Enquanto os sinos repicam a mensagem natalina, “paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” Lucas 2:14;, milhões vão se lembrar de um homem nascido em Belém, há quase dois mil anos e, a seu modo, render-lhe homenagem.
Muitos vão ler de novo a conhecida história de sua mãe, Maria, que se abrigou num estábulo “porque não havia lugar ... na hospedaria” v. 7;. E vão deter-se afetuosamente no relato, pensando no recémnascido que, embora deitado numa manjedoura, foi reverenciado pelos magos como o sinal do advento do Salvador do mundo, o Messias ou Cristo, o Filho de Deus.
Outros não vão se deter tanto na história tradicional do Natal, isto é, em Jesus como menino. Vão relembrá-lo como homem maduro, a ensinar incansavelmente as multidões e a curar os doentes. Vão recordar-se de sua mensagem que fala na natureza de Deus como Espírito infinito, o Amor divino, o criador do universo e do homem — um universo que é todo amável, governado pela lei divina da harmonia perfeita. E haverão de se lembrar, maravilhados e cheios de gratidão, dos evangelhos com seus relatos das curas e dos acontecimentos milagrosos que acompanharam o ministério desse homem, desse homem que era, na verdade, o Filho de Deus.
E haverá ainda outros que, sustentando o duvidoso ponto de vista de que nada do que se encontra na Bíblia deve ser tomado como literalmente verdadeiro, talvez protestem contra o que acreditam ser ingenuidade nas comemorações tradicionais do Natal. Ora, ainda que acreditem que os detalhes contidos nos relatos dos evangelhos possam ser em grande parte lenda ou pelo menos “mito” — no sentido de uma história sagrada que talvez seja verdadeira, talvez não — ainda assim admitem o valor maravilhoso que a mensagem do cristianismo contém. E vão pensar em Jesus, o seu portador, como um grandioso personagem histórico — um mensageiro a ser honrado e ouvido.
Seja, porém, o que for que alguém aprecie no relato do nascimento humano de Jesus e na sua vida, isto só tem importância por aludir à exposição infinitamente significativa da Verdade e do Amor divinos que ele trouxe ao mundo e que ele não só ensinava como também representava de modo tão perfeito. Esta idéia espiritual é o Cristo eterno, a verdadeira idéia de Deus, a qual antedatava até mesmo os profetas e os patriarcas. Sendo impessoal e divina, ela só é discernível pelo sentido espiritual e é, muito a propósito, comemorada e adorada espiritualmente em vez de o ser mediante a condescendência material.
O Jesus humano sofreu às mãos dos mortais em razão da verdade espiritual que ele vivia e ensinava. “O pendor da carne é inimizade contra Deus” Romanos 8:7;, como o disse S. Paulo. Ora, mediante sua lealdade à idéia-Cristo, o Mestre triunfou tanto sobre o pecado como sobre a morte. Mostrou como nós também temos a possibilidade de conseguir a demonstração da vida não na matéria, mas em Deus, o Espírito, e assim despertar para sempre da crença de que somos mortais sofredores e frágeis para nos conscientizarmos do ser real em união com o criador divino, desfrutando eternamente da harmonia celestial.
A manifestação da verdadeira natureza crística do homem que Jesus exemplificava é o nosso Salvador, que nos livra da crença mortal e do pecado. A Ciência Cristã demonstra que, na proporção em que aceitamos os ensinamentos do Mestre e seguimos o seu exemplo, emergimos da limitação carnal e do sofrimento — emergimos da crença em mortalidade, em estado físico e na dependência da matéria. Podemos, individual e coletivamente, comprovar que não somos vítimas do tempo e das leis da matéria, e desfrutar cada vez mais da liberdade e da harmonia dos filhos de Deus, os quais estão sempre unidos com Ele no Espírito, mas nunca na carne.
Por este dom da compreensão crística de que o homem é uno com Deus e pelos resultados curativos que certamente hão de advir, somos eternamente gratos a Jesus. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: “Jesus de Nazaré ensinou e demonstrou a união do homem com o Pai, e por isso lhe devemos homenagem eterna.” Ciência e Saúde, p. 18; Então, na medida em que obtemos vislumbres mais claros do seu significado, a época do Natal deixa de ser um festival em comemoração de um acontecimento material e passa a ser uma oportunidade de adquirir maior compreensão espiritual quanto à mensagem que o Mestre trouxe e assim passamos a ponderar a promessa que contém para a humanidade toda.
A Sra. Eddy estabelece um contraste entre a comemoração do Natal de um ponto de vista do sentido material e a sua comemoração de uma perspectiva da compreensão espiritual. Diz: “Observado segundo o sentido material, o Natal celebra o nascimento de uma criancinha humana, material, mortal — uma criancinha nascida numa manjedoura entre rebanhos e manadas de uma aldeia judaica.” E mais adiante, acrescenta: “Celebro o Natal com minha alma, com o meu sentido espiritual, e assim comemoro a entrada, na consciência humana, do Cristo concebido pelo Espírito, por Deus, e não por uma mulher — como o nascimento da Verdade, a aurora do Amor divino a romper a escuridão da matéria e do mal com a glória do ser infinito.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 262.
Quando nós mesmos celebramos com o sentido espiritual o Natal e comemoramos o advento, na consciência humana, da idéia-Cristo, a verdadeira manifestação do Amor, não só captamos mais do significado essencial que sublinha este festival anual, como também recebemos em curas as bênçãos que o Cristo traz. Nossa compreensão espiritual será elevada a novas alturas. Os males serão expulsos, os doentes serão curados, os tristes consolados — tal como o foram quando Jesus veio à terra e revelou à humanidade a verdadeira idéia de Deus.