Será que somos conversadores descuidados? Será que nossa conversa poderia se tornar um tributo mais elevado à nossa compreensão espiritual de Deus e do homem? É bem provável que muitos de nós teríamos de responder afirmativamente a essas perguntas.
A importância de dizer somente o que é preciso ser dito veio à minha atenção de uma maneira suave, porém impressiva, e da seguinte forma.
Certa vez, durante uma visita a um amigo em quem eu confiava, relatei-lhe uma experiência que me havia preocupado grandemente. Tratava-se de um caso de relacionamento feliz e querido que parecia estar sofrendo transformações. Ocorreu-me em meio ao relato que nele não havia finalidade alguma construtiva. Eu sabia que ao apresentar-se uma necessidade real, há muitas vezes um amigo para desempenhar o papel de ouvinte, mas nessa ocasião eu simplesmente estava indo longe demais e falando demais. Foi nesse ponto que me ocorreram as palavras do profeta Jeremias: “Fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo?”
Parei de contar o caso. A conversa tomou um rumo diferente. Mais tarde, quando a sós, apliquei-me a obter uma compreensão melhor dessa citação que tão repentinamente me viera ao pensamento. Procurei-a na Bíblia. A admoestação de Jeremias diz, em seu todo: “O profeta que tem sonho, conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor.” Jeremias 23:28;
Isso me levou a estudar ainda mais as referências da Sr.a Eddy relacionadas com a existência material como o “sonho de Adão”. Em Ciência e Saúde, o livro-texto da Ciência Cristã, escreve ela: “A origem de toda discórdia humana foi o sonho de Adão, o sono profundo no qual se originou a ilusão de que a vida e a inteligência procederam da matéria e nela entraram.” Ciência e Saúde, pp. 306–307;
Ao conversarmos não nos encontramos muitas vezes a falar sem parar, dizendo coisas que não precisam ser ditas? Nosso desejo de resolver problemas por meio da verdade nos liberta do que talvez tenhamos considerado como injustiça humana, ou sofrimento, ou revés, mas é comum falharmos em levar tal questão a uma cura completa — isto é, até a disposição de deixar que o erro se torne “palha”, um mero incidente no “sonho de Adão”.
Por exemplo, é comum nos alongarmos sobre um relacionamento humano incerto em vez de nos regozijarmos na liberdade maravilhosa que nos vem do ponto de vista espiritual e que nos liberta — de preocupações atormentadoras, de imprevistos quanto à atitude de outros pessoas, de desapontos inesperados baseados em expectativas humanas. À medida que realmente somos gratos pelas lições aprendidas e pelo progresso espiritual feito, compreendemos por que não mais precisamos nos lembrar de experiências difíceis, ou narrá-las, exceto quando isso pode ser de alguma ajuda. O conceito material de pessoa, seja a nosso respeito ou de outrém, cede ante o conceito espiritual de homem. Se nos lançarmos à procura de uma base mais satisfatória para a saúde, a felicidade e o relacionamento humanos, isso resultará em consciência alerta para o Amor divino, imutável e incessante. Qualquer que seja o resultado humano, até mesmo um grão de consciência espiritualizada, é esse um ganho glorioso.
Por vezes nos encontramos a orar semiconscientemente: “Senhor, habilita-me a ver que sou inteiramente espiritual — mas ainda não!” Esse é um bom lembrete, para a hora em que o erro sugere alguma dificuldade. Lembra-nos que temos de reivindicar a pureza de nosso desejo de nos vermos como seres espirituais, e então abandonar todo pensamento que viria reduzir esse desejo a palavras vãs. Todos nós estamos jornadeando dos sentidos para a Alma. O abandono, ou a correção, de velhos hábitos de pensamento constitue muito de nosso esforço correto. A Sr.a Eddy diznos: “A ignorância quanto ao nosso próprio ser, a obstinação, a justificação própria, a luxúria, a cobiça, a inveja, a vingança são os inimigos da graça, da paz e do progresso; devem ser enfrentados resolutamente e vencidos, ou erradicarão toda a felicidade. Tende bom ânimo, a luta com o próprio eu é portentosa; dá-nos muito que fazer, e o Princípio divino opera convosco — e a obediência coroa o esforço persistente com uma vitória perene.” Miscellaneous Writings, p. 118;
Nosso despertar do sonho de vida na matéria, graças ao Cristo, a verdadeira idéia de Deus, parece ser realizado passo a passo — uma fase do sonho por vezes. Toda vez que reconhecemos a realidade da Mente e do Amor, contudo, ajudamo-nos a ver e sentir a alegria de nossa verdadeira identidade como manifestação individualizada do próprio ser de Deus.
No livro de Isaías isso se encontra resumido para nós: “Eu, o Senhor, falo a verdade, e proclamo o que é direito.” Isaías 45:19.