Em algumas famílias as coisas correm suavemente. Em outras a paz é ameaçada, quando os membros se encontram altercando, até mesmo culpando, criticando e menosprezando-se uns aos outros. Em tais circunstâncias, bem se pode dizer: “Como posso eu amar minha vida, quando me mostram tão pouco respeito, consideração e afeição?” É grande a tentação de ceder à cólera ou ao medo, ou ainda, à derrota. Existe, contudo, uma alternativa: volver-se a Deus em oração.
Mediante a oração, começamos a perceber que não estamos desamparados. Um poder maior do que toda arrogância, mesquinhez ou egoísmo está conosco. Esse poder é Deus. E Deus é bom, está disponível a todos e ama a todos imparcialmente. Sua promessa vem a nós exatamente como veio a Josué: “Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares.” Josué 1:9.
O propósito de Deus para cada um de nós é bom. Nenhuma pessoa ou poder pode impedir que a bondade de Deus seja vista e sentida, quando, em espírito de oração, reconhecemos que o homem, a expressão de Deus, é a verdadeira identidade de cada um. Deus é Mente, e podemos calmamente dar ouvidos às idéias fortalecedoras da verdade, que nos capacitam a enfrentar, com coragem e segurança interior, tudo quanto queira obstruir a paz que Ele transmite. Ele incute a sabedoria de que necessitamos para saber como enfrentar os comentários depreciativos ou a censura dos outros. Muitas vezes, a melhor coisa a fazer, em tais situações, é ficar quieto e insistir silenciosamente na perfeição indefectível do homem, como reflexo de Deus — e depois ir adiante, como se nada tivesse acontecido. Contudo, se a Mente divina nos levar a dizer ou fazer algo para corrigir a situação, podemos volver-nos a essa mesma Mente divina em busca do tacto, da força, da humildade e, às vezes, até mesmo do humor, e sermos assim corteses, tanto quanto firmes, naquilo que dizemos e fazemos.
É algo glorioso saber que Deus ama a todos nós. Seu amor nos sustenta e nos mostra a maneira espiritualmente correta de lidar com as ameaças maldosas contra a harmonia da família. O amor de Deus não é algo distante, mas está justamente aqui, e agora. Envolve-nos com ternura maior do que a da mãe mais carinhosa ao carregar seu filhinho. Protege-nos de ataques ferinos com segurança maior do que aquela que o pai mais cuidadoso pode proporcionar a seu filho. Quando começamos a compreender o Amor envolvente de Deus, vemos essas provas de Sua presença protetora.
A verdade é que Deus é perfeito e que o homem é sempre Seu reflexo. Deus é Amor. Logo, o homem precisa coerentemente ser terno. O homem não é um mortal, sujeito a caprichos ou a mau humor. Deus é Verdade. Assim, o homem, nosso verdadeiro eu, tem de ser puro. E, uma vez que a origem do homem está em Deus, o Amor divino, o homem não pode ser contaminado por tendências hereditárias de temperamento. Governado pelo Princípio divino, o homem nunca pode perder o autocontrole ou ser outra coisa senão bom. O discernimento espiritual capacita-nos a esquecer incidentes passados, que despertam raiva, e leva-nos à quietude imutável que está à nossa disposição, quando mantemos na consciência a verdade de que a única realidade sempre foi o controle excercido por Deus sobre o homem. Nosso reconhecimento de que, na verdade, o homem nunca esteve fora do cuidado carinhoso de Deus, pode contribuir para remover cicatrizes de quaisquer experiências amargas, que talvez nos tentem a cultivar uma perspectiva detestável da vida. Esses sentimentos negativos podem ser eliminados, à medida que reconhecemos com gratidão que nada, a não ser o Amor divino, jamais nos tocou, pois nossa verdadeira identidade permanece eternamente na presença de Deus.
Essa verdade sobre Deus e o homem pode trazer serenidade, não importa o que pareça estar se passando ao nosso redor. O mal pretende agir lançando uma pessoa contra a outra, insuflando uma batalha contínua entre elas. No entanto, por muito agressiva que seja a pretensão, o fato é que Deus é a Mente única, o único poder — o Amor divino sempre presente. O medo, o egoísmo e a odiosidade não têm poder verdadeiro nem realidade.
O livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de autoria de Mary Baker Eddy, a qual descobriu e fundou a Ciência CristãChristian Science (kris’tiann sai’ennss), desarma o medo ao declarar: “A compreensão, por pouca que seja, do Todo-poder divino, destrói o medo e firma os pés na verdadeira vereda — a vereda que conduz à ‘casa não feita por mãos, eterna, nos céus’.” E as frases seguintes desembaraçam-se da odiosidade: “O ódio humano não tem mandato legítimo nem reino. O Amor está entronizado.” Ciência e Saúde, p. 454. O adquirirmos domínio sobre a crença de que a animosidade possa controlar nossa vida, contribui para extirpar o medo de estarmos sendo tratados com injustiça.
O desentendimento que arruína a felicidade de uma família, é uma forma de sugestão hipnótica, e temos os meios para combatê-la. Ciência e Saúde insiste: “Devemos familiarizar-nos mais com o bem do que com o mal e proteger-nos contra as crenças errôneas com a mesma cautela com que trancamos nossas portas contra a penetração de ladrões e assassinos.” Ibid., p. 234.
Paulo explicou com clareza a maneira de tratar as sugestões hipnóticas, quando escreveu: “Embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo.” 2 Cor. 10:3–5. Disso se conclui que nossa proteção está em pautarmos nosso modo de pensar nos preceitos crísticos. A consciência, fortalecida pela verdade sobre Deus e o homem, é confiante, calma e segura.
