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Na prisão, encontrei a liberdade

Da edição de março de 1975 dO Arauto da Ciência Cristã


Cresci no Brooklin, um bairro pobre da cidade de Nova Iorque, fazendo aquelas coisas que a maior parte das crianças de favela fazem. Meus pais tentaram dar-me boa criação, mas, você sabe, as pessoas ficam tão envolvidas em suas próprias vidas que se lhes torna difícil ver o que realmente está acontecendo aos filhos.

Minha mãe queria a melhor educação para mim. Mas as escolas da minha redondeza não eram nada boas. Fui para o curso secundário numa outra parte da cidade. Do ponto de vista acadêmico, a escola era muito boa, embora fosse um daqueles clubes sociais, isto é, uma das escolas dos brancos da classe média com longa história de discriminação social.

As coisas nunca foram muito bem comigo. Havia esse grande vazio produzido pela solidão, havia essa sensação de falta de segurança, coisas pelas quais a maior parte dos negros pobres passam. Eu não tinha como exemplo imagem alguma a seguir a não ser o batedor de carteiras, o traficante de narcóticos e o agente da loteria ilegal — os sujeitos que andam por aí dirigindo carros de altíssimo preço. Esses eram os tais que pareciam bem sucedidos na vida. Na escola nunca ouvíamos falar sobre os negros que estavam fazendo alguma coisa útil.

Eu costumava visitar Forest Hills, um bairro muito rico dos subúrbios, onde ia à casa de um menino branco que jogava comigo no quadro de basquete. Naquela época eu não estava em condições de analisar por que eles eram tão ricos e nós não. Eu simplesmente tentava assimilar os valores da classe média, buscava conseguir coisas materiais, você sabe.

Comecei identificando-me na escola com uma multidão desregrada. Eles andavam por aí roubando dinheiro dos bancos enfiando simplesmente o braço dentro do guichê. Tinham um bom sortimento de ternos finos em casa. Comecei roubando roupas, pois assim eu podia andar bem vestido e mostrar a todo mundo como eu era bem apessoado.

Como resultado de roubos praticados em lojas, quase fui expulso da escola. Foi-me dado tratamento destinado a delinqüentes juvenis — e por isso destruíram minha ficha, mas tive de comparecer à corte de justiça. Tinha apenas quinze anos. O juiz disse: “Se você alguma vez voltar à minha frente, vou mandar interná-lo ate completar vinte e um anos.” Isso deu-me uma sacudidela que me controlou durante três anos, tempo suficiente para eu terminar o curso secundário.

Tentei, no curso secundário, obter uma bolsa de estudo com base em capacidade atlética, mas a coisa não deu certo. Eu não estava preparado — era só uma questão de glória para mim. Eu simplesmente havia imaginado que seria um grande astro no basquete.

Então fui parar no Exército. Fui escolhido para a Escola Preparatória de Oficiais, mas numa de minhas licenças de três dias demorei-me demasiado tempo em casa, e assim me desligaram dali. Então enviaram-me para além-mar — para a Alemanha. Quando lá cheguei, meti-me no mercado negro. Daí fui demitido por ser considerado indesejável — e depois que isso aconteceu, era como se o mundo inteiro caísse sobre mim. Quando me disseram que ao voltar para os Estados Unidos não conseguiria emprego e que teria uma mancha permanente em meus assentamentos, eu quis me vingar — eu havia de provar que podia tirar uma desforra da sociedade, que eu não precisava conformar-me a fim de sobreviver.

Voltei à Nova Iorque e me envolvi em atividades ilícitas na rua, até que isso alcançou o clímax em 1967, quando assaltei um supermeracado. Não houve violência e eu não estava armado. A polícia estava esperando do lado de fora. E foi a melhor coisa que poderia terme acontecido. Eu estava patinando sobre a morte, mas Deus protegeu-me com Seu grande poder, e não me deixou ir adiante.

Sabe, sempre tive a impressão, desde quando era menininho, e mesmo quando estava vivendo desregradamente, que para mim havia algo melhor na estrada do destino — que eu estava destinado a algum grande propósito. Não tinha a menor idéia do que seria. A religião era a última coisa em que teria pensado. Agora sei qual é o meu destino: o de expressar o bem e pôr-me em harmonia com a lei universal do bem que sustenta com precisão o homem e o universo inteiro.

