O caminhão vermelho, caído de lado, achava-se no meio da cozinha. Como Willy estava para sair, a mãe lhe pediu (delicadamente) que o guardasse no quarto de brinquedos. Willy disse (não muito delicadamente): “Não, não quero guardá-lo.”
Sara não reagiu a esse desafio. Continuou conversando comigo. Dentro de poucos minutos, Willy ajoelhou-se, acelerou os roncos, imitando um motor, e dirigiu o caminhão através da cozinha e para dentro do quarto de brinquedos. “Vou sair agora”, disse ele, e foi-se pela porta dos fundos.
Dei uma risada. “Lembro-me de quão frustrada eu me sentia quando meus filhos eram pequenos e tentavam chamar a atenção de maneira agressiva.”
“Eu também”, disse Sara. “Pelo menos agora já sei como lidar com o que ele diz. Quando nosso filho mais velho tinha os seus repentes negativos, eu me enfurecia. Por fim, percebi que as crianças nem sempre tencionam dizer o que dizem, nem dizem o que tencionam dizer. Em qualquer idade. Por vezes, é melhor esperar e ver o que fazem, antes de corrigi-las. Ora, são as pequenas confrontações que nos desgastam. Para mim a única maneira de enfrentá-las e vencê-las — e todos os demais desafios de viver com quatro filhos — é ter rios de paciência e orar sem cessar.”
Quando e como um jovem Willy guarda o seu caminhãozinho, talvez não seja crucial. No entanto, ilustra os apuros e confrontações que fazem parte da vida em família. Uma vez tenham entrado na onda de educar filhos, os pais, muitas vezes, ficam imaginando como conseguirão saber o suficiente para superar, de maneira inteligente, essas complexidades importunadoras. Haverá alguma autoridade a quem possam se voltar?
A Bíblia assevera-nos: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.” Tiago 5:16. Essa oração, como é entendida na Ciência Cristã, não é um pedido de ajuda irracional nem é simplista. É afirmação da origem e da autoridade do bem, a consciência de que Deus — a Mente — está presente com o homem. Tal oração reconhece que os pais, bem como os filhos, são descendentes espirituais de Deus. Não somos candidatos a estudos sobre comportamento. Nem são nossas famílias feixes de egos em vias de emergir e que impõem e manipulam vontades separadas. A verdadeira oração aplica o fato de que Deus, o Pai-Mãe, é o único Ego e é supremo. Essa oração confia na ação imediata da inteligência divina.
A oração acalma o medo e estabiliza as emoções. Consola aqueles que oram e aqueles a quem seu pensamento atinge, porque a oração mostra que quem é amado está em união com o Amor. Quando o pai ou a mãe ora, não é que a Verdade se torna eficaz e onipresente de um momento para outro; a oração nos capacita a ver que nada além da Verdade pode jamais estar em ação e que podemos confiar nossa família a essa verdade.
Por vezes, surgem situações de família em que os pais sentem que o filho está agindo erradamente ou agirá mal se lhe derem demasiada liberdade, e que, portanto, o certo é aplicar disciplina rígida. Em tais casos, o filho talvez sinta que suas ações não merecem punição. Daí, talvez, resultem palavras ásperas, amargura, ressentimento pela autoridade e rebelião. Ora, se os pais percebem que a Mente divina é a única autoridade e confiam genuinamente no poder de Deus para temperar o pensamento e a ação, essa oração lhes mostrará como enfrentar e resolver o caso e restabelecer o equilíbrio.
O progenitor pode afirmar que o pecador (ou a pessoa doente, irada, desapontada ou confusa) nunca é o filho individual ou o progenitor individual. A única pecadora é a pretensão de que o homem nasça na matéria, separado do bem. O pecado é a crença falsa de que alguma vez houvesse uma mente separada de Deus, quer uma criança, quer um progenitor, quer um dos avós. A compreensão espiritual de Deus refuta esse falso conceito da origem e das possibilidades do homem, e revela Deus como Espírito, o criador do homem espiritual, o único homem que existe.
Por vezes, parece difícil ligar a oração ao caso específico de uma criança respondona de três anos de idade. Ou de um jovem de catorze anos que fuma maconha. Ou de uma pessoa de quarenta anos superprotecionista. Será que a oração, de fato, pode mostrar aos pais a melhor maneira de falar e agir nas diversas situações corriqueiras e bem humanas?
