Quando eu era menininha, costumava fazer uma brincadeira de assustar. Depois que me haviam posto na cama, à noite, com a porta do quarto fechada, a única luz, em meu quarto, vinha de um poste da rua. Essa luz entrava através dos ramos de um grande carvalho que havia em frente à janela, e projetava na parede do quarto as sombras das folhas. Quando a brisa mexia as folhas da árvore, as sombras dançavam. Eu gostava dessa luz porque me permitia ver as coisas em volta, dentro do quarto.
De vez em quando, porém, para me distrair, se eu não conseguia dormir, ficava imaginando que via figuras formadas pelas sombras das folhas — uma cara ou um animal. Quando a brisa soprava, fazia a cara abrir e fechar a boca, ou fazia o animal abanar o rabo.
Bem, a maioria das vezes eu me lembrava de que estava num quarto bonitinho, pintado de cor de rosa. Eu gostava do velho carvalho e da luz alegre do poste. Mas, às vezes, se eu me achava imaginando ver leões e tigres, ou a cara feia de uma bruxa velha com uma vassoura na mão, acabava me assustando. Se eu não corrigia essa imagem assustadora, tornando a lembrar-me de que só as sombras das folhas a formavam, terminava por chamar minha mãe para acender a luz do quarto. Então, naturalmente, todas aqueles criaturas desapareciam imediatamente, pois nenhuma sombra de árvore podia ficar na parede quando a luz grande estava acesa. Mamãe não precisava dizer: “Você, leão, vá embora já!” Não havia nenhum leão de verdade ali. Não tinha que dizer: “Senhora bruxa, você está assustando minha filhinha. Faça o favor de sair!” Não, o único lugar em que aquele leão ou aquela bruxa alguma vez tinham existido encontrava-se na minha própria imaginação, e realmente eu tinha controle sobre ela.
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