Desde a infância, tive o grande desejo de tornar-me cabeleireiro. Naquela época morávamos na Indonésia, onde eu não tinha conhecimento de qualquer oportunidade de aprender este ofício. A única coisa a fazer era procurar aprender, por mim mesmo, o máximo que eu pudesse. Com o passar dos anos, envolvi-me com outros tipos de trabalho, em que não encontrava muita satisfação. Meu pendor para este ramo de trabalho simplesmente não me abandonava.
Quando minha família emigrou para a Holanda em 1954, decidi, nessa ocasião, freqüentar uma escola de cabeleireiros. Mas a estrada que conduzia à consecução desse desejo não se achava coberta de pétalas de rosas. A fim de freqüentar uma escola vocacional (naquela época somente uma escola noturna), já era preciso à pessoa estar trabalhando no ramo. (O que teria sido mais do meu agrado do que trabalhar em “minha” profissão durante o período de treinamento?) E, como aprendizes, só jovens entre dezesseis e vinte anos eram aceitos, não um homem de quarenta anos, como eu. Todos os esforços para encontrar um trabalho nessa profissão específica foram, por isso, infrutíferos.
No serviço de colocações, os entrevistadores evidentemente não acreditavam muito em minhas aspirações, embora não o dissessem abertamente. Ofereciam-me empregos de um tipo que não parecia me servir nem um pouco.
Terminei empregado num trabalho de caráter social que não utilizava meus talentos. (Essas oficinas especiais empregam pessoas que, devido a sua saúde física, não exerceriam atividades no comércio e na indústria. Ali também eram empregadas pessoas consideradas incapazes de fazer qualquer outra coisa. Evidentemente pensavam que eu fazia parte desse último grupo. Lembro-me de que certo dia o administrador convidou-me a comparecer ao seu gabinete. Quando lá cheguei, o homem estava sentado à sua mesa, tendo à frente a lista de todos os empregados. Após o meu nome, li claramente anotado: “Deficiente mental.”) Como no íntimo eu soubesse que podia fazer mais do que isso, senti-me muito humilhado, talvez tanto quanto Nabucodonosor quando foi banido da sociedade (ver Daniel 4:31–33). Hoje, compreendo que aquelas circunstâncias foram precisamente o estímulo de que eu necessitava na época. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde (p. 574): “A mesma circunstância que teu sentido sofredor considera terrificante e aflitiva, o Amor pode converter num anjo que acolherás sem o saberes.” E, quantas vezes, animaram-me estas palavras de Cristo Jesus (Marcos 11:24): “Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco.”
Por fim, tive a oportunidade de entrar para o curso de cabeleireiro, embora eu não tivesse o emprego exigido. Mas o meu caso parecia sem esperança. Enquanto meus colegas adquiriam suas habilidades durante uma semana inteira de treino diário num salão de beleza e tinham a orientação dos alunos mais adiantados, eu não recebia mais que duas horas de lições por semana, e só me restavam umas poucas horas fora do horário de trabalho, para prosseguir sozinho sem qualquer orientação.
Não desejo fazer segredo de que, muitas vezes, estive a ponto de largar tudo de mão, como resultado de profundo desespero, mas, nesses momentos, sempre me recordava do texto bíblico em Marcos, antes citado.
Promoveram-me ao segundo nível, mas condicionalmente. No primeiro dia após as férias, o superintendente que me viu trabalhando, chamou-me de lado e disse: “Sabe, van Laar, quando vimos você todo atrapalhado no primeiro grau, no ano passado, quase decidimos dizer-lhe para desistir. Mas, estava evidente que você desejava continuar, e então calamos. Agora, estou contente por isso, pois vejo quanto você progrediu desde então.” Àquela promoção condicional seguiu-se outra, incondicional, ao terceiro grau. E, completei meu treino ao mesmo tempo que meus colegas daquele primeiro ano, embora eu tivesse começado com muito menos vantagens. Recebi meu diploma profissional e saí daquela oficina, capaz de começar uma vida independente e gratificante.
O Serviço Social para os Repatriados, que verificava minha situação de tempos em tempos, logo deixou de fazê-lo, pois não mais se fazia necessário. Hoje, cheguei ao ponto em que, após vinte anos, se eu quisesse, poderia deixar de trabalhar na profissão que escolhi, mas ainda gosto muito dela e, de fato, sinto-me mais seguro do que nunca. Também sei que muitas pessoas pensam a meu respeito muito melhor do que costumavam. Em poucas palavras: com fé em Deus, venci muitos obstáculos. Paulo diz (Romanos 8:37): “Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.” Foi graças à Ciência Cristã que adquiri fé em Deus.
Com gratidão ecôo as palavras de nossa Líder, a Sra. Eddy (Ciência e Saúde, p. 66): “Tens razão, Shakespeare imortal, grande poeta da humanidade:
Doce é o fruto da adversidade;
Que, como o sapo, feio e venenoso,
Traz na fronte jóia preciosa.”
Haia, Países Baixos