A Sra. Eddy dá-nos este esboço de oração eficaz no livro Ciência e Saúde: “A oração que reforma o pecador e cura o doente é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus — uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado.” Ciência e Saúde, p. 1.
A “fé absoluta em que tudo é possível a Deus” é tão prática como o preparo de uma refeição. Quando adotamos esse ponto de vista devoto, partindo de um desejo sincero, não para sermos quem tem razão, mas para vermos como o Amor divino provê a todos sem falta, tal oração impele a resoluções justas e que satisfazem.
Mediante a disposição de orar, o progenitor desfaz-se das inclinações frenéticas ou vagas em favor da sabedoria da Mente divina. Tal oração talvez resulte em uma dentre numerosas respostas, indo desde a recusa em reagir (como a mãe do Willy fez), à correção imediata de uma criança, ao estabelecimento de normas novas e cuidadosamente explicadas. A finalidade da oração não é delinear a orientação humana específica; é reconhecer que a verdadeira orientação provém da Mente única, e, portanto, essa orientação tornar-se-á gentilmente visível e aceitável.
Muitas vezes, quando eu necessitava tomar decisões específicas a respeito de certas situações familiares, senti o poder curativo da oração. Certa feita, um de nossos filhos estava, segundo um professor alarmado, escolhendo companhias que não eram “do tipo certo”. Além disso, ele ia mal numa matéria. Outro professor nos aconselhou a ser muito estritos e forçar nosso filho a estudar mais duro. Um vizinho achou que ele precisava de determinado tipo de terapia. Um parente fez coro, dizendo ter certeza de que o menino nunca seria grande coisa devido a sua conduta anti-social e à maneira como usava os cabelos.
Hoje, anos mais tarde, isso tudo soa engraçado, mas naquela época minhas emoções impediam-me de ver a comédia. Onde eu e meu marido havíamos falhado para que nosso filho escolhesse amigos entre pessoas de má reputação? Que devíamos fazer? A princípio, li livros e aconselhei-me com amigos. Contudo, meu bom senso, que em geral era forte, não se mostrava digno de confiança; perscrutar o passado parecia uma inútil perda de tempo. Livros e amigos tinham montes de teorias, mas pouca relação com algo que, em meu coração, eu sabia ser essencial: a identificação espiritual. Por fim, concluí que a oração era meu melhor meio e recurso.
Percebi que esse era um teste, contendo uma única pergunta: Quão completa era minha fé em Deus? Meu medo de que pudesse existir um pecador era o que precisava ser reformado. Como Cientista Cristã, eu sabia que o caminho para destruir o medo era compreender melhor Deus, ver com mais clareza que Ele é o único poder. No universo da Verdade não podia existir um falso representante do homem. No universo do Espírito não podia haver desenvolvimento desafortunado ou indivíduo confuso.
Tornou-se-me claro que a principal mentira a ser eliminada era a crença em muitas mentes — fortes e fracas, bem intencionadas e nocivas — tentando influenciar a nós ou a nossos filhos. Vi que era vital estabelecer na consciência a autoridade da única Mente divina e acolher sua supremacia em nossa vida.
Um parágrafo de Ciência e Saúde foi extremamente útil: “Quando nos compenetramos de que há uma Mente só, a lei divina de amar o próximo como a nós mesmos se desenvolve; ao passo que a crença em muitas mentes governantes impede o pendor normal do homem para a Mente única, o Deus único, e conduz o pensamento humano para caminhos opostos, onde reina o egoísmo.” Ibid., p. 205.
Gostei do conceito “o pendor normal do homem para a Mente única”, e confiei na veracidade desse conceito. Dentro de pouco tempo, minhas preocupações sumiram. Nada mais ouvimos da escola a respeito dos companheiros duvidosos de nosso filho, e suas notas começaram a melhorar. Nesse caso em particular, decidimos não dizer coisa alguma ao jovem a respeito da sua escolha de amigos, mas notamos que os menos recomendáveis não mais apareciam.
Isso ilustrou bem para nossa família que se temos fé absoluta no poder e na bondade de Deus, a oração nos guiará ao que precisamos saber e fazer. Hoje as pequenas confrontações — os caminhões vermelhos e as cadernetas de notas escolares, dos anos de crescimento de nossos filhos — estão esquecidas. Quando, porém, volvemos o olhar aos anos de detalhes e decisões, percebemos a imensa força que obtivemos ao confiar em Deus.
