessários para seguir em frente?
Encontrei uma orientação esclarecedora certo dia nas palavras que vi estampadas em uma camiseta: “Comece com você”. Isso me fez lembrar de dois ensinamentos espirituais para encontrar a resposta para tudo o que é importante. Primeiro, em vez de criticar ou temer o comportamento dos outros, posso começar a olhar para dentro de mim para ver como meus pensamentos e ações podem contribuir para a cura. Segundo, posso encontrar segurança e liberdade em Deus, a Mente universal, na qual “…vivemos, e nos movemos, e existimos…” (Atos 17:28).
Diante do consenso geral de que a vida é material, os perigos e os conflitos surgem para determinar quem ganha e quem perde o bem. Mas, quando se tem o senso espiritual sobre a vida, então a segurança, a liberdade e tudo aquilo que verdadeiramente constitui o bem são direitos inalienáveis de todos. Direitos “inalienáveis” são aqueles que não podem ser tirados de nós. Também não podemos perder nosso direito a tê-los, ou seja, não podemos renunciar a eles, mesmo que queiramos. Os direitos outorgados por Deus pertencem a todos; eles fazem parte da nossa natureza.
Esses direitos incluem o conhecimento de que realmente vivemos em Deus — no Espírito, não na matéria. A verdadeira vida de todos é espiritual, uma expressão de Deus, que não pode ser ameaçada. Quando começamos a compreender esse fato, certamente nos sentimos mais seguros e mudamos a forma como pensamos sobre a liberdade. Liberdade não significa fazer tudo o que queremos; significa cumprir com o propósito que Deus nos dá: expressar o amor sanador para com os outros. Mesmo quando nós ou os outros agimos movidos pelo medo ou egoísmo, não perdemos nossa verdadeira natureza que vem de Deus. O bem é inato a todos e deve, por fim, ser o vencedor em todos, pelo poder supremo do Amor, Deus.
Houve casos de pessoas que viveram em condições muito ameaçadoras e confinadas e, ainda assim, ao descrever o que viveram, contam que se sentiam seguras e livres. Um exemplo é o teólogo e pastor alemão Dietrich Bonhoeffer. Quando estava preso, esperando ser executado pelos nazistas, escreveu cartas e poemas que ficaram famosos. Um desses poemas foi traduzido e adaptado como hino, e inclui estes versos:
Estamos firmemente protegidos pelo poder de Deus,
Envoltos nos braços ternos do Amor.
Juntos, compartilhamos nossos dias agora,
E ano após ano, recebemos as bênçãos dos céus.
(Christian Science Hymnal: Hymns 430–630 [Hinário da Ciência Cristã: Hinos 430–603], 594)
É encorajador pensar que alguém nessa situação possa ter se sentido protegido e envolto pelo amor de Deus. Bonhoeffer estava isolado da família, dos amigos e de tudo aquilo que considerava uma vida normal e, ainda assim descreve, mesmo em meio a essas circunstâncias, estar se sentindo protegido, compartilhando o bem e recebendo bênçãos contínuas. Em vez de se ressentir com os guardas da prisão, ele era alegre e gentil com eles e, em troca, ganhou seu respeito, amizade e até mesmo amor.
Ter consciência do amor e do poder de Deus é liberdade. Essa consciência fica cada vez mais forte à medida que a pomos em prática todos os dias, orando para conhecer e amar a Deus, amar a si mesmo e a todos como expressão de Deus. O amor não é uma grande ideia abstrata, é testado todos os dias. Um teste que muitos consideram difícil nos dias de hoje é seguir as restrições quanto à interação social. Perguntam por que o medo de alguns deve forçar outros a desistir da liberdade de fazer o que acham melhor.
Como geralmente acontece, o ensinamento espiritual é o contrário do raciocínio da obstinação humana. Por exemplo, Paulo escreve: “Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo” (Gálatas 6:2). Se o ato de seguir as diretrizes do governo alivia a carga de medo que as pessoas sentem, ninguém pode ser prejudicado ao fazê-lo por amor. Esse gesto não faz com que ninguém perca o direito de confiar na proteção e no poder de Deus. É uma liberdade inalienável e a ela só renunciaríamos se confiássemos em alguma outra coisa.
O amor liberta.
Em uma manhã de Natal há muitos anos, fui curada de uma doença contagiosa, ao orar para acabar com uma aversão que eu tinha por certa pessoa. Celebrar o nascimento de Jesus me fez pensar no poder do Amor divino que ele mostrou ao mundo. Eu queria sentir aquele amor. A aversão se dissolveu, assim como a doença. Fiquei feliz porque os sintomas desapareceram, mas muito mais feliz pela maravilhosa liberdade que senti para amar.
Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, descreveu o caminho do progresso em direção à segurança e liberdade: “Ao esforçar-se por ser bom, fazer o bem e amar o próximo como a si mesmo, a alma do homem está a salvo; o homem emerge da mortalidade e recebe seus direitos inalienáveis — o amor de Deus e do homem” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany [A Primeira Igreja de Cristo, Cientista, e Outros Escritos], p. 200).
Margaret Rogers
Redatora convidada