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Original para a Internet

A Páscoa e a renovação, mostrando quem realmente somos

Da edição de abril de 2021 dO Arauto da Ciência Cristã

Publicado anteriormente como um original para a Internet em 9 de abril de 2020. 


Às margens do lago Walden, Henry David Thoreau concluiu, entre outras coisas: “A maioria dos homens leva uma vida de silencioso desespero” (Walden, p. 8). Claro que há momentos de alegria, e ele reconhece isso; mas compreendo a razão pela qual Thoreau poderia ter se sentido daquele modo, ao pensar na totalidade da existência do homem. Um trecho da Bíblia diz: “Que proveito tem o homem de todo seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?… O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol” (Eclesiastes 1:3, 9). 

Mas o autor de Eclesiastes também finalizou seu livro com uma ideia mais elevada a respeito do homem. Mary Baker Eddy explica: “O seguinte texto do livro de Eclesiastes transmite o pensamento da Ciência Cristã, especialmente quando se omitem as palavras dever de, que não estão no original: ‘De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os Seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem’. Em outras palavras: De tudo o que se tem ouvido, a suma é: ama a Deus e guarda os Seus mandamentos: porque isso é o todo do homem à imagem e semelhança de Deus. O Amor divino é infinito. Portanto, tudo o que realmente existe está em Deus, é de Deus, e manifesta o Seu amor” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 340).

Que enorme contraste, entre a “vida de silencioso desespero”, de que fala Thoreau, e o homem (ou seja, cada indivíduo) que foi declarado inteiramente espiritual, a verdadeira imagem e representante de Deus, o Amor divino. Por ser a expressão espiritual de Deus, o homem sempre tem seu próprio lugar e propósito de vida, e nunca estaria simplesmente condenado a levar uma vida atormentada, em competição desenfreada; jamais seria fadado a sofrer com saúde debilitada, ou a ficar encalhado em um plano que leva ao fracasso. O homem e a mulher criados por Deus refletem naturalmente a alegria, a força e a consciência de seu propósito de vida, que são atributos de Deus.  

Recentemente, tive a oportunidade de comprovar isso e, ao mesmo tempo, ganhei alguns vislumbres que me esclareceram experiências anteriores. Eu fora convidado a participar de um projeto, e embora estivesse agradecido pelo convite e tivesse aceitado prontamente, logo comecei a duvidar de minha capacidade de contribuir de fato. Eu achava que não tinha nada de valor a oferecer, e minha alegria em participar estava rapidamente se desvanecendo. Em vez daquela animação inicial, senti-me como se eu não tivesse nenhum valor ou importância.  

A desolação implícita naquela sugestão acabou servindo para me despertar. Quando a declaração de Thoreau sobre o desespero dos homens veio ao meu pensamento, transmitindo muita tristeza, dei-me conta de ter o direito de tomar posição quanto ao propósito estabelecido por Deus para mim, independentemente do desenvolvimento do projeto.

Cristo Jesus deixou bem claro que sua missão, seu evangelho, e sua vida inteira não estavam centradas em si mesmo ou em sua própria glória, mas eram para a glória de seu Pai, Deus; ele esperava que seus seguidores também vivessem para a glória de Deus. Assim, se eu desejava conhecer a finalidade de minha própria vida e o que eu tinha a oferecer, eu necessitava olhar na mesma direção para a qual Jesus sempre olhou: para nosso Pai-Mãe, Deus.

Lembrei-me de uma história relatada na Bíblia, de dois seguidores de Jesus, a caminho de Emaús, depois da crucificação do Mestre. Eles estavam tristes porque, no entendimento deles, a maravilhosa boa-nova do evangelho de Jesus havia sido interrompida, e estavam, por isso, cheios de dúvidas. Quantas vezes nós também não nos sentimos assim? Temos uma grande inspiração, ocorre uma cura, fazemos o bem para alguma pessoa, e continuamos na luz desses eventos por algum tempo; mas pouco depois tudo parece ir se arrefecendo e ficamos entristecidos pela perda dessa inspiração; e talvez não tenhamos tanta certeza da permanência do bem. Ou pode até parecer melhor ficarmos quietos, sem nunca mais buscar aquele incrível senso do bem, pois é doloroso quando tudo “volta ao normal”. Não é esse sentimento o ponto crucial daquela sensação de desespero?

