Uma grande tempestade de vento agitava as águas do lago, tanto que as ondas batiam chegando a cobrir o barco. Ainda assim, Cristo Jesus estava calmamente descansando, “dormindo sobre o travesseiro”. Seus discípulos assustados o acordaram, e imediatamente ele se levantou, dirigiu-se aos ventos e às ondas com autoridade, e disse: “Acalma-te, emudece!” E imediatamente “o vento se aquietou e fez-se grande bonança” Marcos 4:38, 39;.
Essa história é contada mais de uma vez na Bíblia, toda vez com admirável brevidade — menos de cem palavras em cada caso. Não obstante, ilustra graficamente o tremendo poder para o bem que mediante o Cristo, a verdadeira idéia de Deus, todos nós podemos exercer na comunidade. Mostra como podemos permanecer imperturbados mesmo no meio da atividade aparentemente destruidora dos elementos físicos. Mostra, também, como podemos controlar as forças mentais enraivecidas que tão freqüentemente ameaçam a humanidade, tornando-as assim incapazes de perturbar a paz do mundo.
Em Ciência e Saúde a Sra.Eddy dá uma explicação profundamente metafísica do significado do termo “vento” como está usado na Bíblia de modos opostos. Lê-se em parte: “Aquilo que indica o poderio da onipotência e os movimentos do governo espiritual de Deus, que abrange todas as coisas.” E continua no mesmo parágrafo: “Destruição; raiva; paixões mortais.” Ciência e Saúde, p. 597;
O vento de Deus representa metaforicamente a força espiritual que sopra de uma só direção, a do grande coração do Amor. Seu poder vem do Princípio divino, e o vento revela a ordem e a harmonia perpetuamente perfeitas da criação de Deus. Indica a manutenção, por parte de Deus, da pureza de todas as coisas no universo espiritual e assegura vida contínua e atividade construtiva para cada idéia individual que Ele fez.
Inversamente, o vento destrutivo que Elias viu fendendo as montanhas e despedaçando as penhas do Monte Horebe, pode ser compreendido como representando as paixões mortais destrutivas. Mas o profeta sabia que “o Senhor não estava no vento” 1 Reis 19:11;, e ele estava pronto para a calma que se seguiu e pôde interpretá-la como evidência da Verdade eterna.
O fato de que Deus, o bem onipotente, governa inevitavelmente o universo espiritual em perpétua harmonia, mantendo paz e calma eternas, elimina a crença na existência real de forças mentais destrutivas. Aniquila a possibilidade de haver qualquer poder verdadeiro em “ventos” terrenos contrários — paixões destrutivas nas mentes dos mortais — e evita que perturbem nossa paz e nos afetem negativamente na terra. O vento de Deus, o conceito do poder e do governo totalmente benignos de Deus, acalma todo tipo de tempestade, sejam as que ocorrem num copo d'água, sejam as que ocorrem nos oceanos, quer envolvam brigas de família quer de nações.
Podemos utilizar a compreensão a respeito do vento de Deus, o reconhecimento do governo espiritual, harmonioso, como nosso socorro instantâneo em qualquer situação humana, como o fez Jesus no mar da Galiléia. Se tivermos sua certeza de que o poder do Princípio divino está perpetuamente mantendo o universo em perfeita ordem, apesar da evidência mortal em contrário — e podemos tê-la, pois ele nos deu ampla prova disso — poderemos manter nossa própria paz como ele a manteve, face a tempestades atmosféricas e à evidência da atividade de forças destrutivas. E podemos ajudar a acalmar distúrbios até de proporções maiores, tanto nacionais como internacionais, bem como os que são ostensivamente ecológicos.
Conhecendo a verdade do controle poderoso que Deus tem sobre tudo, podemos igualmente nos manter calmos face a ásperos ataques pessoais e injustiças — e isso muitas vezes parece dificílimo quando a investida é repentina, inesperada e humilhante. Seremos capazes de dizer com o apóstolo Paulo: “Nenhuma dessas coisas me move.” Atos 20:24 (conforme a versão King James); E seremos capazes de seguir o exemplo supremo de Jesus quando seus inimigos o acusaram falsamente e “não respondeu palavra” Marcos 15:5;, mas sim, orou mais tarde: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Lucas 23:34;
Seja qual for a forma que as tempestades tomem em nossa experiência, seja qual for a força dos vendavais da raiva e das paixões mortais que soprem sobre nós, também podemos permanecer inabaláveis, sabendo que carecem de poder para atingir a harmonia do universo de Deus — o verdadeiro universo no qual, a Ciência Cristã insiste, real e unicamente vivemos.
A Sra. Eddy, que tão freqüentemente teve de lutar contra o ódio que lhe era dirigido como Descobridora da Ciência do Cristo, disse certa vez em mensagem à sua Igreja: “Irmãos, assim como Jesus perdoou, perdoai vós. Digo-o com alegria — nenhuma pessoa pode cometer uma ofensa contra mim que eu não possa perdoar.” E ela continua mais adiante: “Ó gloriosa esperança! resta um descanso para o justo, um descanso em Cristo, uma paz no Amor. A lembrança disso emudece a queixa; o engrossar da rebentação, no mar agitado da vida, esvai-se com a espuma, e por baixo há uma calma profundamente estabelecida.” Message to The Mother Church for 1902, p. 19;
Poderemos ficar sempre tão imperturbados quanto Jesus na ocasião em que seu barco era sacudido no mar da Galiléia, açoitado pelo vento, sim, poderemos, se mantivermos em nós a visão de que todo o poder é de Deus e o fato de que Ele governa harmoniosamente todo o universo espiritual, inclusive o homem. Qualquer que seja a provocação das paixões mortais em ebulição contra nós, podemos permanecer calmos e estar em paz.
Além do mais, se nos ativermos à compreensão crística da Verdade, será ela suficiente para aquietar de todo a tempestade, de modo que outros, além de nós, sejam favorecidos. Diz-nos o Evangelho de Marcos que Jesus e seus discípulos não estavam sozinhos no lago. “E outros barcos o seguiam.” Marcos 4:36. Por certo, esses outros barcos também devem ter sentido o benefício do milagre do Mestre. A paz que vem a nós pessoalmente, em virtude da nossa compreensão do governo de Deus, ajuda a trazer algum conforto a amigos e vizinhos também — a nações inteiras e ao mundo.
