Cristo Jesus alimentou milhares de pessoas com apenas “cinco pães de cevada e dois peixinhos”. A reação da multidão foi a de querer proclamá-lo rei. Jesus, porém, retirou-se para Cafarnaum. No dia seguinte, a multidão chegou lá, procurando Jesus. Por quê? Jesus disse-lhes, sem rodeios: “Em verdade, em verdade vos digo: Vós me procurais não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes.” Ver João 6:1–15, 22–26.
Não está evidente que o Mestre repreendeu a multidão devido à falta de prioridades espirituais evidenciada? Embora não haja basicamente nada de errado nos resultados tangíveis que acompanham a cura espiritual, sejam pães e peixes ou saúde física, há algo intrinsecamente errado em se procurar o Cristo visando antes de mais nada benefícios materiais. Tal motivação é uma pedra de tropeço para o crescimento espiritual, e Jesus sabia disso. Por quê? Apenas porque o bem genuíno, o bem que vem de Deus, não é material. É puramente espiritual em origem, ação e essência.
No sermão que se seguiu à sua repreensão, Jesus procurou, com paciência, volver a multidão do sentido material do que é o bem para o espiritual, mas muitos continuaram insensíveis à sua mensagem e o Evangelho de João relata: “À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Então perguntou Jesus aos doze: Porventura quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? tu tens as palavras da vida eterna.” João 6:66–68. Para Pedro, a verdade era mais importante do que os pães e os peixes ou do que o sucesso material e a popularidade.
A verdadeira idéia do bem espiritual como o reflexo — a expressão — do único bem infinito, Deus, é o Cristo, redimindo a humanidade de todos os males inerentes a um sentido falso e limitado daquilo que é o bem. A Ciência CristãChristian Science (Kris’tiann sai’ennss) revela que o sermos atraídos por e para qualidades que refletem o Cristo — tais como pureza, sabedoria, amor — é natural, pois o Cristo é a identidade genuína de cada um de nós. Temos, porém, de cuidar para não procurar o bem espiritual na matéria ou numa personalidade material.
Um ponto importante na Ciência Cristã é o de que o Espírito e a matéria não se misturam e também que o Espírito ou sua manifestação nunca podem ficar confinados na matéria. De fato, se o Espírito é Deus e é infinito, onipotente, onipresente e onisciente, então, na realidade absoluta, não há matéria a possuir poder, substância ou inteligência. Logo, não pode haver bem na matéria, já que não há Espírito na matéria.
A matéria é, em essência, limitada, inconstante e mortal. Um conceito material acerca do bem é, portanto, também limitado e variável. Para o sentido material, o bem é tolhido, invertido, dominado, destruído e acabado pelo complemento inevitável do mal, que surge da crença na limitação. Assim, a saúde seria limitada pela doença, a vida pela morte, o êxito pelo fracasso, a inteligência pelo egotismo, pela sensualidade e a ignorância. Essa visão do sentido material é muito lúgubre e seria um inferno insuportável e inevitável se não fosse por um fato: a realidade do Espírito infinito. Portanto, as ambigüidades da vida material são apenas ilusão subjetiva, a percepção distorcida da Vida que é Espírito.
Esse modo limitado de perceber Deus e o universo é chamado, na Ciência Cristã, mente mortal: a crença de que o Espírito, a Mente, a inteligência, seja inerente à matéria, proveniente dela e que, por conseguinte, seja tanto bom como mau. Esse sentido falso é retratado com clareza no segundo relato da criação apresentado na Bíblia (ver Gênesis 2:6–4:16), em que, ao contrário do primeiro capítulo, representa-se o homem como criado do pó ou matéria. Em sua exegese do Gênesis, Mary Baker Eddy, Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, escreve: “A ‘árvore da vida’ representa a idéia da Verdade, e a espada que a defende é o símbolo da Ciência divina.” Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 526. Um dos pontos importantes dessa alegoria é o de que, apesar do engano dos sentidos materiais, o sentido espiritual persiste na consciência humana. Isso explica a receptividade latente, no pensamento humano, ao Cristo e à Ciência Cristã. A mente mortal pode obscurecer, limitar ou distorcer, mas a mente mortal não pode obliterar o testemunho do sentido espiritual que, quando animado pela Ciência Cristã, começa a destruir as limitações do pensamento mortal por meio da compreensão de que, para começar, o Espírito e o sentido espiritual nunca estiveram limitados pela matéria.
