Ângela saltou às pressas do ônibus escolar. Correu pelo caminho até a porta de sua casa; disparou pelas escadas até o seu quarto, largou os livros e pegou um casaco bem quente. Em menos de cinco minutos estava fora de casa.
Encontrou uma pedrinha no caminho, chutou-a e saltitando foi pela estrada que levava à fazenda onde estava Baby. O ar frio fez com que Ângela desejasse ter trazido luvas. Enfiou as mãos nos bolsos — não havia mais tempo para voltar a casa. Aquelas tardes de inverno eram muito curtas e queria aproveitar cada momento do resto da luz do dia para cavalgar Baby.
A porta do celeiro estava aberta, e Ângela foi direto à baia de Baby. Levantou o ferrolho para abrir a porta da baia. Quando chegou perto e acariciou Baby, sentiu na mão algo áspero. Então subiu na meia- porta de vaivém para enxergar melhor. A crina de Baby estava cheia de carrapichos.
O coração de Ângela afundou. Estava certa de que fora Camila quem colocara os carrapichos ali — Camila cujo pai era o dono da fazenda onde Baby estava alojada. Esta não era a primeira vez que Camila criava problemas. Certa vez, ela abrira a porta da baia de Baby e deixara o animal sair. Felizmente, Baby dirigira-se para o pasto, em vez de para a estrada, e assim fora fácil trazê-la de volta.
Noutra ocasião, Ângela vira Camila atirando paus e pedras em Baby e num dos outros cavalos. Ângela saíra correndo em direção a Camila, gritando: “Nunca mais faça isso, Camila!” Mas esta apenas dera risada na cara de Ângela e se fora embora.
Ângela sentiu os carrapichos e procurou a almofaça. Estava tão zangada que suas mãos tremiam quando a pegou e com ela escovou a crina e o rabo de Baby.
Quando terminou de escovar, estava quase escuro — não lhe foi possível trotar pelos campos com Baby. Ansiara sentir o vento na face e cavalgar por entre as árvores.
Ângela encheu o balde de Baby com água fresca e colocou uma porção de aveia na tina. Suas mãos estavam tão geladas que mal conseguia agarrar a maçaneta do ferrolho para trancar a porta da baia. Agora que o sol se fora estava ficando muito, muito mais frio. Começou a correr para casa.
Mas seus pensamentos se voltaram para Camila, e sentiu-se furiosa. Na próxima vez em que se encontrassem — essa iria ver só. Planejou o que diria à Camila. Ou melhor, telefonaria à Camila naquela mesma noite. E lhe diria para ficar longe de Baby. “Se você se aproximar de Baby de novo, eu ... eu. ...” Ângela procurou uma ameaça tão terrível quanto sua raiva.
Ângela apurou o passo. Estava com frio, e sentira alguns pingos de chuva no rosto. Queria chegar em casa. Mas antes da janta ligaria para Camila.
Então enquanto corria pela estrada, um pensamento lhe veio: “Guardai-vos no amor de Deus.” Judas 1:21; Era quase como se um amigo lhe tivesse falado, embora ela estivesse só.
Reconheceu as palavras como sendo do texto áureo no Livrete Trimestral da Ciência Cristã — Lições Bíblicas; da semana anterior. Sua classe na Escola Dominical da Ciência Cristã sempre decorava o texto áureo. “Tesouros para um dia de chuva”, a professora dissera ao dá-la como tarefa regular para a turma.
“Mas como posso guardar-me no amor de Deus quando odeio Camila?” Ângela se perguntou.
Ângela aprendera muito sobre o amor, tanto em casa como na Escola Dominical. Raciocinou mais ou menos assim: Se odeio Camila não estou me guardando no amor de Deus. A verdade é que reflito Deus. Mas odiar não é refletir Deus. Não faz parte da minha natureza natural de amar.
Quais são algumas das coisas que Ângela aprendera na Ciência Cristã e que a levaram a raciocinar assim?
“Deus é amor” 1 João 4:8;, disse João. A pregação, os ensinamentos e as curas de Cristo Jesus estavam todos baseados no Amor divino. Cristo Jesus deixou-o bem claro quando falou sobre os dois grandes mandamentos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Mateus 22:37–39;
Na oração que Jesus deu a seus discípulos estão as palavras: “Per- doa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores.” Mateus 6:12; A Sra. Eddy, em sua interpretação espiritual desta linha da Oração do Senhor, escreve: “E o Amor se reflete em amor. ” Ciência e Saúde, p. 17. A Ciência Cristã mostra que Deus, o Amor divino, está refletido em nosso amor. Ele não depende do que os outros façam ou digam. Este é um fato científico do ser.
Ângela não telefonou para Camila naquela noite, nem poderia ter ligado na manhã seguinte se quisesse. A chuva fria que começara enquanto ela caminhava para casa transformara-se em forte tempestade de neve. Pela manhã o gelo cobria tudo, inclusive os cabos telefônicos, e os telefones não estavam funcionando.
As aulas foram suspensas e o pai de Ângela não pôde tirar o carro da garagem para ir trabalhar. O jardim parecia um país de fadas. As árvores e os arbustos estavam cobertos de gelo e brilhavam ao sol. A temperatura permanecia muito abaixo do ponto de congelamento e as estradas estavam por demais perigosas para alguém se aventurar a sair.
Ângela implorou que a deixassem ir até o celeiro para tratar de Baby, mas seus pais não lho permitiram. “E se a água de Baby estiver congelada, e Baby não puder beber? E se estiver com fome? Ou com frio?” Essas inquietantes perguntas repetiram-se no pensamento de Ângela durante todo o dia.
A tardinha, o pai de Ângela pôde espalhar um pouco de sal na neve congelada e esta derreteu o suficiente para que pudesse tirar o carro da garagem. Disse o pai a Ângela que vestisse algo bem quente pois iriam até o celeiro para tratar de Baby.
Ângela pensou que podia caminhar mais depressa do que o pai estava indo com o carro, mas finalmente chegaram à fazenda e estacionaram no caminho que levava ao celeiro. Ângela teve choque quando viu a porta dele aberta. Deslizou rumo ao celeiro e correu para dentro. A baia de Baby ficava na posição oposta à porta, e quando Ângela entrou, logo viu que a baia de Baby estava coberta de gelo. E vazia!
Mas, duas baias abaixo, Ângela viu Baby. E Camila. Camila estava alimentando Baby. Ângela foi até lá. Camila falou primeiro.
“Olá, Ângela. Ontem depois da janta vim até o celeiro e quando vi que a baia de Baby estava ficando molhada, passei Baby para esta que está seca. Hoje estive tratando dela para você. Sabia que você não podia chegar até aqui.”
“Muito obrigada, Camila”, disse Ângela bem alto. “Obrigada, ó Deus”, pensou em silêncio.