No jardim de Getsêmani, Cristo Jesus pediu aos discípulos que vigiassem com ele, que permanecessem despertos e orassem. Ver Marcos 14:32–38. Jesus estava orando na escuridão para compreender o significado e o propósito que o Pai lhe reservara; para viver sua unidade com Deus, apesar da sufocante insistência com que o mundo o cercava, de que o mundo era tudo o que realmente havia. Em favor da humanidade, Jesus montou guarda à realidade divina que havia vislumbrado, e sua fidelidade o conduziu à ressurreição e a uma descoberta espiritual sem precedentes, ou, ao que poderia se chamar de “amanhecer” para a humanidade.
O clima mental da atualidade exige “vigilância”, clama pela lúcida consciência do poder e da presença eternos do Espírito. A sociedade parece cada vez mais inclinada a abandonar as questões espirituais porque as considera ultrapassadas ou desacreditadas e a optar pelas pretensas necessidades práticas, quer em relação à moralidade sexual, ao êxito comercial, à imagem política, quer à preservação de interesses nacionais. Apesar de ainda milhares de pessoas irem à igreja e abraçarem uma crença em Deus, a atmosfera mental parece dominada pelo argumento difundido de que tudo o que é essencial para a saúde e o progresso da humanidade será encontrado no aumento do conhecimento material.
Há uns setenta ou oitenta anos, nos Estados Unidos da América, uma forte consciência da constitucionalidade da liberdade religiosa e da santidade da vida espiritual serviu de baluarte contra a vã tentativa de tornar ilegal a prática da Ciência CristãChristian Science (kris´tiann sai´ennss). Hoje em dia, no entanto, a opinião médica, ao invés da religião, parece representar a autoridade máxima para a sociedade. (Um dos resultados é a crescente tentativa, nos Estados Unidos, de transformar em ofensa criminal, especialmente no caso de crianças, o confiar-se exclusivamente na Ciência Cristã para a cura, ou seja, o confiar-se somente em Deus e na oracão, conforme compreendidos na Ciência Cristã.)
Para todo aquele que dá valor à Ciência Cristã, esta é evidentemente a hora de estar desperto e vigiar. Mary Baker Eddy, ao comentar esse trecho do Evangelho de Marcos, pergunta: “Pode o vigiar, como o Cristo o exige, prejudicar-vos? Não pode.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 232. Ela continua explicando que, mediante a vigilância, tornamo-nos melhores se nos imbuímos do espírito do mandado do Cristo.
É evidente que não haveria razão para vigiar, se isto fosse simplesmente uma tentativa de escapar de algo negativo. O propósito da vigilância espiritual, no entanto, é o de assegurar que não seremos tentados nem desnecessariamente conduzidos a crer nas sugestões absolutamente mesméricas de haver vida sem Deus, sugestões que são tudo o que existe do mal.
Esse processo disciplinado de orar e vigiar ensina-nos a vencer em nós mesmos aquilo que negaria o Cristo, a Verdade, e nos faria duvidar de sua inevitável vitória nos corações dos homens. E é esta vitória individual, esta fidelidade, o que se faz tão essencial ao progresso da Ciência Cristã neste século. Com semelhante fidelidade estaremos preparados para ver a realidade presente, isto é, que o bem divino é o Tudo do ser, e dela participar. Isto naturalmente transforma em nada qualquer impressão temporária, falsa e marcante que talvez argumente estarem em ascendência o erro e a injustiça.
Ao vigiar, obtemos uma visão muito mais ampla e verdadeira da substancialidade e do poder da Verdade, de nosso relacionamento com ela, e da razão pela qual somos espiritualmente sustentados, mesmo quando as circunstâncias humanas parecem contrárias a um resultado justo. “A Ciência Cristã.”, ressalta a Sra. Eddy, “está despontando sobre uma época material.” Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 546. Como Fundadora da Ciência Cristã, a própria Sra. Eddy defrontou-se com resistência, mas, na realidade, por meio da vigilância que lhe proporcionou discernimento espiritual, viu vencidas confusão, incompreensão do público e opressão quase que insuperáveis. Nunca duvidou que o advento da Ciência Cristã previa para a humanidade a época espiritual que avança.
Quando lembramos que nem nós como indivíduos nem a causa da Ciência Cristã dependemos da situação como a descreve a mente mortal (o falso conceito de haver inteligência na matéria), recebemos renovada inspiração da verdadeira percepção e visão que nos é revelada. Percebemos que as coisas não são, de modo algum, o que essa falsa consciência apresenta. Ao contrário, a Mente divina, Deus, mostra-nos Seu reino da realidade divina, onde a bondade e a justiça são naturais e inquestionáveis, onde o homem está, na verdade, mantido no plano do Pai e expressa Seu propósito inteligente. Esta compreensão espiritual desfaz o errôneo sentimento de sermos uma pequena minoria e proporciona alguma compreensão sobre o efeito, a majestade espiritual e o poder irresistível do princípio-Cristo, onde quer que este tenha se manifestado no decorrer da história.
Afinal de contas, não é verdade que o homem seja apenas um mortal. O homem é a imagem de Deus, a expressão da infinita Mente divina. Nem é tampouco verdade que esse conceito da natureza espiritual do homem fique perdido na agressiva lavagem cerebral de uma era materialista. Quando abrimos os olhos espiritualmente para ver, apercebemo-nos de que algo totalmente diferente está acontecendo. Até mesmo sob o ponto de vista humano aumenta o número de pessoas que se rebelam contra a exigência de aceitar o homem como totalmente material. Algumas pessoas estão começando a perceber o efeito destrutivo que este ponto de vista limitado exerce sobre a sociedade. Está mais aguçada do que em épocas anteriores a compreensão das implicações impossíveis do materialismo sobre o espírito humano. Em conseqüência, há uma fome e um desejo por espiritualidade como nunca antes houve.
A Sra. Eddy escreve: “Que importa se o velho dragão lançar um novo dilúvio para afogar a idéia-Cristo? Ele não poderá abafar tua voz com o seu rugido, nem afundar novamente o mundo nas águas profundas do caos e da antiga noite. Nesta época a terra ajudará a mulher; a idéia espiritual será compreendida.” Ibid., p. 570. A oração persistente impede o obscurecimento mesmérico deste fato e descobre cada vez mais à consciência humana a realidade sobre o relacionamento do homem com Deus.
Esta é, na verdade, uma época de vigiar, trabalhar e orar: de aliarse ao Cristo sanador. Talvez se exija oração inabalável em meio às trevas. A fidelidade, porém, capacitará cada um a ver o amanhecer da espiritualidade pela qual a humanidade tem almejado desde o início, e a estar presente nesse amanhecer. O autor do livro de Habacuque falou em vigiar para ver o que Deus lhe diria, e profetizou: “A terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.” Habac. 2:14.