As qualidades crísticas de humildade e gratidão pelo bem espiritual transportam o pensamento humano, da crença egocêntrica em uma personalidade finita como a fonte do bem, para Deus. Ciência e Saúde explica: “Os cinco sentidos materiais testificam estarem a verdade e o erro reunidos numa mente que a um só tempo é boa e má. Seu testemunho falso cederá finalmente à Verdade — ao reconhecimento do Espírito e da criação espiritual.” Ibid., p. 287.
À esta altura, talvez alguém pergunte: Se a matéria é uma ilusão, por que Jesus se deu ao trabalho de multiplicar pães e peixes ou de curar corpos doentes? Que há de bom em se manipular ilusões? Ora, a cura espiritual envolve muito mais do que a mera mudança na aparência dos sentidos materiais. Propriamente dita, a evidência que se apresenta aos sentidos, alterada por meios espirituais e manifestando maior harmonia e menor limitação, não é a cura em si mesma, mas o resultado da cura espiritual, o efeito de uma consciência cristianizada.
Logo no início de minha experiência como Cientista Cristã, fui libertada, de forma dramática, de uma condição física, em conseqüência de um repentino vislumbre que deu a meu pensamento direção nova e mais espiritual.
O problema começara como um simples caso de febre de feno, algo que eu tivera intermitentemente desde criancinha. Não pedi a ajuda de um praticista da Ciência Cristã, pois o caso parecia insignificante. Então, depois de um período de aparente melhora, a condição repentinamente piorou muito e ficou sendo dolorosa sinusite.
Em desespero, abri o livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, e li o seguinte trecho da análise que a Sra. Eddy faz do Gênesis: “ ‘Uma neblina subia da terra.’ Isso representa o erro como se ele surgisse de uma idéia do bem sobre uma base material.” Ibid., p. 546. Dei-me conta de que não estivera orando pelo bem espiritual, mas por harmonia corpórea. De fato, eu havia caído na armadilha de crer que o bem espiritual e a harmonia física fossem uma e a mesma coisa. Essa revelação foi tão surpreendente que parei imediatamente de procurar alívio para os sintomas materiais e passei a ocupar todo o meu pensamento em alcançar uma noção da natureza completamente espiritual do bem. Naquele instante, todos os sintomas do problema desapareceram e fiquei livre.
Não digo que, naquela hora, tivesse compreendido muito do que o bem espiritual seja, mas o simples fato de parar de procurá-lo na matéria resultou em liberdade física do mal.
Dois anos depois, o mesmo problema voltou. Fui curada instantaneamente, e, desta vez, de forma permanente, com a ajuda de uma dedicada praticista da Ciência Cristã, quando meu pensamento ocupou-se todo em substituir por amor espiritual o profundo ressentimento que eu abrigava contra certa pessoa. Isso ajudou-me a ver que o bem espiritual tem de tornar-se parte da consciência, neutralizando qualquer aparente atividade do mal na mente humana. A questão, porém, permanecia: Por que, quando não mais procurava cura física, mas, sim, estava inteiramente ocupada com algum vislumbre espiritual, dava-se a cura física?
Algum tempo depois, encontrei a resposta, mas, como sempre, não quando eu a procurava. Estudava a Ciência Cristã de forma intensa a fim de aumentar minha compreensão espiritual. A resposta era simples, porém profunda: o que chamamos de cura física vem a ser o conceito atual que a mente humana tem do bem espiritual.