O mal realmente não tem poder algum. É exatamente como a Sr.a Eddy diz: “O maior mal é apenas um oposto hipotético do sumo bem.” Ciência e Saúde, p. 368; No meu caso, o erro apenas estava amadurecendo para ser destruído. Quando fui preso em frente àquele supermercado, o erro havia chegado ao seu fim. Justamente ali é que passei a caminhar rumo à liberdade.

Durante vinte e dois meses fiquei em detenção, aguardando julgamento. Um centro de detenção não é um lugar agradável. Os reclusos e os guardas descarregam suas frustrações uns sobre os outros, e a qualquer momento pode estourar um motim. O recluso — esse não recebe qualquer correspondência, geralmente foi abandonado pela família ou pelos amigos, e a única coisa que tem com que alimentar a mente é tirar desforra e fazer com que alguém pague por seus sofrimentos.

Eu não tinha conhecimento algum da Ciência Cristã antes de ser preso. Assim, ia vegetando na cela, entediado e frustrado, sentindo um vazio na mente. Um dia fui a um culto da Ciência Cristã, só para ocupar a mente. E era justamente isso o que eu necessitava. Alimento espiritual. E daquele momento em diante houve grande mudança na minha vida, e a Ciência Cristã tornou-se parte de mim mesmo. Eu havia sido como um morto-vivo sentado naquela capela, mas de repente foi como se a ressurreição de Lázaro fosse a minha própria. Quando desci as escadas para a cela, estava como que gritando de alegria lá de cima do eirado. Havia imediatamente captado algo da verdade. Vi que minha identidade real na Mente, Deus, sempre tinha sido boa e sempre seria boa.

Eu tinha abandonado minha família, mas, é claro, minha mãe vinha ver-me. Ela notou que eu parecia ter conseguido controle sobre a situação, e ficou curiosa. Assim, falei-lhe sobre a Ciência Cristã. Mamãe sempre tinha estado à procura da verdade, e assim adotou imediatamente a Ciência Cristã e matriculou meu irmão na Escola Dominical.

Os Cientistas Cristãos que vieram conversar comigo, confirmaram-me realmente na Ciência Cristã, sustentaram-me o tempo todo. Nunca tentaram doutrinar-me; não eram suas palavras que me sustentavam — mas sim a atitude carinhosa deles. Essa gente não tinha prevenção alguma contra minha cor ou contra o que eu havia feito. Viam-me como o homem real da criação de Deus, e sabiam que o mal a meu respeito absolutamente não era verdadeiro. Tratavam-me como se eu fosse um rei.

Assim verifiquei que as circunstâncias não me haviam preparado uma armadilha. Embora estivesse fisicamente na prisão, eu estava livre para saber a verdade, e a verdade é uma lei de libertação. Meu pensamento ficou livre do mal, e depois a verdade me libertou fisicamente.

Bem, a Ciência Cristã tornou-se para mim um modo de vida, e eu procurei a companhia de outros homens que a ela eram receptivos. Para adquirir compreensão mais profunda pesquisávamos diariamente a Bíblia, os periódicos da Ciência Cristã, e tudo quanto a Sr.a Eddy disse. Sempre conservávamos uma atmosfera harmoniosa, até mesmo nesse ambiente miserável, como diz este versículo bíblico: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” Mateus 18:20. Demonstramos harmonia, porque não há como fugir disso, pois queremos pôr um paradeiro ao nosso sofrimento. O resultado foi que os homens tiveram curas, tanto de males físicos como de falsos apetites mentais. Foi isso o que fez com que os homens que estavam na prisão — bem como eu — criássemos tanto amor pela Ciência Cristã. Eu de fato a vivia diariamente.

A gente pode descer até aquele nível de hostilidade que conduz à destruição, ou pode elevar-se à pureza da consciência sintonizada em Deus, a Mente suprema. Essa Mente só pode trazer o bem ao homem e ao universo inteiro. É o único poder real.

