Alguém que eu namorava por vários meses acabara de me informar que nosso relacionamento estava terminado. Senti-me como se todo o mundo tivesse desabado e fiquei arrasada. Atividades nos círculos de amizade que nos tinham visto juntos agora haviam se transformado em encontros insuportáveis. Repentinamente o futuro parecia vazio, até ameaçador.
Imediatamente, porém, compreendi que eu nunca poderia estar desligada do Amor divino, o qual a Ciência Cristã explica ser outro nome para Deus — e esse foi o começo de uma cura rápida.
Ninguém, que repentinamente julga não ser amado, precisa esperar pela ação do tempo para curar um coração partido. O Amor divino envolve eternamente a cada um de nós e amolda nossos corações para que aceitem o controle divino.
Um estado de êxtase temporário em que entramos e de que saímos não é o amor do Amor. O Amor que é Deus é a própria substância da vida. É impossível não estarmos incluídos no Amor. A Bíblia indica que, tendo Cristo em nossos corações, estamos “arraigados e alicerçados em amor,” aptos a “compreender ... qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo” Efésios 3:17–19;. Na realidade, é impossível que o amor seja outorgado a alguém e subtraído de outrem, pois ele é a base do ser de todos. É impossível que esteja oculto no futuro ou perdido no passado, pois o ser é a eterna manifestação do Amor. Nem mesmo é possível conhecer algo verdadeiro desde um ponto de vista fora do que o Amor conhece e que a tudo envolve. Tão radicado no Amor está o homem que a Sra. Eddy o descreve desta forma: “O homem é idéia, a imagem do Amor; não é físico.” Ciência e Saúde, p. 475;
A Bíblia registra casos de homens e mulheres que sentiram a onipresença do Amor em relações humanas divinamente guiadas; o casamento entre Rebeca e Isaque e o entre Rute e Boaz servem de exemplo (ver Gênesis 24, e Rute 1–4). A vida deles indica que mediante o amor a Deus e a obediência à Sua orientação encontraram de forma tangível evidência do Amor num companheirismo feliz.
Mesmo que nossa compreensão do Amor não se exteriorize imediatamente sob a forma do companheirismo humano que pensamos necessitar, não precisamos nos resignar a uma vida onde o Amor seja apenas uma abstração. O amplexo do Amor pode ser sentido. Sua natureza inclui ternura. É sinônimo de Mente divina, e faz-se compreender e sentir na proporção de nossa presente capacidade de reconhecê-lo como Espírito.
As falsidades que se insinuam em nosso pensamento — que dizem sermos rejeitados, desagradáveis, dispensáveis, isolados — é que são as abstrações. Esse quadro desolador, que nega a totalidade do Amor, não tem substância nem lei que o apóie, e só pode desmoronar-se como os quadros variáveis do caleidoscópio. A verdade do ser — que afirma sermos dignos de ser amados, carinhosos e queridos — é a única realidade concreta.
Uma das formas que a mente carnal (tudo aquilo que tenta opor-se a Deus) usa para impedir que nos regozijemos totalmente em nosso constante relacionamento com o Amor é a de manter que é importante nos apaixonarmos. O amor romântico, embora às vezes acompanhe uma afeição espiritualmente alicerçada, talvez divirja fundamentalmente desta. O amor romântico divulga a crença de que a alegria e a inteireza dependem de uma pessoa encantadora, tudo acontecendo num cenário urdido pelo sentido pessoal e apoiado numa avalanche de canções, histórias e rituais.
Se permanecemos sob esse encantamento — o qual tende a destacar a personalidade e aquilo que é físico, tanto por sua presença como por lamentar a sua ausência — estaremos embotando nossa percepção do contentamento proporcionado pelo Amor divino, que sempre está à mão. Como o contentamento não provém do fato de idealizarmos alguém, mas por permitirmos que o Amor divino desdobre o Seu ideal em nossa vida, a escravidão romântica não pode satisfazer inteiramente, mesmo enquanto durar. E por ser, em última instância, insubstancial, eventualmente desaparece. Quando o sonho se desvanece, talvez pensemos que todo um mundo que nos era familiar se desfez. O Amor divino, porém, nunca diminuiu, e nosso lugar em seus planos está ainda intato. O Amor divino está instantaneamente presente com seu conforto e efeito estabilizador em nossa vida. Na realidade, poderá tornar-se mais claro agora do que jamais esteve.
Certificamo-nos de nosso lugar no Amor à medida que expressamos amor. Isso não significa que precisamos lutar para dar amor, como aquele que o tem, ao que não o tem, a fim de conseguirmos a retidão. A Bíblia indica que “nós amamos porque ele [Deus] nos amou primeiro” 1 João 4:19;. O amor espiritual que sentimos e damos é, na realidade, o Amor divino manifestando-se na condução de nossos afetos. Não recebemos crédito pessoal pelo verdadeiro amor, e não estamos divorciados dele. Ao amarmos estamos simplesmente em casa, em nossa mais legítima natureza como o amado de Deus.
Não há registro algum de que Cristo Jesus alguma vez tenha amado alguém no sentido convencional da palavra, porém ele viveu permanentemente no Amor, mais do que qualquer outra pessoa que o mundo já conheceu. Sua carreira foi uma contínua revelação do Amor que está no âmago de todo ser. Ao invés de procurar o amor, ele era impelido pelo Amor e expressava o amor do Amor em atos de cura. Finalmente, mediante sua crucificação (da qual disse: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” João 15:13;) e sua subseqüente ressurreição, demonstrou que o Amor, longe de ser uma bela, porém perecível emoção humana, era a própria substância da vida. A Sra. Eddy escreve: “João viu na coincidência do humano com o divino, mostrada no homem Jesus, a divindade abraçando a humanidade na Vida e sua demonstração — tornando perceptível e compreensível aos homens a Vida que é Deus.” Ciência e Saúde, p. 561.
O Amor divino mantém controle irresistível na vida de cada um de nós. À medida que nos desfazemos das ilusões, vemos o Amor manifestar-se com maior clareza em nossa vida. Sentimos um fulgor, uma invasão de idéias espirituais, intuições espirituais, que enchem nosso dia a dia com contatos humanos imbuídos de calor e com curas mais rápidas.
Ao glorificarmos nosso relacionamento único e essencial com o Amor, constatamos que o amor que transmitimos ou recebemos não é nem insubstancial nem escravizador. Nunca estamos dentro ou fora dele. O Amor que pensávamos ter de procurar já nos encontrou para sempre, e em seu amplexo estamos cheios de satisfação e alegria para toda a eternidade.
