Lynn galopava no seu cavalinho de pau quando Mamãe entrou para aprontar as cobertas e ajeitar o travesseiro. “Muito bem, amazona. Freie seu cavalo e venha à cabana. Seu beliche está pronto.”
Lynn desmontou e deitou as rédeas sobre a guarda da cama. Pendurou o chapéu num gancho e se aninhou, quando de súbito sentou-se de um salto e rodopiou para fora da cama. “Um minutinho, Mamãe.” Como se fosse um pônei, troteou até a cozinha.
Arrastou o banquinho amarelo até a prateleira do livro de receitas e trepou nele. Parada na ponta dos pés, alcançou o livro de brilhante capa vermelha. Era muito grande e muito pesado para segurar enquanto pulava, assim é que o colocou sobre o balcão. Daí saltou ao chão, enfiou o grosso livro sob o braço, e empinou de volta para o quarto de dormir.
A Mamãe sentou-se na cama enquanto Lynn folheava as páginas. Era sextafeira de noite. Os fins de semana eram uma coisa especial porque Mamãe ficava em casa — não ia ao escritório, não só de manhã e de noite, mas por dois dias inteiros.
Aos domingos, Lynn, sua irmã e a Mamãe iam à igreja da Ciência Cristã. Mas os sábados Mamãe dedicava ao trabalho que faziam juntas. Amanhã seria SUPER ESPECIAL! Iriam fazer o bolo preferido de Lynn.
E agora encontrara a gravura dele. “Bolo Dourado Amarelo”, leu. Lynn estava com quase quatro anos e ajudava em muitas coisas. Sentia-se como um verdadeiro mestre-cuca. Mamãe lhe fizera um gorro branco e alto e um avental branco de mestre-cuca para usar quando cozinhassem juntas.
Lynn e Mamãe estavam falando sobre a gravura do bolo. “M-m-m-m! Parece tão de verdade que dá vontade de comer.” Ambas se riram.
“Se você comesse a receita, não a poderíamos ler! Amanhã você terá o bolo de verdade.”
“Vamos ler a receita já, Mamãe.” Os olhos de Lynn seguiam o dedo de Mamãe, e ela reconhecia algumas das palavras, como manteiga, açúcar e ovos.
“Esses são os ingredientes”, disse a Mamãe. “Você sabe o que a palavra quer dizer, não sabe?”
“Quer dizer — deixe ver — cada ingrediente consiste daquilo que se junta para fazer alguma coisa. Vamos ler agora como é que se juntam os ingredientes, Mamãe.”
“Muito bem. Se quisermos fazer um bolo perfeito, é muito importante medir cuidadosamente e obedecer as instruções, bem como diz a receita. Por exemplo, o que aconteceria se usássemos uma xícara de sal e uma colher de chá de açúcar, ao invés de ser o contrário?”
Lynn deu uma risadinha. “Seria um bolo com um gosto horrível e ninguém o comeria.”
A Mamãe também se riu. “Bem, não vamos fazer nada disso. E trabalhando juntas bateremos esse bolo num minuto.”
Depois dessa visitinha e das orações, a Mamãe apagou a luz.
Um som queixoso acordou a Mamãe. Quase sempre ela voltava a dormir. Sabia que às vezes um som queria dizer que a pequena amazona estava apenas sonhando com um passeio ao luar, pelo campo, no cavalinho de pau. Mas esse rumor era diferente — mais vagaroso, e contínuo ... e contínuo ....
A Mamãe se levantou e encontrou Lynn meio adormecida, inclinada sobre o cavalinho de pau, e parecia febril. Colocou Lynn de volta na cama e conversou com ela sobre Deus. “O Pai-Mãe Deus que você tem, o Pai-Mãe que todo mundo tem, está cuidando de você e de todos nós, Lynn. E Ele está conservando todos nós sãos e felizes. Isto é verdade agora mesmo, disse a Mamãe. Qualquer coisa que não seja boa, não é verdade. Você sabe que a Bíblia diz: «Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.» Gen. 1:31; Será que agora podemos dormir?” Sonolenta, Lynn concordou.
Quando acordou pela manhã, Lynn não sentia muita sentia muita vontade de se vestir. Quase sempre na hora das refeições Lynn estava esfomeada e pronta para comer. Mas agora, na mesa, o lanche quase não descia. E quando descia, não parava.
Depois de lavar a louça, a Mamãe abriu o livro grande de brilhante capa vermelha. Daí reuniu os ingredientes para o Bolo Dourado Amarelo. “Você vai me ajudar?”, perguntou. “Aqui estão o seu gorro e o avental.”
Lynn trepou no banquinho e alcançou para a Mamãe o açúcar e as colherinhas de medir. Mas não se sentiu disposta a ficar ali até que a massa ficasse pronta. Ela nem pediu para lamber a tigela e a batedeira.
A Mamãe colocou o bolo no forno. Então sentou-se na cadeira de balanço com Lynn no colo. Juntas, falaram de novo sobre o amor que Deus tinha por ela. “Cristo Jesus nos ensinou que se vivemos no amor vivemos em Deus, porque Ele é Amor. Não pode haver nada de ruim no Amor divino, pode?”
Por alguns minutos a Mamãe embalou Lynn silenciosamente. Ela estava orando para saber de Deus as verdades que pudessem ajudar Lynn a recuperar-se perfeitamente.
De repente lhe veio a idéia certa. “Vamos falar sobre você e o bolo, Lynn”, começou a Mamãe. “Você sabe que Mrs. Eddy diz: «A Bíblia contém a receita para toda cura.» Ciência e Saúde, p. 406. A Bíblia nos diz que Deus fez o homem inteiramente bom. Deus o fez de Suas qualidades, tais como amor, verdade, felicidade, inteligência, cordialidade, colaboração, alegria, e muitas, muitas mais. E agora, que me diz do bolo? Do que é feito? Quais são os ingredientes que pusemos na tigela para fazer o bolo de que você mais gosta?”
Lynn pensou por um momento e então disse: “Nós pusemos açúcar ...”
“Certo”, disse a Mamãe rapidamente, “e farinha ...”
“E ovos ...”, disse Lynn.
“E manteiga”, acrescentou a Mamãe.
“Quando tirarmos o bolo do forno, precisaremos pôr ainda açúcar, farinha e ovos nele para que se torne mais bolo do que já é?” perguntou a Mamãe.
“Não”, disse Lynn. “Ele daí já sai todo pronto.”
“É isso mesmo, meu bem. E isso também é verdade a respeito de você. Você é criada por Deus, e você está toda pronta. Nada pode ser acrescentado a você”, disse a Mamãe a Lynn.
Com isso, um sorriso surgiu na boca de Lynn e se espalhou até que cintilou nos seus olhos e se transformou numa risada feliz. “Você quer dizer que eu tenho ingredientes, também, como o bolo. Os meus ingredientes são essas coisas de que você disse que Deus me fez, não são? E Ele me juntou toda, não foi?”
“Sim, foi isso mesmo, e você está com saúde perfeita agora mesmo, assim como Ele a fez.”
Lynn escorregou do colo da Mamãe, perfeitamente bem. A pequena amazona tinha aprendido quais eram os seus ingredientes de verdade — todos bons. Correu em busca do chapéu de aba larga, pôs o pé no estribo, a mão no arção da sela e impulsionou-se para o lombo do cavalinho de pau. Com as rédeas bem seguras na mão esquerda e sacudindo o chapéu na direita, sentou-se bem para trás. Sua montaria corcoveou e as patas dianteiras bateram o ar. Então ela se ajeitou na sela para dar um longo e alegre galope.