Mas então, nessa história contada na Bíblia, os dois discípulos encontram um forasteiro no caminho. Surpreendem-se, pois ele desconhece o acontecido, e contam-lhe a respeito da crucificação. Ele então começa a explicar para eles todas as profecias nas Escrituras, profecias que confirmam sua missão, despertando-os para todo o verdadeiro significado da profundeza e vastidão da vida de Jesus e seu evangelho sobre a presença do céu.   

O forasteiro ficou com eles, para comerem juntos. E enquanto falava, esses discípulos, extasiados, ficaram transformados, pois de repente deram-se conta de estarem falando com Jesus, ressuscitado. Então Jesus desapareceu. Dessa vez, porém, os dois compreenderam que o desaparecimento da presença física de Jesus não significava a perda da substância de sua mensagem. E eles imediatamente voltaram a Jerusalém para reunir os discípulos e as demais pessoas, rejubilando-se no elevado senso da permanência do Cristo, a ação e o ideal de Deus, perfeitamente representados por Jesus.

Renovação não significa apenas o início de coisas novas acontecendo. A renovação inspirada por Deus nos mostra o que na verdade esteve presente o tempo todo — a sempre nova e sempre permanente presença de Deus, o bem, a se expressar no homem e em toda a criação. E discernimos esse bem por meio do senso espiritual, definido por Mary Baker Eddy como “a capacidade consciente e constante de compreender a Deus” (Ciência e Saúde, p. 209). O senso espiritual é natural em cada um de nós, pois somos todos filhos do Espírito.

Temos o direito de deixar o Amor nos amar.

Então, o que é que pretenderia nos impedir de sentir a presença e permanência do Espírito? O relato bíblico da ressurreição nos fala de uma obstrução verdadeira, uma enorme pedra à entrada da tumba de Jesus. Mas Deus enviou um anjo que removeu a pedra, sem capacete nem alavanca, mas sim com o poder divino. Desse modo, para o senso humano atribulado de Maria Madalena, a ausência da pedra foi a primeira coisa a ser percebida. Quantas vezes nós também nos sentimos assim? Talvez não façamos a menor ideia de como uma cura vai se manifestar: como é que este caos vai ser de fato resolvido? Cometi muitos erros. Tenho dores há tanto tempo. Mesmo quando recebo alguma inspiração, não consigo segurá-la com firmeza.  

É maravilhoso saber que é Deus que nos segura com firmeza. Jesus não levantou as mãos em um gesto de frustração, nem foi em busca de uma nova leva de discípulos que pudessem melhor “entender tudo”. Ele continuou ao lado deles, visitou-os, tomou a refeição da manhã com eles; e depois de sua ascensão, o Espírito Santo veio sobre eles de modo tangível, e todos se transformaram.

Hoje em dia, o Espírito Santo é demonstrado na eficácia da Ciência Cristã, o Confortador prometido por Jesus, abertamente ao alcance de todos. A luz do Amor está aqui, e graças à humilde fidelidade com a qual Mary Baker Eddy compartilhou com o mundo inteiro o que Deus lhe revelou, nós podemos sentir e compartilhar essa luz eternamente. 

Comecei a perceber que a celebração da Páscoa promete para toda a criação de Deus a permanência de Deus, que está sempre comunicando Seu propósito, o fato de que Ele é Tudo-em-tudo, e Sua divina natureza. A Páscoa é uma declaração, não de algo inteligente que cada um pode inventar, e também não é uma tentativa pessoal de convencer os sofredores de que tudo vai dar certo. Em vez disso, a Páscoa, a celebração da ressurreição de Jesus, traz a confiança de que o homem é amado, reto e jamais destinado à decadência ou insignificância. É Deus que nos faz capazes de sentir Seu amor e de ser curados. 

Em qualquer situação em que pareça estarmos encalhados com o olhar fixo na “pedra” diante da “tumba” (ou um senso escuro de nossa vida), não necessitamos tentar encontrar alguma estratégia de como vencer a depressão. Gosto muito da suavidade expressada tão profundamente por Mary Baker Eddy, ao dizer: “O que é que parece interpor-se como uma pedra, entre nós e a manhã da ressurreição? É a crença de que haja mente na matéria. Só podemos chegar à ressurreição espiritual quando abandonamos a antiga consciência de que exista Alma nos sentidos” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 179).

