Eu estava dormindo profundamente, bem no meio de um sonho maravilhoso. De repente, ouvi um “tap, tap” familiar na janela. Levantei meio acordado e deixei meu gato entrar. Quando me acomodei para voltar a dormir, veio-me à mente um pensamento suave: “Não importa o que você estava sonhando, seu gato sabia que você estava exatamente aqui”. Esse pensamento me intrigou, e passei a considerá-lo mais profundamente e em espírito de oração.
Logo compreendi que havia ali certa analogia com a nossa relação com Deus. Não importa o que os sentidos físicos evidenciam, seja desarmonia ou arrebatamento, nosso Pai-Mãe Deus sabe exatamente onde realmente estamos e sempre é capaz de nos alcançar. Esse pensamento reconfortante nos assegura que a presença de Deus não depende de estarmos cientes da Sua presença ou de sentirmos Sua presença. Levando em conta que Deus é infinito, Ele está sempre presente. Em outras palavras, a presença de Deus não depende de nós; depende dEle.
O que os sentidos físicos dizem sobre nossa situação não é real; é um sonho. O que é real é o fato de que Deus, o Espírito divino, é Tudo-em-tudo. E quando isso é compreendido, juntamente com a compreensão de que Deus é por natureza o bem em si, fica excluída a possibilidade de haver realidade no mal e na desarmonia de qualquer tipo. Por isso, o único lugar onde verdadeiramente podemos estar é no reino do Espírito, onde estamos imersos no bem divino, governados pela lei divina da harmonia.
Uma passagem bíblica do profeta Jeremias traz isso à tona. Ele fala desta promessa de Deus quanto à aliança com Seus filhos (todos nós): “…Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (Jeremias 31:33).
Mesmo que ignoremos ou interpretemos mal nossa relação com Deus, Ele ainda é nosso Pai amoroso, e nada pode realmente mudar ou interromper nossa herança de união com Ele. Quando temos problemas de qualquer tipo, tais como doença, pecado, carência financeira ou perigo, a solução é compreender que o senso material das coisas é falso, é uma ilusão. Temos autoridade para rejeitar tudo o que é dessemelhante de Deus, e afirmar a verdade espiritual, ou seja, que somente o bem é real. E o resultado é a cura.
Então, voltando ao meu gato, por um momento. Eu estava absorto em um sonho sobre uma coisa ou outra. Embora sem saber, eu me sentia completamente separado de tudo, menos do sonho. Entretanto, meu gato sabia que eu estava exatamente ali na minha cama e me avisou à sua maneira que queria entrar. Ele não tentou entrar no meu sonho, convencer-me da irrealidade do sonho, ou comparar o sonho com a realidade. Não importava onde eu pensasse que estava, ele sabia onde eu realmente estava e agiu de acordo com a realidade.
Isso traz à baila algumas questões que muitas vezes confundem as pessoas. Será que Deus não precisa saber exatamente o que há de errado conosco para que possamos ser curados? Será que o praticista da Ciência Cristã não precisa saber todos os detalhes de um problema, antes que este possa ser corrigido?
A resposta para ambas as questões é não. Uma abordagem centrada no problema ou centrada no erro não é o que cura. Em vez disso, precisamos despertar para a verdade de que Deus é Tudo. Em seu livro A Unidade do Bem, Mary Baker Eddy coloca assim essa questão: “A Verdade é Deus e está na lei de Deus. Essa lei declara que a Verdade é Tudo, e o erro não existe. Tal lei da Verdade destrói todas as fases do erro….
“Mas, como poderíamos nós perder toda a consciência do erro, se Deus fosse consciente do erro? Deus não proíbe o homem de conhecê-Lo; ao contrário, o Pai ordena ao homem que tenha a mesma Mente ‘que houve também em Cristo Jesus’ — a qual por certo era a Mente divina; mas Deus de fato proíbe o homem de conhecer o mal” (p. 4).
O que é necessário para a cura não é conhecer profundamente as especificidades de um problema, mas sim, exatamente o oposto: é preciso uma familiaridade mais profunda com a natureza de Deus, o bem. Deus sabe onde estamos e quem somos, por isso precisamos ouvir, não os sentidos materiais, mas o Seu Cristo, que o livro-texto da Ciência Cristã define como: “a ideia verdadeira que proclama o bem, a mensagem divina de Deus aos homens, a qual fala à consciência humana” (Mary Baker Eddy, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 332).
Assim como a luz que brilha através da janela não reorganiza o interior de nossa casa, mas simplesmente o ilumina, a luz do Cristo não ajusta nem corrige um problema “real”, mas nos mostra a verdade a respeito da nossa situação. Nosso papel, então, é renunciar à nossa crença na realidade de um problema e despertar com alegria para a harmonia que está sempre se desdobrando, de acordo com a lei divina.
Às vezes, talvez seja necessário ficar muito firmes em nos recusar a aceitar, como se fosse nossa, a desarmonia ou uma história triste, para que possamos sentir o amor ininterrupto que Deus tem por nós. Como o autor de Efésios aconselha: “…quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (4:22–24).
Eu vi na prática os benefícios de fazer exatamente isso. Certa vez, eu estava lutando com um problema de relacionamento e simplesmente não conseguia encontrar uma saída. Tinha tantos motivos para me sentir frustrado! Por fim, recorri a um praticista da Ciência Cristã, pedindo ajuda em oração, e ele me disse que uma das coisas mais importantes que eu poderia fazer era ter a certeza do amor que Deus tem por mim.
Essa não parecia ser a solução que o meu problema imediato exigia, conforme a análise que eu havia feito dele. Eu esperava encontrar uma estratégia para seguir em frente com base naquele contexto específico. Mas a cura pela Ciência Cristã não parte de um diagnóstico psicológico; ela se baseia unicamente na verdade a respeito do existir, conforme apresentada na Bíblia e explicada nos escritos da Sra. Eddy. A verdade fundamental é que “Deus é amor” (1 João 4:8) e que “…o Amor divino não pode ser privado de sua manifestação, ou objeto; …” (Ciência e Saúde, p. 304).
Compreendi que o Amor, Deus, não pode me perder, pois me seria impossível sair da infinitude do Amor. Consequentemente, eu não poderia estar em nenhuma situação que pudesse me separar do Amor. Logo, a minha real necessidade era a de sentir a presença do Amor e o seu terno cuidado por mim. Isso não poderia ser alcançado ou sustentado, se eu insistisse na realidade do problema.
Fiquei muito grato por essa abordagem totalmente centrada em Deus. E não demorou muito para que o problema fosse completamente curado.
É bom sentir que fomos ouvidos, e às vezes pode ser reconfortante saber que alguém ouviu nossas preocupações. Mas a verdadeira cura não é apenas o gerenciamento ou a atenuação de problemas. A cura é a revelação da realidade espiritual. É a transformação do pensamento que vem com uma compreensão mais profunda do reino de Deus — do que Deus é e do que Ele já fez. É a transformação do pensamento por meio do amor de Deus, do qual nunca fomos excluídos. É um despertar para a nossa verdadeira situação — nossa eterna união com Deus e com o nosso lar permanente no reino dos céus.
