Há muitos anos, quando eu trabalhava para uma estação pública de rádio, parte de meu trabalho era encontrar apresentadores para nossas campanhas de doação. Estávamos em busca de candidatos que se sentissem à vontade para conversar com as pessoas no ar e que também pudessem inspirar os ouvintes a fazerem doações. Uma apresentadora convidada sempre atingia esse objetivo e, naquele ano em particular, ela contou a história dos dez leprosos, a qual consta do Evangelho de Lucas na Bíblia (Capítulo 17, versículos 12–19). Ela explicou brevemente que todos os leprosos haviam sido curados por Jesus, mas que apenas um voltou para agradecer. Em seguida, ela convidou todos os ouvintes daquele dia a seguir o exemplo daquele que voltara para agradecer. O público reagiu de maneira extraordinária, e logo alcançamos nossas metas e concluímos a campanha.
Aquela mensagem continua a ressoar em mim até hoje: seja você aquele que segue adiante o caminho com gratidão.
Conforme exigido pela lei judaica, aqueles dez leprosos já estavam excluídos da sociedade havia algum tempo e, segundo essa mesma lei, eles teriam de ser inspecionados pelos sacerdotes para a comprovação da cura e, em seguida, teriam de oferecer um sacrifício como prova de agradecimento. A rapidez com que aqueles homens curados desejavam cumprir esses requisitos e retornar às suas famílias e comunidades pode ter fechado seus olhos para qualquer outra ação que não fosse aquela exigida por lei. Talvez a emoção de voltar à normalidade e a expectativa de se reunir com os familiares superassem a gratidão pela cura.
Também nós podemos ficar preocupados com os detalhes relativos às nossas circunstâncias e nos esquecer de ser gratos. Em vez disso, pensamos no que precisa ser feito, quer seja uma tarefa ou uma cura, e o pensamento aguarda com expectativa o resultado final, esquecendo-se de expressar gratidão. Assim como os nove leprosos que seguiram seu caminho para se apresentarem aos sacerdotes, pode ser que só muito depois de nosso problema ser solucionado é que reconhecemos que perdemos a oportunidade de expressar gratidão.
Por meio da oração, é possível cultivar a gratidão como uma primeira reação natural em todas as circunstâncias e situações. Para isso, Jesus é nosso modelo, pois ele agradecia a Deus mesmo quando as coisas pareciam extremamente sombrias, trazendo soluções consideradas impossíveis — tais como ressuscitar a Lázaro depois de este ter falecido e sido sepultado havia quatro dias e de ele, Jesus, alimentar uma multidão com apenas alguns poucos pães e peixes. Jesus compreendia e demonstrava as ilimitadas possibilidades que resultavam do fato de ser constantemente grato pelo terno cuidado de Deus.
Nós também podemos começar cada dia reconhecendo a infinitude do bem divino, como Jesus reconhecia, o qual não estamos vendo, mas que é conhecido por Deus e está sempre disponível. Esse bem está tão próximo de nós quanto Deus, a fonte de todo o bem. Encontramos esse bem por meio da gratidão, o que faz com que nosso pensamento deixe de estar focado em nós mesmos e em nossa situação, e se volte diretamente a Deus, que governa nossa vida e nosso bem-estar. Um hino do qual gosto muito afirma:
Um puro e grato coração
É um jardim de amor,
No qual a graça divinal
Floresce em esplendor.
(Ethel W. Dennis, Hinário da Ciência Cristã, No 3, trad. © CSBD)
Essa gratidão sincera não deixa espaço para o medo, a raiva ou a distração, e esses falsos traços de caráter desaparecerão cada vez mais da nossa experiência, à medida que a gratidão ocupar nosso pensamento com mais constância.
Seguindo o ministério de Jesus, Mary Baker Eddy nos encorajou a manter nossos pensamentos mais expansivos e centrados em Deus. Ela declara no Manual da Igreja: “A gratidão e o amor devem reinar em todo coração todos os dias de todos os anos” (p. 60). E a gratidão e o amor eram evidentes na maneira como ela orientou seus seguidores e sua Igreja. Reminiscências daqueles que conviveram com ela relatam uma vida transbordante de gratidão, apesar de ter de enfrentar constantemente muitos desafios difíceis.
O que seria necessário para seguirmos esse modelo em nossa própria experiência? A principal obra da Sra. Eddy sobre a Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, nos oferece uma orientação muito clara: “Somos realmente gratos pelo bem já recebido? Então faremos uso das bênçãos que temos e assim estaremos preparados para receber mais. A gratidão é muito mais do que a expressão verbal de agradecimento. Os atos expressam mais gratidão do que as palavras” (p. 3).
O primeiro passo é observar o quão abençoados já somos. Isso é mais do que uma enumeração direta dos benefícios já recebidos e, ao contrário, analisa a profundidade do bem em nossa vida, revelando um progresso que talvez possamos ter esquecido ou nunca sequer notado. Como resultado, estaremos “preparados para receber mais” — nossos olhos então se abrirão para o generoso jorrar do bem que provém incessantemente de Deus.
O próximo passo é expressar nossa gratidão, não apenas em palavras, mas em ações, como fez aquele leproso que voltou para agradecer. A história bíblica indica que ele “glorificou a Deus”. Reconhecer a transformação pela qual passara, e a Deus como a fonte dessa transformação, foi um passo importante para seu progresso, porque recebeu de Jesus a bênção: “A tua fé te salvou”.
Em um momento em que me deparei com uma situação confusa com relação aos procedimentos relativos à guarda dos nossos filhos, lembrei-me da lição do leproso. Tanto meu ex-marido, como eu, havíamos feito planos quanto à guarda de nossos filhos para o mesmo fim de semana, cada um pensando que a agenda nos favorecia. Depois de várias discussões e enraivecidas acusações, percebi que isso não estava nos levando a lugar nenhum e, em vez continuar a agir a ssim, recorri a Deus. Agradeci a Ele por Seu terno cuidado e orientação amorosa, reconhecendo que Ele proveria a solução correta. Então me ocorreu muito claramente que eu devia deixar as crianças ficarem com o pai naquele fim de semana. Fiquei surpresa com a sugestão, mas me senti em paz e segui em frente, informando meu ex-marido da minha decisão. Imagine minha surpresa quando, na manhã seguinte, ele bateu na minha porta, trazendo as crianças de volta para casa para passar o fim de semana comigo.
Esse tipo de solução amigável aconteceu mais de uma vez, quando, diante de circunstâncias difíceis, eu volvi meu pensamento a Deus em agradecimento. Recebi rapidamente a segurança e a orientação espiritual para enfrentar muitos tipos de desafios, inclusive relacionamentos problemáticos, condições perigosas ao dirigir na estrada, problemas financeiros e assustadoras condições de saúde. Em cada caso, encontrei conforto e cura por meio da ação transformadora da gratidão.
Cada um de nós pode levar a sério, exatamente como fez aquele leproso, a oportunidade de retornar e glorificar a Deus pelas bênçãos que nos foram concedidas. Aliás, assim como aquela apresentadora convidada solicitou seus ouvintes há tanto tempo atrás, cada um de nós pode ser “aquele profundamente grato que retornou”.
