O hábito crônico de procurar defeitos não é somente desagradável para os outros; em geral traz desconforto físico. Mas nem o pensamento positivo nem a apatia em relação às dificuldades prementes realmente silenciam as queixas. Muito mais é necessário. O que silencia a queixa é a compreensão de que Deus, todo bem, o criador de tudo, não produz nem permite o mal. Somos todos Sua descendência; e Seus filhos, ou idéias, não podem ser motivo ou vítima de queixas nem delas podem-se lastimar. Para desfazer a pretensão do mal, precisamos discernir sua nulidade, isto é, lidar com o erro cientificamente e destruí-lo. E onde o precisamos destruir? No silêncio de nossa própria consciência, por meio de comunhão com Deus.
Os Cientistas Cristãos não ignoram o mal e seus enganos freqüentemente trágicos. Mas o mal não pode ser derrotado pelas armas materialistas ou a partir de uma base de que seja real ou poderoso. Vencemos o mal somente partindo do ponto de vista de que ele é ilegítimo, não tem poder e é irreal, porque não procede de Deus. O mal não tem vida nem pode destruir a Vida, uma vez que Deus é única Vida. O mal não é inteligente; falta-lhe totalmente a validade da Verdade. Ele só pode destruir a si mesmo, o que inevitavelmente acontece quando não lhe é atribuída realidade nem identidade. Portanto, não precisamos reagir ao erro com censura, desgosto, ódio ou medo.
A crítica injusta tem sido descrita como farisaísmo cruel e como reconhecimento público da incapacidade de refletir o Cristo. É seguidamente uma sarcástica maneira de louvor próprio. Mas qualquer impulso que a procura de defeitos possa dar a nossa auto-estima fica mais do que negado pelo obscurecimento de nossa visão de Deus e Sua onipresença. As queixas escondem a Verdade, roubam-nos do reconhecimento do bem atual, enquanto que a gratidão demonstra apreciação pelo imaculado ser espiritual dos outros e pela ordem e harmonia da criação de Deus. A gratidão conduz-nos para mais perto dEle e capacita-nos a provar o poder que o Amor divino tem de tornar evidente a bondade.
Haverá regras das quais podemos nos valer para melhorar este aspecto? A Sra. Eddy escreve: “Que a Verdade ponha a descoberto o erro e o destrua do modo como Deus o destrói, e que a justiça humana imite a divina.” Ciência e Saúde, p. 542. Primeiro queremos compreender a verdade sobre o erro que vemos: que ele não tem poder, é uma mentira, não pertence a ninguém; não pode agir, não pode ser causa nem efeito; não pode existir na totalidade de Deus para usar ou atormentar qualquer pessoa. Quão bem enxergamos o erro não é o ponto principal; o que cura é quão bem vemos a Verdade que o erro pretende ocultar.
Segunda regra é a de discernir o bem em vez de estar à procura de defeitos. Isto envolve julgar, não de acordo com a aparência, mas corretamente, como Cristo Jesus julgava. Precisamos ver que o erro não pertence ao homem de Deus, condenar o erro como nada, mas apoiar os indivíduos com ternura. Desse modo, Cristo Jesus perdoou a mulher adúltera. Libertou-a de se identificar com o engano que havia cometido e exigiu sua conformidade com a lei de Deus, tendo por base a unidade dela com o Pai, como Sua filha espiritual.
Terceira regra é a de falar somente a verdade. Nossa Líder, a Sra. Eddy, coloca-o desta maneira: “Evitai dar voz ao erro; mas proclamai a verdade de Deus e a beleza da santidade, a alegria do Amor e ‘a paz de Deus que excede todo o entendimento’, recomendando a todos os homens união nas prisões em Cristo.” Não e Sim, p. 8. Em minha casa a regra tácita tem sido: Se não se pode dizer algo construtivo, não se diga nada. Não aumentemos a poluição atmosférica!
Na família, nos negócios, na igreja, o indivíduo age do ponto de vista de sua própria experiência — e é Deus quem o eleva mais alto. Todo grupo inclui indivíduos que se reúnem ou são reunidos com o propósito de apoiar e fortalecer uns aos outros especialmente em épocas de tentação e tensão. As pessoas funcionam bem, juntas, somente mediante boa dose de amor altruísta — nunca por meio de dominação ou da tentativa de forçar outros a adotar o que ainda não provaram nem entenderam.
Jesus certa vez caminhou sobre o mar encapelado até os seus discípulos, que estavam labutando em seu pequeno barco. Não exigiu que os discípulos fizessem a mesma coisa, mas entrou no barco com eles. E a Bíblia nos diz: “O vento cessou.” Marcos 6:51. Ora, podemos tentar, não? ser também humildes e pacientes em nossas ações — estando com os outros e ajudando-os quando escolheram caminhos legítimos e sábios.
O Princípio divino, Amor, sempre é mais elevado mais abençoado do que aquilo que, no momento, possa parecer humanamente correto. É muito mais importante manter nossos pensamentos em harmonia com Deus do que ter as coisas solucionadas humanamente de uma certa forma. Todo tipo de erro é autoderrotante. A hipocrisia, o encanto pessoal, a manipulação, a vontade própria, a dominação e a malícia caem em razão de sua própria inutilidade. Lemos em 1 Pedro: “Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus.” 1 Pedro 2:20.
Quando orarmos mais coerentemente a oração da autocorreção, ficaremos menos preocupados com os erros dos outros. Se o erro nos parece real, então nosso próprio pensamento precisa ser examinado e corrigido. Queremos evitar que nós mesmos sejamos iludidos a aceitar algo além do bem.
Obteremos sucesso se com obediência seguirmos o procedimento corretivo delineado por Cristo Jesus e exigido dos Cientistas Cristãos toda vez que o mau procedimento venha a justificar queixas formais: “Se teu irmão pecar [contra ti], vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja.” Mateus 18:15–17. Como pode alguém obedecer a essa exigência e ir até outro cuja conduta tenha sido ofensiva, a menos que vá com amor e com o desejo de abençoar? Isto significa que, tendo visto um erro em outrem, precisamos ver o inverso dele — precisamos reconhecer que o erro não faz parte do indivíduo, que não tem o poder de enganar a ele ou a qualquer outra pessoa — antes de tomar qualquer atitude, se de fato alguma ainda se fizer necessária. A alegria e o poder espiritual provêm de discernirmos a presença do bem exatamente onde o mal parece estar. O genuíno perdão envolve exatamente isto — apagar o sentido de que o mal seja real; dar penetrante resposta à pretensão do mal de pertencer a alguém ou agir através de alguém; limpar nossa própria consciência de modo que possamos ver melhor Deus e Sua criação perfeita; e restaurar ao outro (ou às vezes, o que é mais importante, a si próprio) o bem considerado impossível ou perdido.
Podemos regozijar-nos porque, em Verdade, ninguém pode ser mesmerizado com acreditar numa mentira ou manifestá-la. Deus não tem consciência do mal nem o tem Sua criação imaculada. Assim podemos expressar Seu perfeito conhecimento. É realmente impossível para o homem, que reflete a Mente divina, ter um pensamento errado ou fazer uma coisa errada.
À medida que declaramos e comprovamos individualmente estas verdades, ajudamos a humanidade a encontrar solução melhor que a do clamor e do conflito de protesto, o ressentimento e a desforra. Podemos erguer-nos da ilusão de um eu magoado para o reconhecimento do controle harmonioso e benevolente que o Amor exerce sobre todos. Esse modo de silenciar as queixas nos capacita a habitar numa consciência sanadora.