Em tempos passados, pensava eu que a metafísica se assemelhasse a uma escadaria. Cada demonstração da verdade de Deus e do homem nos daria maior compreensão do Cristo; e quanto mais alto subíssemos, tanto mais garantida estaria a nossa capacidade de curar. Agora, porém, acredito que a metafísica se parece a um círculo. Quanto mais compreendemos do Cristo, a Verdade, tanto mais claro se torna que a escadaria não passa de ilusão da mente humana. O último degrau nada mais é que o prelúdio de um novo conceito do primeiro.
Tome-se, por exemplo, o conceito do Cristo. Quiçá nossa primeira experiência na Ciência do Cristo, a Ciência CristãChristian Science (kris’tiann sai’ennss), tivesse sido a de uma cura. Pouco entendíamos da metafísica respeito de Deus e do homem, mas, de certo modo, havíamos demonstrado suficiente mansidão para reconhecer um poder superior ao de nossa convicção de que há vida na matéria. Nesse estado de manisdão, a Verdade, o Cristo, deu-se a conhecer e ficamos curados.
Amiúde essas primeiras curas deram-se rápida e decisivamente. Logo começamos a estudar Ciência Cristã a fim de aprender mais a respeito do Cristo que cura, e deveras aprendemos mais. A completa nulidade da matéria torna-se-nos mais compreensível. Que o Espírito, Deus, é Tudo, vem a ser a base de nosso progresso. E a perfeição do homem, como reflexo espiritual de Deus, passa a ser um fato lógico, do qual começamos a dar prova gradualmente — cada passo no aprendizado determinando algum tipo de cura. Então, ao nos elevarmos, vemos que há menos necessidade de palavras ou de lógica humana, e por fim o primitivo conceito que entretínhamos do Cristo — aquele maravilhoso sentimento de iluminação divina em que a Verdade invisível nos assegura que tudo está bem e nos achamos curados — se transforma noutro conceito mais adiantado do Cristo. Mais uma vez a cura é espontânea. Também isso requer maior compreensão, e seguimos adiante, se é que desejamos progredir no círculo.
Como somos individuais, não é do mesmo modo que todos progridem. E, por serem os degraus mera ilusão da mente humana, aceitar um conceito da metafísica como de escadaria implica, outrossim, não só crer que alguns de nós nos achamos num ponto mais elevado do que outros, mas também que algumas pessoas encontram-se na escadaria errada. A isso chamaríamos de metafísica “correta” ou “incorreta”.
Não quero dizer que todas as pessoas estejam certas, a despeito do sistema de metafísica que adotam, mas que a base para alguém achar que está com a razão é, freqüentemente, apenas orgulhosa interpretação pessoal — talvez a sua própria, ou a de algum professor ou professora maravilhosos que comunicou o que viu do seu próprio ponto de desenvolvimento espiritual. O que deu era válido, mas não a ponto de excluir um novo conceito que outra pessoa descobriu na sua jornada “para cima”.
A norma da perfeição, o guia para a compreensão da Ciência Cristã, acha-se estabelecida no seu livro-texto, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de autoria de Mary Baker Eddy. Do livro consta, simplesmente: “A norma da perfeição foi originariamente Deus e o homem.” Usando retórica, a autora indaga: “Teria Deus rebaixado Sua própria norma, e teria o homem decaído?” Ciência e Saúde, p. 470; Com essa norma primordial de perfeição todos os estudantes de Ciência Cristã têm de concordar, quer se julguem subindo uma escadaria ou descrevendo círculos. O conceito de escadaria, entretanto, nos expõe ao orgulho, o qual por sua vez conduz a divisões. O conceito de círculo, passando pela mansidão, conduz a maior apreço de uns pelos outros, e à união, pois num círculo nunca é possível ter-se certeza de que alguém está situado atrás ou na frente.
Quando verificamos que a altura atingida em metafísica com o auxílio de nossos muitos anos de estudo equivale à percepção de uma criancinha, ou talvez à de um adulto que encontrou a Ciência Cristã há pouco tempo, começamos a compreender a parábola de Cristo Jesus sobre os trabalhadores na vinha. Os que labutaram o dia todo receberam o mesmo pagamento que os que trabalharam apenas uma hora. Jesus finalizou a parábola comentando: “Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão últimos. ...” Mateus 20:16;
O avanço em metafísica que favorece a capacidade de curar não resulta de tempo ou labuta, mas de compreensão espiritual. E compreensão espiritual não é algo que o ser humano efetua, e, sim, algo que o Espírito, Deus, outorga. A Sra. Eddy, que descobriu e fundou a Ciência Cristã, escreve: “Essa compreensão não é intelectual, não é o resultado de conhecimentos eruditos; é a realidade de todas as coisas trazida à luz.” Ciência e Saúde, p. 505;
O que se faz necessário, então, para realizarmos melhor obra de cura? Mansidão! “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.” Mateus 5:5; É preciso que sejamos como criancinhas, olhando com admiração, mas com confiança, para o modo pelo qual nosso Pai-Mãe, o Amor divino, cria e governa o universo. E é indispensável sentirmo-nos satisfeitos porque o único e elevado status de cada indivíduo no universo do Amor é o de ser filho do Amor divino. Com tal mansidão, virá o reconhecimento de que o Amor já proveu a todos. Veremos a Bíblia como um registro do advento humano da idéia espiritual. Ao dedicarmo-nos a estudá-lo, encontraremos no livro Ciência e Saúde a revelação da realidade divina surgindo agora, viva e nova.
