Qual é o tão aguardado veredicto? “Inocente”, é claro. Muitas vezes, tentei imaginar a que se assemelharia estar sentado num tribunal à espera do veredicto de um corpo de jurados ou da decisão de um juiz. Que onda de alívio e alegria deve invadir o réu inocente que ouve esta palavra de libertação e livramento: “Inocente!”
O indivíduo sincero que ama a Deus e confia em Deus pode exercer sistematicamente seu direito ao veredicto “inocente”. Alguém, no entanto, poderá perguntar: “Inocente de quê? Nunca cometi crime algum.” Estar livre de culpa significa, porém, muito mais do que meramente a certeza de que não se cometeu nenhum ato ilegal.
Quem dirá que nunca sentiu remorso, arrependimento ou pesar com relação a erros e julgamentos passados? Quem acreditará ter sido sempre tão bondoso, cuidadoso e atencioso como gostaria de ter sido? Quem terá a certeza de nunca haver sido falso, invejoso e crítico? Poucos terão alcançado chegar a tão elevado ideal, se é que alguém dirá que o conseguiu. Estudantes de Ciência Cristã, no entanto, constatam que, por meio de consagrado esforço, podem conseguir muito nesse sentido.
Por que isso torna possível? Porque, de acordo com os ensinamentos desta religião cristã e sanadora, o homem — termo genérico que inclui você, eu e todos os demais — é, na realidade, o descendente perfeito de seu Pai perfeito, Deus. Portanto, o homem não é físico, apesar de assim parecer humanamente. O homem é a expressão de Deus, ou o Espírito, e é, portanto, espiritual. E, apesar de no presente parecermos seres físicos, temos o direito, divinamente outorgado, de negar todas as formas de mal, reconhecendo que não podem pertencem. Falsos traços de caráter são ilegítimos — não podem pertencer a um filho de Deus. O que não se origina em Deus — e isto inclui todo tipo de mal — não nos pertence. O esforço persistente de utilizar estas verdades nos auxiliará a demonstrar cada vez melhor nossa natureza espiritual divinamente outorgada.
Mesmo que alguém seja, por ora, criminoso perante a lei, também tem o direito (e a responsabilidade) de se reformar e regenerar por meio do Cristo, a Verdade, abandonando o pecado e corrigindo seus pensamentos e ações errados. Ninguém está separado da graça salvadora de seu Pai sempre bondoso e clemente. Isto não significa estar isento de corrigir o erro, quer este seja grande quer pequeno. Até que ponto progrediríamos em elevar nossa vida a um plano mais avançado de espiritualidade e integridade se nos fosse permitido simplesmente vaguear, convencidos, na crença equivocada de que, como Deus é Amor, automática e livremente perdoará todos os nossos pecados? Como se simplesmente pudéssemos dizer “Sinto muito”, e então continuar a repetir a falta? Em Ciência e Saúde Mary Baker Eddy escreve: “Enxertar a santidade na impiedade, supondo que o pecado possa ser perdoado enquanto não tiver sido abandonado, é tão insensato quanto coar mosquitos e engolir camelos.” Ciência e Saúde, pp. 201–202.
Isto, porém, não significa permanecer desolados e desanimados porque temos crenças pecaminosas a vencer. Ao contrário, o propósito da Ciência Cristã é deixar claro que, pelo fato de ser o descendente puro e inocente de Deus, o homem está “inocente” de pecado. E cientificamente podemos dar provas desta individualidade impecável.
Quem ou o que, então, peca e se sente culpado? Somente o falso sentido de individualidade, que é mortal e está sujeito às tentações constantemente apresentadas pelos sentidos físicos. Precisamos rejeitar o conceito incorreto a nosso respeito, que os sentidos tentam incutir-nos. Então começamos a abandonar a crença equivocada de que somos identidades temporais sujeitas à deterioração e morte — em outras palavras, de que somos mortais culpados. Não o somos, de modo algum, mas precisamos compreendê-lo e comprová-lo. Agora mesmo, temos o consolo e a esperança de entender que, à medida que expomos e destruímos o pecado, e crescemos na compreensão espiritual de nossa unidade com a Mente divina como sua expressão, podemos vencer a mortalidade. Durante esse processo de aprendizagem é útil reconhecer e afirmar o seguinte: “Não sou o que a mente mortal diz que sou. Sou o filho perfeito de meu Pai-Mãe perfeito.” À medida que nos apegamos firmemente a esse conceito correto de identidade, a batalha para eliminar as demoníacas sugestões de impureza, egoísmo, ganância, luxúria, temor — todo o sombrio pacote de mentiras que tenta apossar-se de nossa identidade — será recompensada com maior sucesso e resultados mais rápidos.
Em certas ocasiões, a verdade é imediatamente compreendida e a cura é rápida e completa. Em outras ocasiões, como a maioria de nós o sabe por experiência, a luta para provar nossa individualidade espiritual não é nem fácil nem rápida. É então que se exige esforço contínuo e diligente, para que o erro infrator fique derrotado. Essa verdade aplica-se tanto à correção de traços de caráter como à cura de doenças. Se quisermos demonstrar o poder sanador ensinado por Cristo Jesus é importante que, em ambos os casos, sejamos perseverantes e nos recusemos a deixar que nos acometa o desânimo.
Para acelerar nosso progresso é essencial ver que o mal aparente, ou o pecado, não faz parte de nós; perceber que, seja qual for sua natureza, o pecado é uma sugestão fraudulenta, não contém um mínimo de verdade e não precisamos aceitá-lo como se fosse o nosso pensamento. O mal não faz parte do ser do homem — nunca o fez e nunca o fará. Como o afirma Ciência e Saúde: Inteiramente separada da crença e sonho num viver material, está a Vida divina, que revela a compreensão espiritual e a consciência do domínio que o homem tem sobre toda a terra.” Ibid., p. 14.
S. Paulo reconheceu a natureza impessoal do mal, quando escreveu: “Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e, sim, o pecado que habita em mim.” Romanos 7:19, 20. Tivessse encerrado sua afirmação aí, poderíamos sentir-nos desamparados quanto à nossa capacidade de vencer o pecado. No entanto, mais adiante, ele conclui triunfante: “De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne da lei do pecado. Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte.” Romanos 7:25; 8:1, 2.
Quando nos libertamos da falsa crença de que somos pecadores mortais e apoiamos esta afirmação abandonando honestamente qualquer conduta que, porventura, venha a provocar sentimentos de culpa, encontramos a liberdade. Pode, então, ser nossa a indescritível alegria ulterior àquele tão aguardado veredicto que todos queremos ouvir: “Inocente!”
 
    
