Sentia-me satisfeita. Apesar de estar aproximando-se a data em que eu ficaria desempregada por quatro meses, orgulhava-me com o pouco caso que fazia do dinheiro. Eu estava aproveitando a vida, enquanto amigos lutavam para encontrar emprego a fim de continuarem se sustentando. Quando, porém, uma despesa inesperada consumiu minhas reservas financeiras, compreendi repentinamente que, afinal de contas, o dinheiro significava algo para mim.
Percebi que estava fazendo do dinheiro um deus, exatamente como o faziam as pessoas a quem eu recriminava por terem a obsessão da quantidade de dinheiro que ganhavam. Em meu caso, sentia-me fascinada por quão pouco eu estava gastando. Muitos reconhecem que não é bom sentirmo-nos obcecados pelo desejo de ganhar dinheiro; mas sentirmo-nos mais livres pelo fato de não termos dinheiro pode ser forma sutil do mesmo erro.
Diz-nos o primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim.” Êxodo 20:3; Fazemos “outros deuses” de muitas facetas da materialidade, quando estas se tornam mais importantes do que o crescimento espiritual. Uma variedade de objetos, hábitos e metas transformam-se em deuses, quando nos afastam de encarar Deus como nossa única fonte de felicidade, saúde e beleza. Quando nossas prioridades estão corretas, constatamos estar felizes, saudáveis e atraentes, de uma forma extremamente natural.
Deus, o criador de tudo, é o único poder, e esse poder é sempre bom, está sempre no controle de tudo. Disse-nos Cristo Jesus: “Não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? porque os gentios é que procuram todas estas cousas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino [o reino de Deus] e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas.” Mateus 6:31–33; Buscar em primeiro lugar o reino de Deus auxilia-nos a abandonar a tentação de medir nossa felicidade, saúde ou atrativos pelos padrões materiais. Constatamos, também, que objetos, hábitos e metas materiais passam a ter menos controle sobre nós, visto que não os adoramos como “outros deuses”. A Sra. Eddy explica: “As linhas de demarcação entre o homem imortal, que representa o Espírito, e o homem mortal, que representa o erro de estarem a vida e a inteligência na matéria, mostram que os prazeres e as dores da matéria são mitos e que a crença humana neles é o pai da mitologia, na qual a matéria está representada como que dividida em deuses inteligentes.” Ciência e Saúde, p. 294;
Estaremos evitando os erros óbvios do mito material, aceitando porém, sua sutil contrapartida, como eu o fizera ao desdenhar o dinheiro, mas sentindo-me com menos preocupações como conseqüência? Por exemplo, a firme compreensão de que Deus é Mente, e que nós, como filhos de Deus, refletimos Sua inteligência, tem auxiliado muitos estudantes a melhorarem suas notas. O estudante, porém, que consegue boas notas ora para demonstrar a inteligência divina ou o poder do cérebro? Haverá similaridade no fato de se conseguir boas notas, tendo como base a crença numa inteligência humana superior, e conseguir somente notas baixas, tendo como base a crença em falta de inteligência? O que evita que adoremos a mente humana é o constante reconhecimento de que todas as nossas idéias inovadoras, o raciocínio claro e a solução criativa de problemas dão prova da orientação da Mente.
E o que dizer da aparência pessoal? Certamente que é correto apresentarmo-nos da melhor forma possível; torna-se importante, porém, detectar e eliminar deuses sutis que nos poderiam induzir a uma falsa adoração. O excesso de peso, por exemplo, pode ser curado mediante a oração, compreendendo-se que a alimentação, por si só, não tem poder para nos controlar ou para nos tornar desprovidos de atrativos. Se a alimentação tem poder genuíno, então, por definição, deve ser uma deusa. Há, no entanto, um só Deus, e Ele é Espírito, não matéria. Talvez compreendamos esse fato. No entanto, será que não estaremos fazendo da alimentação uma deusa, se acreditarmos que somos delgados e atraentes porque temos força de vontade para não comer em demasia, e que sem essa força de vontade nosso corpo não seria atraente? Essa crença em alimentação também deve ser eliminada.
Um aspecto atraente pode manifestar-se com naturalidade quando procuramos melhor compreensão de nossa identidade espiritual. A verdadeira beleza, então, será revelada, auxiliando a libertar-nos das limitações do físico. Por que nos sentiríamos satisfeitos com uma base menos substancial da beleza?
Aceitar com complacência a mitologia da matéria, enquanto as notas forem boas e o corpo sentir-se bem, pode abrir a porta a problemas. Sentir-se confortável ou desconfortável na matéria são formas mais sutis do mesmo erro como nos relata a Sra. Eddy: “O falso prazer será, e é, castigado; não tem direito de sentir-se em paz. Sofrer por ter ‘outros deuses diante de mim’, é divinamente sábio.” Miscellaneous Writings, p. 209. Deveríamos esforçarnos para elevar nosso pensamento inteiramente acima de julgamentos baseados na matéria, acerca de nós mesmos e de outros, reconhecendo que na verdade somos o homem, o representante espiritual de Deus.
Quando estamos usufruindo de atividade isenta de dor, usufruindo de suprimento adequado e de harmonia em nosso viver diário, reconheçamos que nos encontramos livres e felizes porque na verdade somos e sempre fomos espirituais. Buscar uma compreensão mais iluminada, ao invés de conforto e felicidade na matéria, auxilia-nos a montar guarda contra os deuses sutis que poderão tentar se alojar em nosso pensamento, mesmo enquanto erros óbvios estejam sendo substituídos pela Verdade. Ao colocar Deus em primeiro lugar, constatamos que a matéria perde sua importância e regozijamo-nos em pôr em prática de modo mais coerente o fato de não termos outros deuses diante do Espírito.
