Muitas vezes percebemos quando estamos confusos. Numa estradinha rural, que se estende por quilômetros sem marcos ou placas de orientação, ou no centro movimentado de uma cidade desconhecida, mesmo com pilhas de mapas na mão, nosso estado de incerteza pode ser óbvio. Ou, talvez nos confrontemos com uma decisão importante sem que tenhamos a orientação exata necessária.
Em outras ocasiões, o estado de confusão não é tão aparente. Por exemplo, algumas pessoas podem andar vogando, pelo menos durante algum tempo, fora da disciplina — da proteção — oferecida pela orientação moral dos Dez Mandamentos, e do Sermão do Monte de Cristo Jesus. Exceto, talvez, por um vago mal-estar, podem achar-se, em grande parte, inconscientes de qualquer confusão moral.
Uma melhor compreensão de Deus como a Alma imortal há de aguçar e refinar a clareza de nossa consciência, quando surge a confusão, quando precisamos definir mais claramente nosso rumo (quer andando pela cidade quer na própria vida). As religiões populares ensinam que temos uma alma dentro de nosso corpo. A Ciência Cristã explica que temos o nosso ser dentro da Alma. Deus é Alma; Ele é a consciência infinita, impecável, a fonte divina de toda identidade. A Alma é a fonte do sentido espiritual do homem, de sua capacidade de claramente discernir, perceber e saber.
A crença generalizada de que o homem tem Deus dentro de si, a crença de que uma alma habita o corpo, é a fonte elementar de toda confusão na existência humana. Podemos, realmente, evitar a confusão enquanto supomos que nossa capacidade de discernir, perceber, saber, procede de dentro do que é físico, dos sentidos corpóreos e materiais? Há certa arrogância, para dizer pouco, na presunção de que o homem contém Deus, a Alma. O Cristo inverte essa presunção. Traz clareza, direção e precisão ao pensamento.
Porque Deus é Um, a Alma é Uma. Porque o homem é a idéia espiritual, o reflexo, do único Deus, o homem é a expressão da única Alma. A Alma com sua provisão do sentido espiritual nunca confunde o homem. Mas o sentido material, uma suposta alma finita, certamente confunde o mortal, começando pelo engano fundamental de que a vida, a substância, o ser, estão na matéria. O Cristo impelenos a desafiar esse erro insolente. Capacita-nos a dar início ao reconhecimento da verdadeira identidade do homem como sendo um ente sustentado pela Alma, inspirado pela Alma e esclarecido pela Alma.
Não existe coisa alguma de obscura ou vaga ou caótica a respeito da maneira em que o homem representa a Alma; pelo contrário, é estável, clara e contínua. Na medida em que apreendemos mais da pureza e da natureza crística do sentido espiritual, tudo o que parece desordenado ou enigmático, em nosso conceito de existência, será substituído pelo que é lúcido e luminoso. O sentido espiritual revela que o relacionamento entre o homem e a Alma está intacto, envolto pela bondade e a pureza. No entanto, os sentidos corpóreos encaram a existência como desconjuntada, complexa, discordante. De fato, constroem a sua percepção das coisas totalmente baseados nessa convicção.
Suponhamos que tivemos um desentendimento com alguém. Os sentidos corpóreos nos pediriam que nos detivéssemos nesse acontecimento, construíssemos pequenas torres de ressentimento ou frustração ou medo. Todos eles, elementos de confusão; todos eles, conceitos egotísticos. Acaso não há fortes paralelos entre os sentidos corpóreos — entre sua estruturação do mal no pensamento — e a torre de Babel que se acha descrita no livro do Gênesis? Ver Gênesis 11:1–9. As pessoas estava, com efeito, apropriando-se da prerrogativa divina com respeito à criação inteligente. Relegando Deus a uma suposta alma dentro deles mesmos, confinada ao sentido material e destinada a expressar esse sentido, construíram sobre o conhecimento obtido desse sentido material. E, segundo conta a história, o resultado foi confusão.
Toda vez que colocamos a Alma à mercê do sentido corpóreo (isto é, toda vez que presumimos que a fonte da visão e do conhecimento esteja na matéria), abrimos nossa porta mental à desordem. A Sra. Eddy oferece um vislumbre metafísico deste termo bíblico: “Babel. O erro, que se destrói a si mesmo; um reino dividido contra si mesmo, que não pode subsistir; o saber material.” E conclui: “Quanto mais alto o falso saber constrói sobre a base da evidência obtida dos cinco sentidos corpóreos, maior é a confusão que surge, e mais certo é o desabamento de sua estrutura.” Ciência e Saúde, p. 581.
Como solução para o pensamento tipo “Babel”, podemos dizer que quanto mais alto o verdadeiro saber edifica sobre a base da evidência obtida do sentido espiritual, tanto mais desfrutamos de coerência mental e de clareza com base crística. Podemos começar nosso programa de construção sem demora. O que nos diria o sentido espiritual, por exemplo, a respeito daquela pessoa com quem nos desentendemos? Dar-nos-ia um certo apreço pacífico do fato de que a Alma preserva a integridade do homem, sua inteligência e finalidade. E quem deu prova mais decisiva de tal perspectiva do que o pensador mais esclarecido que o mundo já conheceu, Cristo Jesus? Não é de pasmar que seu Sermão do Monte seja tão isento de ambigüidades e sua vida tão reta.
Jesus mostrou que, com nos rendermos a tal perspectiva espiritual, vemos por trás do argumento de que o homem pode ser um mortal terrível e discernimos, mediante o sentido espiritual conferido pelo Cristo, a expressão de beleza e de harmonia da Alma. Mudanças construtivas em nosso relacionamento com outras pessoas, e conosco, ocorrem quando o sentido espiritual transformou nossa visão das coisas. Em uma palavra, o Cristo toma precedência na consciência e ocorre a cura. A confusão se desfaz.
Que engano culpar Deus, a Alma, pela confusão. E, no entanto, é justamente isto o que os mortais fazem quando esperam que a Alma, a fonte real da visão e do saber, se encontre nos sentidos corpóreos. “Deus não é o autor de confusão” 1 Cor. 14:33 (conforme a versão King James)., garante-nos Paulo. Não, a Alma, preservando continuamente o sentido espiritual, assegura ao homem uma consciência acertada e clara. Não existe coisa alguma indefinida no verdadeiro ser. Ceder perante a presença gentil, porém incisiva, da Alma, preserva livre da confusão a nossa percepção moral e espiritual.