Na cura espiritual, a visão limitada e egocêntrica acerca de Deus e do homem como que baseados na matéria cede, através do sentido espiritual, ao Cristo, a manifestação do Espírito, o bem, ilimitado e desimpedido. Alguma faceta do pensamento mortal, limitado e temeroso, fica destruída e a consciência humana enche-se, até certo ponto, do bem espiritual. Mas a transformação total do pensamento humano não ocorre num momento. Embora esteja se espiritualizando, a consciência humana ainda retém muitos de seus conceitos limitados.
Vistas na perspectiva correta, as alterações físicas que ocorrem pela cura espiritual ajudam a convencer a consciência humana, de forma que o possa entender, do quanto é prático e verdadeiro o poder do Cristo para curar e salvar a humanidade. Tais mudanças dão prova de que as supostas leis cuja pretensão é a de que a matéria possa dar ou tirar o bem, são subjetivas por natureza e, portanto, inverídicas, já que pretendem ser bem objetivas. Sendo assim, o honesto pesquisador da verdade e do bem não tem outra escolha exceto a de procurar o bem no reino da Mente ilimitada, em vez de na matéria.
A Mente é de fato Tudo-em-tudo. Partindo dessa premissa, afirmamos a onipotência e a infinidade de Deus, o bem, e negamos as ilusões dualistas dos sentidos materiais. Assim é que começamos a curar.
As provas externas da cura espiritual também podem ser consideradas, com acerto, o símbolo de fatos espirituais. Os pães e peixes eram o símbolo tangível da provisão do bem espiritual disposto por Deus para o homem. A cura do leproso, realizada por Jesus, era o símbolo visível da pureza inata do homem. (Ver Lucas 5:12, 13.) Mas, os pães e os peixes não constituíam a provisão espiritual em si e a pele limpa não era a pureza inata do homem. Eram símbolos dos fatos espirituais, mais ou menos como os números são símbolos de certos conceitos matemáticos e as palavras, de certas idéias. Enquanto necessários, os símbolos são úteis, especialmente como meios de chamar a atenção para os fatos subjacentes e como auxílio para que os compreendamos.
Se confundimos o símbolo físico com o fato divino, perdemos de vista a natureza puramente espiritual do bem divino. Aí, voltamos à crença “do bem sobre uma base material” e o aceitamos como nosso modelo, com todo o seu séquito de limitações. A idéia espiritual do bem infinito é o modelo perfeito, invariável e imortal porque é governada, para sempre, pelo Princípio imortal, a Mente infinita. Quando essa idéia predomina no pensamento do sanador e do paciente, ocorre a harmonia física e não pode haver recaída, já que essa idéia só pode aparecer em símbolos como condições humanas estáveis e harmoniosas. (Ter o bem finito como nosso modelo, só poderia levar à instabilidade.) Ciência e Saúde declara: “Precisamos formar modelos perfeitos no pensamento e contemplá-los continuamente, senão nunca os esculpiremos em vidas sublimes e nobres.” Ibid., p. 248.
Estaremos nós demonstrando que, pela influência da Ciência Cristã, levamos vidas livres de doença, carência e pecado, a fim de melhor servir a Deus e ao homem? Se mostrarmos a outros que estamos interessados principalmente em benefícios físicos, será que poderemos esperar que aqueles que genuinamente procuram o bem se convençam do cristianismo da Ciência Cristã? Não poderiam eles pensar que os Cientistas Cristãos são hipócritas, que negam a matéria na esperança de obter melhores condições materiais?
Quando o modelo perfeito do bem espiritual predomina em nosso modo de pensar e os benefícios materiais dão provas desse bem espiritual, podemos estar certos de que estamos nos firmando na rocha, Cristo. Quando nossa fidelidade está sendo testada, podemos dizer com convicção: “Para onde mais é que iremos? Só a Ciência Cristã revela a verdade do bem espiritual.”