Quando o nosso orgulho de compreender intelectualmente conceitos tais como: absoluto e relativo, coincidência do humano com o divino, preexistência, controle do magnetismo animal e edificação do tratamento pela Ciência Cristã, cede à mansidão, os canais do pensamento abrem-se para que as idéias da Mente divina fluam para o homem. Aí começamos a ver o “rio da água da vida ... que sai do trono de Deus e do Cordeiro” Apoc. 22:1;. Essas idéias que afluem a todos são a própria vida daquele que quer tornar–se consciente da verdade curativa e pô-la em prática. Quanto mais nos adiantamos, tanto mais claro vemos a Mente divina a conceder entendimento espiritual tanto àqueles que estão apenas começando, como aos que já têm um lastro de anos de estudo e prática. É, de fato, essa capacidade de reconhecer o amor que Deus tem por todos e o Seu cuidado para com todos, o que constitui a capacidade de curar. A diferença que existe entre aquele que não sabe como curar e o que sabe não está numa acumulação de conhecimento, mas no reconhecimento da definição que Deus, a Mente, dá de Sua própria idéia, o homem. E essa definição é discernida por todo o que tem suficiente mansidão para reconhecer nos outros o que Deus expressa de Si mesmo.
O Amor divino sempre define sua idéia, o homem, como o Seu próprio reflexo espiritual. Como Deus é infinito, o homem está decisivamente isento de limites. Como Deus é puro, o homem é inteiramento puro e perfeito. Como Deus é Vida imortal, a existência do homem não pode terminar. O homem nunca pode adoecer nem morrer. Ele vive porque Deus existe.
O primeiro vislumbre dessa verdade poderá assemelhar-se a uma luz incompreensível. Trata-se, porém, de um momento de consciência divina. Ao progredir, aprendemos a explicar essa verdade. Compreendemo-la em termos que o intelecto humano é capaz de admitir. Se nos parecer que nos assemelhamos mais com o divino por causa de nossa compreensão intelectual, talvez se eleve gradualmente o nosso status, mas a elevação não será real e a capacidade de curar não terá prosperado. Se, porém, em nosso estudo compreendermos a verdade de modo que, perpassando o intelecto humano, percebamos a idéia divina — reconhecendo com maior clareza o amor do Pai-Mãe, a Mente, o Amor divino, e tendo mais e mais apreço pelo estado em que a idéia da Mente se reflete em cada indivíduo — adquiriremos a capacidade de deixar passar a luz. Momentos de consciência divina se tornarão mais e mais eventos naturais. Aprenderemos a curar contínua e decididamente.
Quanto mais estudarmos, tanto mais deveremos ver no pensamento que se assemelha ao de uma criança a pureza e a inocência por cujo intermédio a consciência divina aparece. E se o nosso avanço se dá mediante a mansidão, aprenderemos a defender dos ataques sutis ou ostensivos do sentido pessoal e do orgulho pessoal a pureza e inocência que é nossa. Ao circularmos, tornaremos a estar repetidamente no ponto em que a consciência é divina — compreendendo cada vez mais a verdadeira identidade do homem à imagem de Deus e a irrealidade de tudo o que tenha a pretensão de contaminar essa identidade.
A crescente compreensão da verdade do ser, ao progredirmos espiritualmente, mansamente, nos elevará. Mas o conceito que adquirimos a respeito de outros revela a identidade verdadeira deles, também. Na consciência divina, tudo o que existe é a Mente divina e sua idéia perfeita. A Sra. Eddy assegura-nos: “Um momento de consciência divina, ou compreensão espiritual da Vida e do Amor, é um antegozo da eternidade. Essa visão sublime, que se obtém e retém quando a Ciência do ser é compreendida, preencheria com a vida discernida espiritualmente o intervalo da morte, e o homem estaria na plena consciência de sua imortaidade e harmonia eternas, onde o pecado, a doença e a morte são desconhecidos.” Ciência e Saúde, p. 598.