Em vez de acreditar que simplesmente não conseguimos encaixar a Deus em nosso coração, ou um senso de permanência, nem mesmo de esperança, podemos aos poucos deixar para trás a concepção errônea de que Deus esteja no homem, e em vez disso, alcançar a compreensão de que nós é que estamos em Deus. Não somos vasilhames feitos de matéria e que acidentalmente os entornamos e perdemos o Espírito. Não somos seres limitados e sujeitos a perder a inspiração ou a criatividade. Tudo o que é limitado e mortal sobre o senso que temos a respeito do nosso próprio existir, ou o dos outros, não é, em absoluto, aquilo que realmente somos. Em vez de tentar consertar uma vida material, podemos deixar o amor de Deus abrir nossos olhos, para vermos que somos a própria expressão de Deus, a Vida eterna, somos o fruto da bondade imortal de Deus.

Não estamos falando de um estilo de vida, nem de um ponto de vista que requer malabarismos para se descobrir como fazer para que funcione. Trata-se do poder de Deus, nos capacitando a discernir aquilo que Ele é, e a Sua natureza. Nossa tarefa é reconhecer nosso direito de confiar em tudo o que sabemos a respeito do bem, do amor e da fidelidade; confiar em tudo o que é capaz de demonstrar algo mais profundo do que a mutável superfície do senso material. Então a Vida, Deus, sustentando e incluindo todo o bem, continuará a se desdobrar e a nos mostrar aquilo que Deus é e quem nós somos, como imagem dEle. Temos o direito de deixar o Amor nos amar. Assim como aconteceu com aqueles dois discípulos que iam com Jesus no caminho de Emaús, podemos deixar o Cristo ressuscitado nos envolver e confortar.

Aquele meu senso de falta de propósito, e o receio de não ter nada a oferecer, cederam completamente à alegria, na presença do Cristo. Lembrei-me também de outra cura, ocorrida havia anos. Eu tinha me sentado, triste e solitário, no alto de uma colina, onde abri meu coração, dando vazão à raiva e frustração, gritando com Deus. Eu estava sem saber para onde olhar em busca de paz. Finalmente, após desabafar completamente, todo o meu pensamento ficou repleto da certeza de ser amado. Tão simples. Quase simples demais. Mas mesmo assim, senti a presença e a plena convicção do perfeito Amor. Nada disso aconteceu por eu ter falado de uma forma ou de outra com Deus, nem por minha causa, absolutamente. Mas a causa de tudo aquilo foi Deus e aquilo que Deus é. (Escrevi com maiores detalhes sobre essa experiência. Ver An always present love [“Um amor sempre presente] na edição de setembro de 2010 do Journal).     

À luz desse recém-descoberto amor pela Páscoa, a florescer em meu coração enquanto me recordo dessa experiência, com humildade reconheço ter sentido verdadeiramente a presença de nosso Salvador, o Cristo, a Verdade; jamais enterrado, eternamente ressuscitado, e sempre nos mostrando o que Deus é, e que nós somos verdadeiramente os amados filhos e filhas de Deus. Essa experiência transformou a minha vida, e com alegria eu associo essa completa renovação ao poder da Ciência Cristã, representando para a humanidade inteira o Cristo ressuscitado e o perfeito amor de Deus.

Pois bem, a Páscoa é renovação, porém não se trata de consertar coisas quebradas; mas sim, da renovação da nossa percepção das coisas, para vermos que nada jamais nos quebrou. A Páscoa nos mostra a expressão de Deus, nunca mergulhada em um poço de desespero ou carência. A Páscoa nos deixa ver a permanência da vontade de Deus, a qual é boa, e se expressa eternamente em cada um de nós. Cristo Jesus demonstrou como sermos aquilo que realmente somos: a própria imagem de nosso Pai-Mãe Deus; e sempre mantidos na lei perfeita do Amor divino. Louvemos a Deus, pois nosso Redentor vive! 

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