Quanto mais agressivo for o tumulto, com tanto mais seriedade temos de procurar entender o controle absoluto que Deus exerce em toda situação. Apegando-nos ao fato de que Ele é o Pai de todos e que todo indivíduo, em verdade, expressa a Mente divina, contribuiremos para que se manifeste uma fraternidade harmoniosa, baseada na unidade da Mente. O saber que a Mente divina não transmite pensamentos receosos, egoístas, cruéis, mostra-nos que tais atitudes não têm origem verdadeira. Portanto, não existem pensamentos tais que pretendam utilizar uma pessoa como instrumento, e outra como alvo.
Se pensamos que as altercações e as censuras existem há tanto tempo a ponto de se tornarem parte indelével da natureza de uma pessoa, estamos deixando de lado o poder do impulso divino de levar “cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. O impulso da Mente divina fortalece nossa fé com a compreensão de que “para Deus tudo é possível” Mateus 19:26., conforme Jesus ensinou. Podemos ter fé de que é possível, mesmo para o temperamento mais rude, mudar para melhor. E podemos reconhecer a verdadeira natureza do homem com tanta clareza que nossos pensamentos propiciarão a atmosfera favorável a uma transformação.
Deus, o Espírito, impele-nos a ser mentalmente flexíveis — a estar dispostos a abandonar os ressentimentos e acatar o ponto de vista da outra pessoa, em vez de nos tornarmos inflexíveis e indiferentes. Ou talvez precisemos ficar firmes, com coragem, sem ceder. O impulso divino que percebemos através da oração, capacita-nos a sentir a presença de Deus, a seguir a exigência e a promessa destas linhas de um hino bem conhecido:
Ouça Sua voz acima da tormenta:
Eu não te abandonarei;
Em Minha mão teu nome está gravado,
Hei de salvar a ti e aos teus.Christian Science Hymnal, n° 76.
À medida que aceitarmos essa promessa, poderemos apegar-nos mais facilmente à verdadeira masculinidade e feminilidade da criação de Deus e perceber a genuína identidade espiritual de cada um — inclusive daquele que nos faz sofrer.
Podemos corresponder ao impulso do Princípio divino, o Amor, de nos sentirmos em paz, apesar dos problemas de família semelhantes a uma “fornalha ardente”. Podemos viver o amor, sendo mais longânimos, mais amorosos e pacientes. Quando essas qualidades se desenvolvem em nós, elevam-nos acima das sugestões atormentadoras da mente mortal.
Referindo-se ao Apocalipse, capítulo 21:9, a Sra. Eddy escreve: “A beleza desse texto está em que a soma total da miséria humana, representada pelas sete taças angélicas cheias dos sete flagelos, tem plena compensação na lei do Amor. Nota isto — que a mesma mensagem, ou pensamento de vôo célere, que verteu ódio e tormento, trouxe também a experiência que por fim elevou o vidente a ver a grande cidade, cujos quatro lados iguais foram estabelecidos pelo céu e que propiciam o céu.” Ciência e Saúde, p. 574.
Ao passar por experiências cheias de “ódio e tormento”, nossos esforços assíduos por sermos gentis, atentos e equilibrados se manifestarão com mais presteza, se entendermos que o amor, a clareza e o perfeito equilíbrio são qualidades da Mente divina, que o homem reflete. Essas qualidades vêm de Deus em medida inexaurível e enriquecem nossa vida de modo tal que podem ser vistas e sentidas — ainda que o problema total não ceda rapidamente.
O Salmista disse: “Mostra-me um sinal do teu favor.” Salmos 86:17. Podemos contar com “um sinal” do Seu “favor” se aplicarmos toda a sabedoria e todo o amor de que somos capazes. Esses sinais vêm de diversas maneiras para nos encorajar, quando a situação é muito difícil.
Uma senhora lembra-se de sinais do favor de Deus para com ela em ocasiões de desespero, tal como oásis num deserto de angústia. Certa feita, o sinal foi o esplendor das asas coloridas de um pássaro que se precipitou por um instante diante do parabrisa de seu carro. Noutra ocasião, veio numa coluna cômica de gansos em “marcha de ganso” ao longo de uma estrada rural, onde nunca dantes tinha visto gansos. E, ainda noutra ocasião, foi uma carta inesperada de uma pessoa amiga, que lhe escrevera exatamente o que ela precisava ouvir.
Esses incidentes podem parecer insignificantes. Entretanto, trouxeram-lhe esperança, o bastante para arrancá-la da depressão e elevála à alegria, através do vislumbre da beleza ou da comédia ou da ternura que lhe transmitiram. Reconheceu-os como sinais do amor de Deus. Trouxeram esperança — a esperança de que ela necessitava para ir adiante com dignidade e um coração muito mais leve.
A animosidade e a altercação têm de, finalmente, se dissolver e desaparecer ante o amor redentor de Deus. Nesse ínterim, quanto mais reconhecermos o poder e a bondade de Deus, tanto mais veremos a impotência do mal para manipular alguém e induzi-lo ao hábito perverso e degradante de menosprezar outra pessoa. Um sentido mais elevado e mais seguro de harmonia surge para a família, quando desponta a compreensão de que o verdadeiro ser é perfeito, completo e gentil, porque reflete Deus, a Vida divina e o Amor. Com essa capitulação, vem a compreensão espiritual de que as experiências humanas da vida nos dão a oportunidade de aprender a amar a Deus e ao homem. E descobriremos também que amamos nossa vida.
 
    