Depois de quase dois anos em detenção, fui levado à corte que tomaria a decisão final do meu caso. Nesse momento tive a sensação de que estava preparado para a verdadeira liberdade — a liberdade espiritual. E como resultado, fui sentenciado e enviado para a prisão de Sing Sing, para ali cumprir somente mais alguns meses da pena. Depois fui transferido para outra prisão, onde não havia cultos de Ciência Cristã. Mas encontrei um capelão protestante maravilhoso que me fornecia os exemplares semanais do Christian Science Sentinel. Sinto-me muito grato porque, embora fosse transferido para três prisões diferentes, sempre me permitiram conservar meus exemplares de Ciência e Saúde e da Bíblia, e receber o Livrete Trimestral da Ciência Cristã para estudar a Lição-Sermão, que ajudou a purificar meu pensamento.

Sabe, até mesmo nas insuportáveis condições da prisão, conseguimos ficar a sós para tentar achar a nós mesmos. O Mestre, Cristo Jesus, ia sozinho ao topo da montanha em busca de força espiritual — antes de descer para destruir os pensamentos maus do povo, lá em baixo. Podemos utilizar a solidão para refazer-nos espiritualmente mediante oração, a fim de lidarmos com os pensamentos diabólicos da hostilidade e do desespero que encontramos na prisão. E é isso o que o confinamento foi para mim: o topo da montanha.

Finalmente, fui solto mediante livramento condicional, em outubro de 1969, mas outros policiais estavam do lado de fora da cadeia esperando para levar-me para Nova Jérsea sob uma outra antiga acusação, da qual eu quase me havia esquecido — o roubo de um carro. Cumpri pena em Nova Jérsea até julho de 1970. Lá também não havia cultos da Ciência Cristã, mas ainda assim tive a oportunidade de lançar algumas sementes da Verdade entre homens receptivos.

Lembro-me de ter dito a um juiz: “O perdão do magistrado ou a absolvição do júri só pode encorajar a repetição do crime. Porque o motivo que leva a cometê-lo tem de ser autodestruído ... por mim!” Eu sabia que não fora o juiz, ou a polícia, ou o júri, que me enviara à prisão, e que eu não era vítima das circunstâncias. O motivo era apenas meu modo de pensar errado. Eu tinha de mudar meus motivos para viver.

As pessoas muitas vezes perguntam-me se me sinto amargurado. Não! Aprendi que aquilo que semeamos em nossa vida é o que dela colhemos. Eu havia semeado há muito tempo os pensamentos que me lançaram na prisão, e estava apenas colhendo o resultado do meu próprio modo de pensar, de minhas más ações. Sei que agora corrigi isso. Sai da prisão com o corpo que lá entrei, mas cresci mentalmente através da Ciência Cristã.

A primeira coisa que fiz quando de lá saí, foi ir à filial da Igreja de Cristo, Cientista, à qual pertenciam as pessoas que me haviam apoiado. Não me sentia um estranho; tinha a sensação de que ao sair da cadeia eu passara a viver lá fora segundo os mesmos padrões que havia vivido ali dentro. Eu morava na consciência do bem e continuaria nela. Tinha vencido os maus pensamentos que haviam escondido de mim a harmonia da vida.

Alguns meses depois filiei-me em A Igreja Mãe. Sentia-me já um membro em espírito e em demonstração. Mais tarde uni-me, também, a uma igreja filial.

Inscrevi-me num programa especial de orientação na escolha de uma universidade e que concede bolsas de estudo a jovens de grupos minoritários. Ingressei na “City University”, em Nova Iorque, tive as melhores notas como estudante de letras, especializando-me na arte de escrever bem.

Achei a Ciência Cristã através de grande sofrimento. Hoje procuro ir ao encontro de presos e mostrar-lhes que se eu pude vencer os horrores da vida da prisão, também eles poderão vencer toda e qualquer circunstância.

Um companheiro de prisão disse-me certa vez: “Olhe, você sabe, eu poderia mudar, como não, e talvez eu devesse mudar e fazer coisas melhores, mas mudar e fazer o quê? Estou acostumado a viver fora da lei há tanto tempo, e então, homem, que é que vou fazer? Não sei o que fazer, nem como fazer.

Bem, em realidade ele poderia fazer qualquer coisa que quisesse, se soubesse o caminho. E a Ciência Cristã é o caminho.

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